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A Disney decidiu mergulhar no conflito racial e estimular seus funcionários a criarem um ambiente de trabalho ideologicamente puro.
A Disney decidiu mergulhar no conflito racial e estimular seus funcionários a criarem um ambiente de trabalho ideologicamente puro.| Foto: Pixabay

A Walt Disney Corporation é famosa por anunciar seus parques de diversão como “o lugar mais feliz da Terra”. Mas na sede da empresa, em Burbank, na Califórnia, um conflito está surgindo. No ano passado, os executivos da Disney transformaram a ideologia da teoria racial crítica num dogma corporativo, bombardeando os funcionários com treinamentos sobre “racismo sistêmico”, “privilégio branco” e “fragilidade branca” e criando “grupos de afinidade” racialmente segregados na sede da empresa.

Obtive vários documentos relacionados ao programa de “diversidade e inclusão” da Disney, chamado “Reimagine o Amanhã”. O programa cria uma imagem assustadora da forma como a empresa adota a política racial. Vários funcionários da Disney, que pediram para permanecerem anônimos por medo de represálias, me disseram que o programa Reimagine o Amanhã, ainda que tenha intenções nobres, se tornou profundamente politizado e jogou parte da empresa num conflito racial.

A essência do programa racial da Disney está numa série de módulos de treinamento sobre “antirracismo”. Num deles, chamado “Aliança pela Consciência de Raça”, a empresa diz aos funcionários que eles precisam “assumir a responsabilidade por aprenderem sobre o racismo antinegros” e que não deveriam “esperar que os colegas negros os esclareçam”, por causa do custo emocional disso. O documento diz ainda que os Estados Unidos “têm uma tradição de transfobia e racismo sistêmico” e que os funcionários brancos precisam “trabalhar seus sentimentos de culpa e vergonha para entenderem o que está por trás deles e o que precisa ser solucionado”.

A Disney recomenda que os funcionários se arrependam “enfrentando a ideia e a retórica de que raças não são diferentes”, como “todas as vidas importam” e “não vejo raça”. Eles devem “ouvir com empatia os colegas negros” e “não devem questionar ou debater com os colegas negros” sobre suas experiências de vida.

Em outro módulo, chamado “O que posso fazer sobre o racismo”, a Disney diz que os funcionários devem rejeitar a ideia de “igualdade”, atendo-se ao “tratamento e acesso igualitário a oportunidades”. Eles devem também substituir a ideia de igualdade pela “igualdade de resultados”. O treinamento inclui uma série de lições sobre “preconceitos velados”, “microagressões” e “como se tornar um antirracista”.

A empresa diz que os funcionários devem “refletir” sobre a “infraestrutura racista” dos Estados Unidos, “pensando cuidadosamente se sua riqueza, renda, tratamento dispensado pela justiça criminal, emprego, acesso à moradia, saúde, poder político e educação seriam diferentes se você pertencesse a outra raça”.

A fim de pôr essas ideias em prática, a Disney financiou a criação do “Desafio de 21 Dias por Igualdade Racial e Justiça Social”, em parceria com a YWCA. O programa foi incluído na lista de recursos recomendados aos funcionários. O desafio começa com informações sobre “racismo sistêmico” e pede aos participantes que aceitem o fato de “terem sido criados numa sociedade que exalta a cultura branca sobre as demais”. Os participantes, então, aprendem sobre seu “privilégio branco” e têm de preencher um formulário, marcando as características desse privilégio, entre elas “eu sou branco”, “eu sou heterossexual”, “eu sou homem”, “eu ainda me identifico com o gênero com o qual nasci”, “nunca fui estuprada”, “não uso transporte público” e “nunca fui chamado de terrorista”.

Depois os participantes aprendem sobre “fragilidade branca” e têm de completar um exercício chamado “Como saber se você sofre de fragilidade branca”. O programa interpreta ideias como “sou uma boa pessoa, então não posso ser racista” e “aprendi a tratar todos da mesma forma” como provas de que o participante internalizou o racismo e a fragilidade branca. Por fim, decorridos 21 dias, os participantes ouvem que têm de aprender a “sair” de uma “cultura predominantemente branca” e buscar “algo diferente”. O documento diz que “competição”, “busca pelo poder”, “se acostumar ao fato de as lideranças serem predominantemente brancas”, “individualismo” e “pontualidade” são “valores brancos” e “perpetuam a cultura supremacista branca” – e por isso devem ser rejeitados.

A Disney recomenda ainda que os funcionários leiam uma série de manuais, entre eles “75 Coisas que os Brancos Podem Fazer pela Justiça Racial” e “Seus Filhos Não São Novos Demais para Ouvirem sobre Raça”. O primeiro sugere que os funcionários brancos deveriam “defender o fim da polícia”, “participar de ações de reparação histórica”, “descolonizar sua biblioteca”, “não gentrificar a vizinhança” e “fazer doações para obras antirracistas como o Black Lives Matter”. O segundo estimula os pais a se comprometerem a “despertar a consciência racial nos filhos”, argumentando que “até mesmo bebês discriminam” membros de outras raças. Um gráfico mostra que bebê dão os primeiros sinais de racismo aos três meses de idade e que as crianças brancas passam a “defender veementemente sua branquitude” aos quatro anos.

Por fim, como parte de uma iniciativa chamada “propriedades do CEO”, a Disney criou “grupos de afinidade” racialmente segregados para grupos minoritários, com o objetivo de obter “ideias culturalmente autênticas”. Originalmente, o grupo de afinidade latino era chamado “Hola”, o grupo asiático, “Bússola”, e o grupo negro, “Wakanda”. Os grupos de afinidade racial, também chamados de “Grupos de Recursos Humanos”, estão tecnicamente abertos a quaisquer funcionários, mas na prática se tornaram grupos racialmente segregados que às vezes contam com a presença de “executivos brancos aliados”, que aparecem para falar em nome da liderança corporativa. “Essa empresa entende de política, por isso deixa muitas coisas no ar”, disse um funcionário pertencente a uma minoria racial e que também disse que os grupos de afinidade foram criados para se tornarem espaços racialmente segregados. “Acho que ninguém nem tenta participar de um grupo no qual não são bem-vindos”.

Vários funcionários da Disney me disseram que o ambiente político da empresa se deteriorou nos últimos meses. “Há memorandos, sugestões de leituras, debates e seminários sobre antirracismo quase todos os dias”, disse um funcionário. A empresa está “totalmente tomada por um lado da ideologia” e desestimula ativamente funcionários cristãos e conservadores a expressarem suas visões de mundo. “No começo, participei de vários treinamentos só para ver como eram as discussões e para ver se eu seria capaz de expressar minhas objeções de uma forma segura para minha carreira. E a resposta velada que recebi foi ‘não’”, disse. “É frustrante ver que todos falam em diálogo e em conversas cheias de empatia, quando na verdade sei que, se eu disser qualquer coisa que seja verdadeiro, baseado em dados ou na minha experiência pessoal, isso não será aceito”.

Apesar dos alertas internos, não há sinal de que a Disney pretenda diminuir seus esforços a fim de alcançar a pureza ideológica. A empresa recentemente demitiu a atriz Gina Carano por expressar uma opinião conservadora. Os gerentes de conteúdo modificaram e acrescentaram alertas a filmes como Dumbo, Aladdin, e Fantasia. Num vídeo interno que obtive, executivos dizem que esse conteúdo é racista. No mesmo vídeo, o presidente-executivo Bob Iger dizia que a empresa “deve se posicionar” nas controvérsias políticas, sem jamais “se alienar do assunto” no futuro.

A premissa da Disney sempre foi a de servir de fuga para o norte-americano médio, mas os executivos parecem desprezar justamente as pessoas que visitam seus parques de diversão, assistem a seus filmes e compram seus produtos licenciados. Antes chamada de “o lugar mais feliz da Terra”, a Disney agora está comprometida a se tornar “o lugar mais progressista da Terra” — seja qual for o custo disso.

Christopher F. Rufo é membro do Manhattan Institute e editor do City Journal.

©2021 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês
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