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Estudantes voltam às aulas em escola da periferia de Colombo, capital do Sri Lanka, no dia 25/10/2021
Estudantes voltam às aulas em escola da periferia de Colombo, capital do Sri Lanka, no dia 25/10/2021: as escolas ficaram seis meses fechadas no país.| Foto: EFE/EPA/CHAMILA KARUNARATHNE

Em abril de 2020, um mês após a OMS declarar a COVID-19 uma pandemia, 173 países fecharam as suas escolas, afetando 84% dos estudantes do mundo. O preço imediato disso foram perdas de aprendizado, aumento da obesidade, deterioração da saúde física e mental, e, para algumas crianças, abuso, por perderem formas mais imediatas de delatar os abusadores.

Os estudos a respeito da eficácia do fechamento das escolas estão divididos, sem consenso. Uma parte é baseada em modelos matemáticos (que não ganharam boa fama na pandemia), outra lida com dados reais. Entre os problemas de método que os estudos podem ter, os fechamentos podem ser subestimados ao se confundir a ordem causal entre governos fecharem escolas e haver naquele momento surto de Covid-19, ou podem ser sobrevalorizados ao serem confundidos com outras intervenções como campanhas concomitantes para os cidadãos ficarem em casa.

Um novo estudo de Kentaro Fukumoto e colaboradores publicado na semana passada (27/10) na revista Nature Medicine considerou a eficácia de fechar escolas para conter a pandemia com base nos resultados obtidos com a medida na primavera de 2020 nas escolas do Japão. O país oferece um caso singular para testar especificamente se fechar escolas foi efetivo porque houve municipalidades que fecharam e municipalidades que não fecharam. Municipalidades são unidades administrativas equivalentes a aldeias, vilas e cidades. Há mais de 1.700 delas no Japão, cada uma com autonomia para fechar ou não uma média de 20 escolas para crianças dos seis aos 15 anos. As municipalidades são organizadas em prefeituras, equivalentes aos nossos estados.

Fechamento não fez diferença

O estudo considerou mais da metade das prefeituras japonesas e quase metade das municipalidades. Os governadores das prefeituras podem fazer solicitações por medidas como ficar em casa e fechar escolas, mas os cidadãos não têm obrigação legal de segui-las. O estudo teve o cuidado de controlar pela proximidade geográfica entre municipalidades e outras 40 variáveis sociais, econômicas e políticas. Enquanto outros estudos com dados reais implicitamente presumem um modelo, o estudo de Fukumoto usa uma estratégia mais direta, livre de modelo.

Fukumoto e colegas mostram que o fechamento de escolas não fez diferença entre as municipalidades. A pandemia seguiu seu curso, seja piora ou melhora local, sem responder a essa intervenção, entre março e junho de 2020 no Japão.

Além da limitação temporal, o estudo também tem a limitação de que foi baseado em visitas do Ministério da Saúde, limitadas a datas específicas, que investigavam se as escolas estavam fechadas ou abertas. Além disso, não analisou escola a escola, mas as municipalidades como um todo.

Porém os cientistas foram muito detalhistas, considerando até diferenças de capacidade de diagnóstico e acompanhamento dos casos entre os diferentes centros de saúde responsáveis pelas municipalidades a seu redor. Deram diferentes chances para o fechamento de escolas se mostrar eficaz, e ele falhou em todas. O estudo não está isolado em suas conclusões, mas confirma as conclusões de um estudo anterior do Japão que usou métodos diferentes.

“Os responsáveis por decisões de políticas públicas devem ter cuidado ao considerar políticas similares no futuro”, dizem os autores, “especialmente dados os custos substanciais que tais políticas podem ter para o bem-estar de crianças e pais”.

Outros casos no mundo

Não sabemos se o caso do Japão é generalizável, ou se as limitações do estudo de Fukumoto podem invalidar as suas conclusões no futuro. No mesmo dia, e na mesma revista científica, foi publicado outro estudo de Zeynep Ertem e colaboradores considerando o caso da abertura das escolas dos Estados Unidos.

Como o estudo japonês, usaram um período de 2020 anterior à ascensão da variante delta: julho a setembro daquele ano. Concluíram que na maior parte dos EUA a abertura das escolas não foi associada a um aumento nos casos de Covid-19, como estudos anteriores sugeriram. No entanto, no Sul, o ensino presencial foi associado a mais casos de Covid-19, comparado ao ensino remoto. Os autores não sabem a razão disso, não puderam estabelecer relações causais com medidas preventivas, diferenças de hábitos ou de clima.

A Escandinávia é outra região bastante informativa. A Dinamarca reabriu as suas escolas depois de seis semanas fechadas em abril de 2020 e não voltou a fechá-las, quase sem exceções, registrando apenas duas mortes infantis por Covid em toda a pandemia até setembro deste ano. O país tem uma alta taxa de vacinação, acima de 70%. Já na Suécia, famosa por não ter recomendado máscaras, zero crianças morreram até janeiro deste ano. Em crianças a Covid é uma doença geralmente segura e assintomática.

É importante lembrar que outras intervenções não-medicamentosas como o uso de máscaras e distanciamento social estiveram presentes na maioria dos casos de escolas abertas. O Centro de Controle de Doenças americano sugere que o distanciamento social e as máscaras são suficientes para manter as crianças em aulas presenciais de forma segura, ressaltando a importância do ensino presencial. No Brasil, diferentes estados já voltaram às aulas presenciais de forma obrigatória ou adotam sistemas híbridos entre presencial e online.

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