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Solitários e desprovidos dos valores "burgueses", os jovens norte-americanos têm hoje as maiores taxas de suicídio e depressão da história.
Solitários e desprovidos dos valores “burgueses”, os jovens norte-americanos têm hoje as maiores taxas de suicídio e depressão da história.| Foto: Pixabay

Eis aqui algumas estatísticas tristes:

  • Nos Estados Unidos, entre 1946 e 2006, a taxa de suicídio quadruplicou para homens entre 15 e 24 anos e dobrou para mulheres da mesma faixa etária.
  • Em 1950, a taxa de suicídio nos Estados Unidos era de 11,4 casos para cada 100 mil habitantes. Em 2017, era 14.
  • De acordo com Grant Duwe, diretor de pesquisas do Departamento Correcional de Minnesota, nos anos 1980 houve 32 tiroteios em massa (que ele define como incidentes nos quais quatro ou mais pessoas são mortas pelo uso de armas num intervalo de 24 horas). Nos anos 1990, houve 42. Na primeira década deste século, houve 28. Em toda a década de 1950, quando havia menos controle de armas, houve apenas um. Cinquenta anos antes, em 1900, não houve nenhum.
  • O noticiário de saúde da Reuters em 2019 disse que “pensamentos suicidas, depressão grave e taxas de ferimentos autoinfligidos entre os universitários norte-americanos mais do que dobraram na última década, de acordo com um estudo”. O coautor do estudo, Jean Twenge, professor de psicologia na Universidade Estadual de San Diego, disse que “isso mostra que há algo de muito errado na vida dos jovens”.

Esses dados se aplicam não só aos norte-americanos. Como escreveu o analista social Kay Hymowitz no City Journal em 2019:

A solidão, dizem os especialistas em saúde pública, está matando tantos jovens quanto a obesidade e o cigarro. (...) Os alemães são solitários, os franceses bon vivants são solitários e até os escandinavos – o povo mais feliz do mundo, de acordo com o Relatório da Felicidade das Nações Unidas — são solitários também. A primeira-ministra britânica Theresa May recentemente nomeou um “ministro da solidão” (...) pense no Japão, país à beira de uma epidemia de kodokushi, que pode ser traduzido como “morte por solidão”. Os jornais japoneses publicam regularmente histórias sobre idosos cuja morte só é notada depois que o cheiro de carne em decomposição alerta os vizinhos.

Apesar de as pessoas terem mais dinheiro, saúde e moradia, mais educação e viverem mais do que nunca, elas — sobretudo os jovens — são as mais infelizes desde que os registros tiveram início.

Por que isso foi acontecer?

Há vários motivos. O uso cada vez maior de drogas ilegais e o uso indiscriminado de drogas legais e uma interação humana menor por causa do uso constante de celulares estão entre as explicações válidas mais citadas.

Entre as demais explicações menos válidas estão a competitividade, a ansiedade por conta de notas na escola, o capitalismo e a desigualdade de renda. E há ainda o medo dos jovens de que, por causa do aquecimento global, eles tenham um futuro triste, se é que terão um futuro.

Mas o maior motivo talvez seja a quase completa perda de valores e sentido ocorrida nos últimos 50 anos.

Vamos começar com os valores.

Os Estados Unidos – e boa parte do Ocidente, mas vou me restringir aqui aos Estados Unidos – foram fundados com base em dois conjuntos de valores: os judaico-cristãos e os americanos.

Essa combinação deu origem ao país mais livre, com mais oportunidades e mais influente da história mundial. Isso não é chauvinismo. É um fato assim entendido em todo o mundo. Por isso é que a França deu a Estátua da Liberdade aos Estados Unidos – e só aos Estados Unidos. Por isso é que as pessoas de todos os países da Terra queriam tanto migrar para os Estados Unidos – e ainda querem.

Entre os principais valores americanos está o Estado o mais reduzido possível. Ele permitiu que instituições não-governamentais — Kiwanis International, Rotary International e Lions Clubs International; clubes de leitura; escoteiros; ligas de boliche; sociedades musicais; e, claro, igrejas — criassem laços de amizade entre os norte-americanos, ajudando também os mais necessitados.

À medida que o governo se expandiu, contudo, muitos desses grupos não-governamentais foram reduzidos ou simplesmente desapareceram.

Outro conjunto de valores é chamado de valores “de classe média” ou “burgueses”. Entre eles estão o casamento antes dos filhos, o autossustento por meio do trabalho, a autodisciplina, a gratificação de longo prazo e o patriotismo.

Todos esses valores estão sob ataque por parte da elite norte-americana, e o resultado é o seguinte:

  • Um em casa 5 jovens norte-americanos não tem contato com o pai (sem incluir pais que morreram).
  • Em 2011, 72% das crianças negras eram filhas de mães solteiras. Em 1965, esse número era de 24%. Em 2012, 29% das crianças brancas eram filhas de mães solteiras. Em 1965, elas eram 3,1%.
  • A maioria dos filhos de millennials é de mães solteiras. E, de acordo com um estudo de 2018, os pais solteiros são geralmente os norte-americanos mais solitários.
  • O casamento e a família são as maiores fontes de felicidade das pessoas. Mas a porcentagem de adultos norte-americanos que nunca se casaram é a mais alta da história. Muitos deles jamais se casarão ou se casarão tarde demais para terem filhos. Em 1960, 9% dos negros com 25 anos ou mais nunca tinham se casado. Em 2012, eles eram quase 40%.

E nem mencionei o maior dos problemas: a perda de sentido na vida dos jovens. Falarei sobre isso na segunda parte deste artigo.

Dennis Prager é colunista do Daily Signal, radialista e criador da PragerU.

© 2020 Veículo. Publicado com permissão. Original em inglês
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