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Macacos bonobos na Reserva Lola Ya Bonobo, na República Democrática do Congo | Pixabay
Macacos bonobos na Reserva Lola Ya Bonobo, na República Democrática do Congo| Foto: Pixabay

Quão generoso pode ser um macaco? É uma questão difícil para os cientistas, mas a resposta é capaz de nos dizer muito sobre nós mesmos.

Pessoas em todas as culturas podem ser generosas, seja emprestando o celular para um colega de escritório ou compartilhando um pedaço de antílope com uma família faminta. 

Embora seja fácil insistir em nossa capacidade para a guerra e a violência, os cientistas veem a generosidade como uma característica notável de nossa espécie. “Uma das coisas que se destacam sobre os seres humanos é quanto ajudamos os outros”, diz Christopher Krupenye, pesquisador de comportamento de primatas da Universidade de St. Andrews, na Escócia. 

Essa generosidade pode ter sido crucial para a sobrevivência de nossos primeiros ancestrais, que viviam em pequenos grupos de caçadores-coletores. 

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“Quando nossas próprias tentativas de encontrar comida não eram bem-sucedidas, confiávamos em outras pessoas para compartilhar a delas conosco – se isso não acontecesse, passávamos fome”, explica Jan Engelmann, pesquisador da Universidade de Göttingen. 

Para entender a origem desse impulso – conhecido como comportamento pró-social –, os pesquisadores se voltaram para nossos parentes vivos mais próximos. Um novo estudo envolvendo macacos bonobos, por exemplo, sugere que as raízes da generosidade humana são profundas, mas só chegaram à capacidade plena ao longo da evolução de nossa espécie. 

Generosos até certo ponto

Cerca de sete milhões de anos atrás, nossa linhagem se separou dos ancestrais dos chimpanzés e de seus primos de espécie, os bonobos. Os chimpanzés e os bonobos compartilham um ancestral comum que viveu cerca de dois milhões de anos atrás. 

Essas duas espécies aparentadas de macacos parecem quase idênticas ao olho destreinado. No entanto, desenvolveram algumas diferenças intrigantes em seu comportamento, incluindo quais objetos – alimentos ou ferramentas – os levam a se comportar com generosidade. 

Recentemente, Krupenye e seus colegas testaram a generosidade dos bonobos que vivem no santuário de Lola Ya Bonobo, na República Democrática do Congo. 

Eles provaram ser generosos até certo ponto. 

Os pesquisadores criaram uma experiência capaz de fornecer fortes evidências de que os bonobos poderiam dar coisas uns aos outros simplesmente por generosidade, em vez de serem pressionados a fazê-lo ou de esperar algum tipo de retorno imediato. 

“Eles fariam alguma coisa se não houvesse qualquer benefício?”, perguntou Brian Hare, primatologista da Universidade Duke que ajudou a conduzir o estudo. 

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Para o experimento, os pesquisadores se aproveitaram do fato de que os macacos de Lola Ya Bonobo aprenderam a abrir nozes de palma com pedras. Se não tiverem pedras, precisam roer as nozes por um longo tempo para tirá-las da casca. 

Os cientistas colocaram um bonobo em uma gaiola com cinco nozes. Em uma jaula adjacente, um segundo bonobo – um estranho para o primeiro – tinha apenas duas pedras. As jaulas eram conectadas por uma janela. 

Os bonobos estavam livres para levar presentes até a janela e dar um ao outro – ou para ignorar o vizinho. 

Os pesquisadores descobriram que os bonobos que tinham as nozes provaram ser generosos. Em 18 por cento dos testes, eles entregaram uma noz para o vizinho através da janela, uma taxa que mostrou sua disposição de dar comida aos outros. 

Os bonobos da outra jaula, porém, quase nunca retornaram o favor. Eles se recusaram a passar uma de suas pedras pela janela. 

Generosidade moldada

Em outro estudo, Krupenye experimentou a falta de generosidade em primeira mão. 

Cada bonobo se sentava em uma gaiola, com uma grade na frente da porta. Então, um pesquisador colocava um pedaço de pau na jaula perto do bonobo e saía. 

Depois, Krupenye chegava e implorava pelo bastão. Ele estendia o braço, chamando o nome do bonobo. 

Em raras vezes os bonobos deram o bastão a Krupenye. Na verdade, às vezes eles pareciam até querer provocá-lo. 

“Eles empurravam o pedaço de pau um pouco pela tela e depois, quando eu tentava alcançar, eles puxavam para trás”, conta Krupenye. 

Em setembro, Krupenye e Hare publicaram seus resultados, com outro autor, Jingzhi Tan, da Universidade da Califórnia, em San Diego, no periódico Proceedings of the Royal Society. 

“É um resultado realmente impressionante”, diz Felix Warneken, psicólogo da Universidade de Michigan que não participou do estudo. O que torna tudo mais surpreendente é que, em estudos envolvendo chimpanzés nas mesmas situações, eles vão fazer o oposto. 

“Os chimpanzés são realmente relutantes na hora de dividir comida”, conta Warneken. 

Por outro lado, quando se trata de ferramentas, acabam sendo generosos. Eles darão pedras a outros chimpanzés. Na experiência em que imploramos pelo bastão, eles ajudam os humanos. 

“As mesmas espécies que não vão ajudar você a conseguir comida, acabarão ajudando a conseguir um objeto”, diz Hare. 

É possível que os caminhos evolutivos separados dos bonobos e dos chimpanzés tenham moldado sua generosidade. Os chimpanzés vivem em habitat onde a comida em geral é escassa. Eles têm que competir por alimentos, e algumas vezes grupos de chimpanzés até se envolvem em conflitos por causa de território. 

Os chimpanzés também aprenderam muitas estratégias inteligentes para usar ferramentas para obter comida. Além de quebrar nozes com pedras, alguns matam outros macacos com lanças de madeira e capturam cupins com varetas cuidadosamente esculpidas. 

Os bonobos, ao contrário, vivem em florestas onde a comida é muito mais abundante. “É o paraíso – os alimentos caem das árvores”, diz Warneken. 

Adaptando-se a esse ecossistema, os bonobos podem ter se tornado mais tolerantes uns com os outros. Eles reconhecem o valor comum da comida e não sentem o desejo de acumulá-la. 

Os bonobos, no entanto, também parecem menos adeptos das ferramentas. Na natureza, nunca foram observados quebrando nozes com pedras ou caçando cupins com um pedaço de pau. 

“Talvez simplesmente não tenham uma compreensão profunda das ferramentas”, explica Warneken. 

Os chimpanzés podem ter dificuldade de anular suas tendências egoístas quando se trata de comida. Por outro lado, Warneken afirma que eles são capazes de reconhecer a importância das ferramentas para os outros chimpanzés. 

Warneken e outros pesquisadores realizaram estudos semelhantes em crianças. Eles descobriram que até mesmo bebês oferecem comida e objetos para os adultos espontaneamente. 

O trabalho de Krupenye e outros deixa claro que os seres humanos não são únicos em sua generosidade. É possível que nossos ancestrais comuns com os bonobos e os chimpanzés já fossem pró-sociais, pelo menos até certo ponto. E agora, nossa generosidade vai além do que ele e outros cientistas observaram em nossos parentes mais próximos. 

“Somos muito bons em perceber quando outras pessoas podem se beneficiar de algo”, diz Hare. 

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Essa versatilidade pode ter evoluído no início de nossa linhagem, produzindo traços que encorajavam mais compartilhamento. Isso leva as crianças a ter inclinações generosas sem qualquer treinamento. 

Warneken observa que, por volta dos cinco anos, as crianças se tornam mais conscientes de suas ações pró-sociais. Elas sabem que ser generoso é bom para sua reputação. 

É possível que depois que a tendência a ser generosos evoluiu em nossos ancestrais, eles desenvolveram um cérebro capaz de entender as normas. Por sua vez, os humanos passaram a ver os benefícios de ser generoso. 

“Não é mais o mesmo tipo de motivação que encontramos em outros animais”, afirma ele. “Agora há uma obrigação de compartilhar com os outros”. 

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