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Documentário expõe brutalidade do regime do filho único na China
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A pandemia de coronavírus colocou em questão o jogo duplo do regime chinês, que se vende para o Ocidente como uma nação moderna mas, na verdade, é um sistema autoritário que recorre a métodos cruéis e não hesita em esconder informações da comunidade internacional e de seus próprios cidadãos. Um dos aspectos pouco explorados desse regime foi a política do filho único que vigorou entre 1979 até 2015.

O documentário “One Child Nation”, disponível na Amazon Prime Video, explora as consequências nefastas da medida, que vão muito além da (já absurda) interferência estatal na vida privada das famílias. A política resultou em intimidação, esterilizações forçadas, abortos nas últimas semanas de gravidez, abandono de recém-nascidos, infanticídios e tráfico humano.

A jovem cineasta Nanfu Wang, nascida na China mas atualmente vivendo nos Estados Unidos, é, ao mesmo tempo, a diretora, a cinegrafista e a protagonista do documentário. Ao conduzir entrevistas sobre a política do filho único (começando pela própria mãe), ela tenta compreender como situações tão absurdas ocorreram por anos sob a conivência, quando não apoio explícito, dos chineses.

O cenário que ela encontra é chocante: os comitês locais do Partido Comunista Chinês eram implacáveis nas ações de repressão, de um lado, e de doutrinação de outro. Na trilha da Revolução Cultural de Mao Tsé-tung, a política de filho único era propagandeada pela máquina estatal de forma incessante. Os meios de doutrinação incluíam o material didático, obras de arte, livros, murais, painéis e cartazes. Fica difícil não utilizar a expressão “lavagem cerebral” para definir o que a diretora encontrou em sua pesquisa.

Wang mostra que a política do filho único, criada sob a justificativa maltusiana de que era preciso limitar o controle populacional para evitar a escassez de comida, evoluiu rapidamente para um rígido sistema de controle social permeado de brutalidade e que, ao mesmo tempo, permitiu a criação de um mercado negro de bebês para adoção por estrangeiros. A cada entrevista, fica mais claro que, para o Partido Comunista Chinês, a lealdade ao país e à ditadura são indistinguíveis; só é chinês quem se submete às ordens do partido sem questioná-las.

Em um dos trechos mais fortes do documentário, Nanfu entrevista uma médica que se arrepende de ter feito incontáveis abortos, alguns deles simples infanticídios de crianças nascidas vivas. “Eu não tinha escolha. Era a política do governo”, ela diz, em uma frase que é repetida, com leves variações, por outros entrevistados. Como forma de pagar pelos seus pecados, a médica agora oferece apenas tratamentos contra a infertilidade. Ela deixou de praticar abortos e esterilizações, que, apesar do fim da política de filho único, continuam comuns na China.

A diretora Nanfu Wang tem uma história peculiar: nascida em 1985 em um vilarejo, a cineasta permaneceu em seu país até os 26 anos de idade. Ela mesma uma militante das causas “progressistas” nos Estados Unidos, e parece não ter entendido que o aborto é um mal em si mesmo. Ainda assim, “One Child Nation” merece ser visto por oferecer um raro olhar por trás da cortina de ferro chinesa, tema ignorado por cineastas mais preocupados em protestar contra tiranos imaginários ou ditaduras há muito derrubadas.

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