• Carregando...
Lindsay Shepherd, em entrevista a Brittany Pettibone | Reprodução/ 
YouTube/ Brittany Pettibone
Lindsay Shepherd, em entrevista a Brittany Pettibone| Foto: Reprodução/  YouTube/ Brittany Pettibone

Menos de um ano atrás, Lindsay Shepherd era uma desconhecida estudante de pós-graduação em Comunicação na Universidade Wilfrid Laurier, em Waterloo, Ontário, que gostava de fazer compras em brechós. Então, a universidade acusou-a de tornar seus alunos de graduação inseguros ao exibir um debate sobre os pronomes de gênero em sala de aula, e ela se viu no epicentro de um debate internacional sobre liberdade acadêmica. Shepherd está usando sua nova fama para promover a causa do questionamento aberto e da liberdade de expressão no campus, mesmo que isso signifique levar sua universidade ao tribunal.

Em novembro passado, Shepherd gravou secretamente uma reunião disciplinar na qual foi interrogada por dois professores e um administrador. A questão: sua exibição de cinco minutos de um debate público na televisão sobre os pronomes de gênero, apresentando o polêmico psicólogo da Universidade de Toronto, Jordan Peterson. Shepherd foi acusada de “dar legitimidade” aos argumentos de Peterson “como uma perspectiva válida” e criando assim “um clima tóxico para alguns dos estudantes”. Ela havia violado a lei canadense de direitos humanos, disseram os administradores, assim como a política de “violência de gênero” da universidade. 

Shepherd veio a público com sua gravação, que rapidamente se tornou uma sensação, particularmente para os conservadores. Um desastre de relações públicas se seguiu para a universidade, levando-os a lançar rapidamente uma investigação independente. O inquérito externo revelou uma série de fracassos institucionais e Shepherd foi inocentada de irregularidades. Deborah MacLatchy, reitora da universidade, pediu desculpas e prometeu tomar medidas para garantir que os erros não fossem repetidos. 

Desde então, Shepherd tornou-se quase uma heroína para os jovens conservadores. Ela conquistou dezenas de milhares de seguidores no Twitter e é frequentemente convidada para fazer discursos em todo o Canadá e nos EUA. No campus, ela criou um grupo de estudos sobre liberdade de expressão. Ela também gerou mais controvérsia: em março, ela convidou a canadense Faith Goldy, da chamada alt-right, para falar no campus; o evento provocou protestos em massa da Antifa e foi fechado antes de Goldy subir ao palco. Nas mídias sociais, Shepherd ridicularizou campanhas de treinamento de “privilégio branco”. E em junho, ela anunciou um processo contra a Universidade Wilfrid Laurier. Ela alega que, longe de encontrar reparação após o pedido de desculpas de MacLatchy, ela tem sido sujeita a “abuso continuado e um clima tóxico da universidade e seus representantes”. O processo busca R$ 14 milhões (em dólares canadenses) por assédio e outros danos. 

Leia também: Empresas recusam serviços com base no discurso dos usuários. Quais os limites?

Shepherd é a primeira vítima da Lei Federal C-16, que foi vagamente formulada e acrescentou identidade e expressão de gênero ao Ato Canadense de Direitos Humanos, ou ela é uma provocadora e “transfóbica”, como dizem seus detratores? Eu conheci Shepherd no mês passado em Nova York antes de sua aparição em uma conferência. Nós falamos em frente a uma grande janela em um hotel ao lado da Times Square. Com as luzes brilhantes da rua iluminando suas feições fotogênicas, ela parecia mais uma estrela da Broadway do que uma estudante de pós-graduação. “Eu acho que teria sido mais ignorada pela mídia e pelo público se eu fosse um homem branco que passou um clipe de Jordan Peterson na minha aula”, brincou. 

A Universidade Laurier lançou outra investigação sobre Shepherd no início deste ano. Ela se recusou a dar detalhes, mas de acordo com documentos judiciais, um dos colegas de Shepherd, um ativista trans, acusou-a de discriminação e assédio, o que ela nega. O único comentário de Shepherd sobre o assunto é que esta é uma tentativa de silenciá-la. O acusador de Shepherd não respondeu a nossos pedidos para comentar o caso. 

A Laurier enviou-me uma declaração preparada dizendo que proporcionou reparação à Shepherd. Isso inclui o pedido público de desculpas, mas também uma revisão e atualização das políticas da universidade, incluindo uma “declaração sobre liberdade de expressão” aprovada pela universidade, semelhante aos princípios de livre expressão da Universidade de Chicago. A declaração diz que Laurier “se defenderá vigorosamente” contra a alegação de Shepherd. 

Herói da liberdade de expressão

Shepherd encontrou apoio do homem cujas visões a colocaram em apuros: Jordan Peterson. Ele anunciou uma ação de difamação contra Laurier de 1,5 milhão de dólares no final de junho. Na gravação de Shepherd, seus professores compararam Peterson a Adolf Hitler e questionaram suas credenciais acadêmicas. “Eu não fui atrás de [Laurier] por oito meses até que ficou absolutamente claro que eles não aprenderam nada”, Peterson me disse. “Então, talvez dois processos sejam melhor do que um para uma lição”. 

Peterson está no meio de uma turnê internacional para promover seu best-seller “12 Regras Para a Vida: Um Antídoto Para o Caos”. Como Shepherd, ele é visto por seus admiradores como um herói da liberdade de expressão que luta contra o politicamente correto. Perguntei a Peterson se é hipócrita processar com base no que as pessoas dizem sobre ele em uma conversa particular. Ele pareceu aborrecido. 

Leia também: Censura ao Infowars expõe viés ideológico do Vale do Silício

“Foi uma reunião disciplinar em uma universidade. Isso não é privado”, disse ele. “Essas pessoas estavam operando sob o que deveriam ser diretrizes administrativas apropriadas – dezenas das quais eles violaram simultaneamente. Não foi um jantar entre amigos”. Ele acrescentou que a liberdade de expressão não significa que alguém pode “mentir e caluniar” impunemente. “Esse é o tipo de caricatura da liberdade de expressão que alguém que a odeia geraria para interferir na integridade da ideia”. 

Algumas das ações de Shepherd continuam a levantar sobrancelhas e a dar força aos seus detratores. No início deste ano, ela foi entrevistada por Brittany Pettibone, uma YouTuber da alt-right, que, como Faith Goldy, fala com frequência sobre imigração e identidade europeia. Em março, Shepherd repudiou “a esquerda” em um vídeo que foi visto mais de 800 mil vezes. E ela completou o circuito canadense de mídia de direita, falando com Mark Steyn e outros. Mas ela rejeita rótulos políticos, apontando que ela ainda tem as mesmas visões socialmente progressistas de antes. Ela diz que defender o princípio da liberdade de expressão significa envolver-se com aqueles com quem ela pode discordar. 

Ela é uma direitista? Ela disse que não, mas senti um pouco de alegria na ambiguidade. “Eu gosto de deixar um pouco de mistério”. Eu perguntei se ela se arrependeu de liberar a gravação. Ela é persona non grata no campus e até mesmo em alguns bairros de Waterloo. Seu objetivo de trabalhar na academia está ameaçado neste momento. Mas ela não hesitou em responder. “No fim das contas, eu provavelmente faria tudo de novo. Como você pode se arrepender de algo que o transformou na pessoa que você é?” 

Andy Ngo é editor da Quillette.

©2018 The City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]