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Depois de ser publicamente humilhado pelo movimento #MeToo, Aziz Ansari volta por cima, rindo de si mesmo e dos justiceiros sociais.
Depois de ser publicamente humilhado pelo movimento #MeToo, Aziz Ansari volta por cima, rindo de si mesmo e dos justiceiros sociais.| Foto: Reprodução

No ano passado, a humilhação de Aziz Ansari pelo movimento #MeToo talvez tenha sido o sinal mais claro de que as coisas estavam indo longe demais. Ele não foi acusado de abuso, e sim de insistir com uma mulher para fazer sexo com ela durante um encontro consensual que terminou assim que ela decidiu ir embora, numa história longa, explícita e viral que partiu de uma fonte anônima. O comportamento babaca que em condições normais seria resolvido entre as duas pessoas resultou numa repreensão mundial e em sérios prejuízos para a carreira dele.

Ele podia ter voltado rastejando ou então com uma atitude desafiadora. Em vez disso, em seu novo especial para a Netflix, “Right Now”, Ansari fala brevemente, e com maturidade, sobre o tema, e depois se lança numa das apresentações mais engraçadas e inteligentes de sua carreira.

Não há espaço para desculpas aqui. Em vez disso, pouco depois de entrar no palco usando uma camiseta da banda Metallica — e brincando sobre tentar pôr a culpa pela situação em outro comediante indiano-americano com o qual ele às vezes é confundido — Ansari diz isso:

Não falei muito sobre a coisa toda, mas falo disse nesta turnê porque vocês estão aqui, e isso significa muito para mim. E tenho certeza de que alguns de vocês estão curiosos para saber como me sinto em relação à coisa toda. E é complicado para mim responder a isso, porque senti muitas coisas no último ano.

Houve momentos em que tive medo. Houve momentos em que me senti humilhado. Houve momentos em que tive vergonha. E, por fim, me senti péssimo justamente por me sentir assim. E, depois de um ano, mais ou menos, só espero que isso tenha sido um passo adiante.

A vida seguiu e isso me fez pensar muito no assunto. Espero ter me tornado uma pessoa melhor. E sempre penso numa conversa que tive com um dos meus amigos, que disse: “Sabe de uma coisa, cara? Tudo isso me fez pensar em todos os encontros românticos que tive”. E pensei: “Uau. Isso é inacreditável. Não só eu, mas outras pessoas refletiram, então é uma coisa boa”. E é como me sinto a respeito disso.

Daí ele continua com seu texto, incluindo um esquete hilário ricularizando brancos “conscientes” ao mesmo tempo em que comemora a evolução social que essas pessoas, de uma forma muito própria e tola, representam. Ele exalta a forma como os brancos “conscientes” tentam superar uns aos outros, transformando a justiça social numa espécie de corrida moral. Mas no geral, como o restante dos norte-americanos, ele considera tudo isso entediante:

Pode falar o que quiser sobre os racistas, mas eles ao menos são bem diretos. Os brancos conscientes são cansativos! [Ele cita vários lugares-comuns do discurso]. Não dá para me chamar de Apu e me deixar em paz?

Não que ele tenha se tornado um reacionário – longe disso. Ansari está feliz com as mudanças, notando que há não muito tempo comédias como Se Beber Não Case (2009) tinha um discurso bastante homofóbico; ele espera que daqui a cinquenta anos todos sintamos vergonha de como era o mundo em 2019. Mas Ansari também prega a tolerância em relação a pessoas que agiram de formas que desde então passaram a ser inaceitáveis.

Mas o esquete mais notável talvez seja o que envolve a famosa história da suástica numa pizza da Pizza Hut, na qual um restaurante da rede foi acusado de preparar uma pizza de pepperoni com o desenho do símbolo nazista – enquanto algumas pessoas viram nela apenas uma pizza como outra qualquer. Ansari pede as pessoas que aplaudam se acham que era uma suástica e depois pede que aplaudam se acham que não é.

A história foi toda inventada. Nunca houve uma pizza com a suástica. Mas algumas pessoas na plateia aplaudem. Uma pessoa até encontra a fonte da notícia e a lê. É uma imagem impressionante de como a polarização política corrói o cérebro e que se enquadra no tema mais amplo de como seria melhor termos menos revolta e mais discussões honestas entre pessoas com opiniões diferentes — argumento que Ansari explicita mais ao discutir a revolta contra uma adolescente branca que usou um traje tradicional chinês numa festa de formatura.

Vale notar que Ansari evita as piadas intermináveis e geralmente sem graça contra Trump, piadas que muitos comediantes fazem quando não têm mais o que dizer. Ao contrário, ele mostra como os problemas atuais dos Estados Unidos são triviais em comparação aos problemas com os quais as gerações anteriores tiveram de lidar. “Imagine se tivéssemos um recrutamento com os jovens de hoje”.

O retorno é difícil para Ansari, já que sua carreira estava implodindo há um ano e o fato de ele sempre ter sido um dedicado progressista. “Right Now” trata de várias coisas ao mesmo tempo: ele parece sincero quando diz que aprendeu com seu comportamento, depois de ter sido publicamente repreendido, algo que teria deixado outra pessoa amargurada e com raiva; ele ri dos excessos mais tolos da esquerda, em vez de tentar se integrar aos justiceiros sociais; ele se prova capaz de fazer isso sem renunciar às crenças progressistas que ele tinha antes de cair em desgraça.

E o melhor de tudo: é uma hora extremamente engraçada na televisão.

Robert Verbruggen é vice-editor administrativo da National Review.

© 2019 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês

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