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A estratégia dos progressistas é criar um novo status quo — a chamada “discriminação antirracista” — e usar a cultura para coagir a maioria a aceitar isso.
A estratégia dos progressistas é criar um novo status quo — a chamada “discriminação antirracista” — e usar a cultura para coagir a maioria a aceitar isso.| Foto: Bigstock

Nos Estados Unidos, as imagens da era da segregação racial estão marcadas na mente daqueles que a viveram, bem como de todos os que assistiram a uma hora de história depois da vitória do movimento pelos direitos civis: bebedouros reservados a brancos ou negros, parques e instalações de recreação divididos por raça, ruazinhas de cidades do interior com cinemas, restaurantes e mercados só para brancos.

Felizmente, tudo isso acabou em meados da década de 1960— pelo menos era o que parecia. Recentemente, a segregação voltou a ser praticada, mas dessa vez sob o disfarce da “igualdade racial”. Como contei em 2020, órgãos governamentais de Seattle, em Washington, entre eles a biblioteca pública, a procuradoria e o órgão que cuida dos veteranos de guerra começaram a separar os funcionários de acordo com a raça em diversos programas de treinamento em diversidade, de modo que os brancos possa “aceitar a responsabilidade por seu racismo” e minorias possam se proteger “de qualquer dano em potencial que possa ser causado em conversas inter-raciais”.

Este ano, o novo segregacionismo chegou a um novo patamar: o da educação e das políticas de saúde pública. Em Denver, a Centennial Elementary School lançou a “Noite de Diversão para Famílias de Cor” como parte de seu programa de igualdade. Em Chicago, a Downers Grove South High School promoveu o “Passeio para Alunos de Cor”, também como parte de sua iniciativa pró-igualdade. Nas palavras das autoridades educacionais de Denver, os gestores implementaram atividades segregadas para “criar um espaço de pertencimento” que, dizem eles sem qualquer ironia, “pretende nos unir, não nos dividir”.

O novo segregacionismo também foi implementado no sistema de saúde pública, com órgãos federais e estaduais negando vacinas e tratamento contra a Covid-19 com base na raça das pessoas. Essa moda teve início ano passado, quando Vermont distribuiu vacinas a todos os membros das minoridades raciais com mais de 16 anos, negando-as para brancos sem especificar a idade ou as condições de saúde. Mais tarde, Nova York, Minnesota, Utah e o governo federal adotaram políticas que discriminavam os brancos explicitamente, limitando o tratamento com base na raça. (Diante da indignação pública, Minnesota recentemente voltou atrás nessa decisão, enquanto Utah anunciou estar “reavaliando” a medida. Mas tanto em Utah quando em Nova York as medidas permanecem em vigor).

A justificativa mais comum para a novo segregacionismo é a de que as minorias raciais sofrem de disparidades que devem ser corrigidas por meio da “discriminação positiva”, tratada como uma solução para o racismo histórico norte-americano. Na prática, contudo, essas medidas são irracionais, cruéis e perversas. De acordo com os critérios de Minnesota, por exemplo, o estado teria de priorizar o tratamento da Covid-19 de uma mulher negra saudável de 18 anos, ignorando um homem branco de 64 com hipertensão e que, diante das circunstâncias, corre um risco muito maior de morrer. As novas políticas raciais se sobrepõem à velha ciência da medicina, com consequências potencialmente catastróficas para os grupos raciais desfavorecidos.

Como esse tipo de coisa é possível? Juristas já deixaram claro que todos esses programas são explicitamente inconstitucionais: eles violam a Cláusula de Proteção da Décima Quarta Emenda e também a Lei de Direitos Civis, que veda a segregação racial de qualquer tipo. Ainda assim, o novo segregacionismo, aos poucos, se infiltra por todas as esferas da administração pública. A estratégia para os progressistas que apoiam isso é criar um novo status quo — a chamada “discriminação antirracista” — e usar o poder cultural que eles têm para coagir a maioria a aceitar isso.

Por enquanto eles estão tendo sucesso. Grupos conservadores como a Southeastern Legal Foundation e a Parents Defending Education têm entrado na justiça contra esse novo segregacionismo, mas levará anos até os casos serem julgados nos tribunais federais. Enquanto isso, os progressistas provavelmente solidificarão a nova postura, transformando a política da “segregação por justiça social” em algo normal. Se eles forem bem-sucedidos, isso fará com que o país volte no tempo, revivendo velhos antagonismos e inutilizando as proteções aos direitos civis previstos na Constituição.

Os eleitores deveriam estar indignados e deveriam trabalhar para mudar esse quadro. Sem dúvida há uma maioria de norte-americanos que se opõem à discriminação racial imposta pelo Estado. Se esses norte-americanos não falarem publicamente sobre isso, contudo, o novo segregacionismo continuará contaminando nossas instituições – ameaçando as bases da lei de direitos civis e os princípios fundamentais do governo e da sociedade norte-americanos.

Christopher F. Rufo é membro do Manhattan Institute e editor do City Journal.

©2022 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês 
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