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Um manifestante acena uma bandeira do Black Lives Matter enquanto as pessoas se reúnem em protesto fora do Cardinal Stadium em Louisville, Kentucky, em 19 de setembro de 2020 .
Um manifestante acena uma bandeira do Black Lives Matter enquanto as pessoas se reúnem em protesto fora do Cardinal Stadium em Louisville, Kentucky, em 19 de setembro de 2020 .| Foto: Jon Cherry/Getty Images/AFP

Trabalhei no sistema de justiça criminal por um quarto de século. É administrado, no dia-a-dia, pelo crème de la crème de graduados das melhores faculdades de Direito da América. Essas instituições usam com orgulho suas bona fides progressistas e as proclamam para todo o mundo ouvir.

Em sua retórica improvisada – e até despreocupada, porque eles sabem que seus aliados bien pensants na política e na mídia nunca vão cobrá-los por algo mais elaborado –, as elites que trabalham com a lei lhe dirão que a administração da justiça na América tem um racismo sistêmico.

Mas eles são o sistema. Os juízes, os principais promotores, os advogados de defesa, os especialistas que elaboram as diretrizes das sentenças e os padrões de confinamento – são, em sua esmagadora maioria, progressistas políticos.

Está tudo bem, não se preocupe. Sou advogado em Nova York. Não só vivi neste mundo por décadas, como tenho afeição por muitos de seus habitantes. A maioria deles tem orgulho de estar à esquerda. Não concordo politicamente com eles, mas a rotina de lidar com casos criminais não é política. É clínico: profissionais fazendo o melhor que podem.

E esse é o ponto: eles fazem o melhor que podem. Essa é a antítese do racismo.

Esses profissionais se esforçam para trazer justiça a cada um dos réus. A experiência concreta de casos rotineiros no sistema judicial é uma certa benevolência com os erros.

As autoridades de execução, o advogado de defesa e o tribunal frequentemente se viram do avesso para fazer com que os casos pareçam mais suaves do que são, na dura realidade da conduta criminosa. Eles fazem isso precisamente como forma de evitar as condenações ou reduzir o tempo de prisão.

Eles dirão a você que há racismo endêmico no sistema. Se pressionados sobre o assunto, no entanto, eles não serão capazes de descrever para você quaisquer coisas racistas que eles mesmos realmente fizeram, nem quaisquer coisas racistas feitas por colegas.

Nem os advogados sérios que representam as supostas vítimas de racismo podem apontar para você as pilhas de moções que eles apresentaram alegando que a polícia prendeu seus clientes criminosos por causa da cor da pele. Os crimes, ao que parece, não são apenas apoiados por provas abundantes; eles têm vítimas, que são desproporcionalmente negras e latinas.

Os advogados não conseguem apontar os casos em que eles mostraram que os promotores acusaram seus clientes devido ao animus racial em vez de evidências. Eles não podem citar casos em que clientes foram sabotados pelo racismo de um juiz. Em um sistema que é amplamente racista, tais casos seriam abundantes. Estranho que não seja assim.

Ainda assim, as elites legais vão insistir que há sim um racismo sistêmico. Ou deve haver, mesmo que ninguém possa colocar um dedo sobre onde aconteceu, porque os resultados que o sistema produz não são "iguais" – a igualdade é uma utopia na qual a composição racial dos presos, condenados e sentenciados, se alinha perfeitamente com a proporção dessa raça na população global, como se todos os grupos raciais e étnicos cometessem crimes exatamente nas mesmas taxas.

Racismo "onipresente"

Tampouco o problema está restrito ao sistema de justiça. O racismo "acontece nas salas de nossas casas e em nossas salas de aula, nas mesas de nossos refeitórios e em nossos vestiários, em nossas calçadas, dentro dos escritórios onde trabalhamos e em nossa cidade". Assim sustenta a presidente do Middlebury College, Laurie Patton. Entre os decanos do ensino superior, Patton é a regra, não a exceção, ao espalhar este evangelho pelo campus.

Com clareza característica, Heather Mac Donald trouxe exemplo após exemplo em um recente ensaio do City Journal. Não são apenas os administradores, os batalhões de coordenadores da diversidade e os cientistas sociais. Segundo os acadêmicos, o "racismo estrutural" até mesmo "permeia" a matemática, a geologia, a astronomia, pode escolher a área que quiser – ao ponto, observa Mac Donald, de a revista Nature afirmar que "a missão da ciência deve ser 'amplificar as vozes marginalizadas' como uma expiação para a cumplicidade da ciência no 'racismo sistêmico'".

Tudo bem, se eles estão dizendo... Mas onde estão os exemplos concretos?

Mac Donald percebe que a auto-humilhação mecânica das instituições acadêmicas está desvinculada da vida vivida. Ela faz as perguntas que todos deveriam fazer. Quais são as especificidades da acusação: Quais membros do corpo docente não tratam os alunos negros de forma justa? Se esse tratamento injusto é tão óbvio, por que esses professores já não foram removidos? Como é que estamos tolerando um processo de admissão que aparentemente deixa entrar milhares de pessoas intolerantes com os estudantes?

Claro, independentemente do que eles possam dizer, os administradores da faculdade não agem como se estivessem presos em uma distopia racista.

Como observa Mac Donald, não há prova melhor disso do que esses mesmos administradores: quando não se preocupam com o racismo sistêmico, eles estão despejando palavras sobre a sensibilidade, realizações e integridade de seus professores, alunos e ex-alunos.

Ou seja: o "racismo institucional" se derreteria se fosse submetido ao racionalismo iluminista, a pretensa razão de ser da universidade. Mas isso é a cultura ocidental, e os líderes de hoje não se preocupam mais com a cultura ocidental.

O que é que eles fazem? Marxismo e vodu, principalmente. Quando você não pode citar evidências concretas para as proposições cósmicas que defende, só pode ser porque estamos cercados por uma "falsa consciência" que nos impede de perceber como a brancura e a ocidentalização nos corromperam.

Tudo o que podemos dizer com certeza é o que a teoria do "impacto díspar" nos conta: Não temos igualdade de resultados, então isso deve significar que não temos igualdade de oportunidades, certo? Porque, você sabe, cada um de nós é um Mozart, um Einstein, uma Jane Austen, um Bobby Fischer, ou um LeBron apenas esperando para acontecer, e aconteceríamos se houvesse igualdade nas oportunidades.

Certo.

O valor da sociedade ocidental

Sendo uma sociedade humana, a nossa é inevitavelmente uma sociedade imperfeita. É uma grande sociedade, no entanto, devido à sua capacidade de melhoria contínua. A América liberta os indivíduos para atingir seus objetivos, mas ensina-lhes que, individual e coletivamente, todos cometemos erros.

Precisamos verificar nossas premissas porque até os melhores entre nós estão, de tempos em tempos, errados sobre coisas fundamentais. Nós nos esforçamos por uma união mais perfeita não apenas aprendendo com erros passados, mas lembrando que somos tão humanos, tão propensos ao erro, quanto os antepassados que presumimos julgar.

É pedir demais aos negros americanos que concedam a redenção a uma sociedade que permaneceu baseada na escravidão de uma raça por mais de 200 anos, e então – mesmo depois de eliminá-la em uma sangrenta guerra civil – tolerou o racismo de jure por mais um século, e racismo de fato mesmo depois que o período das leis Jim Crow terminou.

O último meio século tem sido marcado por esforços cada vez mais determinados – muitos deles mais bem-intencionados do que benéficos – para acabar com os vestígios do racismo. No entanto, à luz de nossa história, é natural que os negros desconfiem do racismo na aplicação da lei e em nossas instituições.

No entanto, precisamos de aplicação da lei e instituições fortes se todos, incluindo os negros americanos, quiserem aproveitar as oportunidades de prosperidade em um país livre. O imperativo é melhorar os pilares da nossa sociedade. Condená-los, cortar-lhe o financiamento e bani-los não seria “Mudar”! Seria suicídio.

O melhor que podemos fazer é o que estamos tentando fazer: operar nosso sistema de justiça, nossas instituições de ensino, nosso governo, empresas e sociedade de uma maneira suficientemente sensível ao racismo, onde exemplos concretos desse racismo sejam poucos e distantes entre si.

A ideologia predominante nunca cita exemplos do mundo real. Seus discípulos nos fariam acreditar que nossa sociedade e suas instituições – a própria sociedade e instituições que promoveram nossas elites a suas alturas elevadas – são irredimíveis. Eles existem para a igualdade perfeita, na qual permanecem perfeitos e todos os outros são igualmente miseráveis.

Andrew C. McCarthy é pesquisador sênior do National Review Institute, editor contribuinte do NR e autor de “Ball of Collusion: The Plot to Rig an Election and Destroy a Presidency”.

© 2020 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.
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