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Fernando de Carvalho Lopes, ex-técnico da seleção brasileira masculina de ginástica, já havia sido acusado de abuso sexual em 2016 | RicardoBufolinCBG/Divulgação
Fernando de Carvalho Lopes, ex-técnico da seleção brasileira masculina de ginástica, já havia sido acusado de abuso sexual em 2016| Foto: RicardoBufolinCBG/Divulgação

Fernando de Carvalho Lopes, ex-técnico da seleção brasileira masculina de ginástica, foi acusado por atletas e ex-atletas de ter praticado abuso sexual infantil durante treinamentos ao longo de vários anos. As informações foram veiculadas no programa Fantástico deste domingo (29), na Rede Globo.

Ao todo, segundo a emissora, 40 esportistas e ex-esportistas afirmaram terem sido vítimas de Fernando, afastado da seleção em 2016. Em comum, os entrevistados relataram conversas de teor sexual. O treinador ainda tocou em partes íntimas dos alunos, segundo eles.

"Algumas coisas eram marcantes para mim, que era pedir para saber se estava nascendo pelo pubiano", contou um dos ginastas, entrevistado em condição de anonimato. "Durante os nossos treinamentos, muito frequentemente ele tocava nas nossas partes íntimas", completou.

Outro ginasta reforçou as denúncias. "Ele pedia para eu ejacular na frente dele, me masturbar na frente dele", contou, também em anonimato. "O Fernando mandava a gente tomar banho em um horário em que ele podia tomar banho também e ficava pedindo para tocar no nosso pênis", acrescentou.

A primeira vítima a denunciar o caso tinha nove anos quando começou a treinar com Fernando no Mesc, clube da cidade de São Bernardo do Campo (SP). Aos 13 anos, em 2016, contou aos pais o que vinha acontecendo. A denúncia afastou da seleção brasileira o treinador.

"Os meninos fazendo exercício na barra, ele apalpava. Toda hora era mão nas nádegas do menino, apalpando mesmo", conta a mãe do ex-ginasta, cuja identidade também foi mantida em sigilo. "(O filho) tinha futuro. Só que cortou o sonho", completou.

Casos famosos

Nem todos os acusadores, porém, foram mantidos em sigilo. Petrix Barbosa, campeão dos Jogos Pan-Americanos de 2011 por equipes, era um dos principais alvos de Fernando no Mesc. Hoje morando nos EUA, Petrix afirmou que o treinador pedia para tomar "banho junto, espiar". "Já acordei com a mão dele dentro da minha calça", contou.

"Ele sempre perguntava como estava nosso desenvolvimento. Eu tinha 10, 11 anos, e ele [alegava que] precisava acompanhar nosso crescimento, então dizia que a gente precisava mostrar o pênis", conta, relatando ainda outro caso, aos 12 anos, durante uma competição nos EUA. "Ele mandou tomar banho de banheira para relaxar. De repente, ele entra na banheira, como se fossem duas crianças para brincar", completou.

O ginasta Ronald Cesar, atualmente com 21 anos, relatou ter sido abordado por Fernando durante treinos quando tinha 15 anos. Os toques do treinador, porém, causaram desconforto e receberam a reprovação pública do atleta.

"Começou a me incomodar tanto que eu falei: ‘Não quero que você me corrija assim. Você não vai mais ficar me tocando assim’", afirmou.

Fernando ainda foi treinador de Diego Hypólito entre 2014 e 2016. Embora tenha ouvido comentários de colegas, Diego diz que demorou a acreditar nas denúncias. "A minha sensação é de que era fofoca. Hoje em dia, eu não acredito que não seja real. Muita gente teve a coragem de falar", explicou.

Coordenador de Seleção

Ainda segundo os ginastas consultados em condição de anonimato, o atual coordenador técnico da ginástica brasileira, Marcos Goto, foi informado por atletas antes que as denúncias se tornassem públicas. Então técnico da cidade de São Caetano do Sul (SP), para onde muitos dos ginastas migravam em busca de novos treinamentos, Goto teria desdenhado dos casos.

"Ele sabia de tudo. As pessoas falavam para ele e ele zoava. Falava: ‘Vou te levar para a sauna para ver se você consegue (treinar)’", contou um dos ginastas. Procurado pela reportagem da Rede Globo, Goto não quis se manifestar a respeito das declarações.

O COB (Comitê Olímpico do Brasil), por sua vez, também foi consultado pela emissora. Segundo Paulo Schmitt, representando jurídico da entidade, o Comitê jamais teve notícia dos casos antes que se tornassem públicos. "A gente entende como um problema da sociedade como um todo", disse Marco Antônio La Porta, vice-presidente do COB, também ao canal.

Leia também: Médico é condenado a até 175 anos de prisão após abusar de ginastas nos EUA

Outro lado

O advogado de Fernando de Carvalho Lopes não gravou entrevista com a emissora. O próprio treinador, porém, disse ter sido interpretado equivocadamente por seus ex-atletas —que, segundo ele, vão ter que provar as acusações.

"Eu nunca fui um técnico legal. Sempre fui muito rigoroso, até demais. Às vezes, até misturei —achei que podia ser um pai, um amigo. Isso talvez tenha dado uma margem de interpretação errada. Eu não tenho o que falar. Eles vão ter que provar. Eu nunca molestei ninguém no intuito que está sendo colocado", afirmou Fernando —que ainda trabalha no Mesc, mas em serviços internos— à Rede Globo.

Ondas de denúncias

Caso semelhante ocorreu nos Estados Unidos. No início deste ano, o ex-médico da Federação de Ginástica dos Estados Unidos (USA Gymnastics) Larry Nassar foi condenado a até 175 anos de prisão por abusar sexualmente de mais de 150 ginastas, a maior parte delas menor de idade.

Escândalos de abuso sexual estão vindo à tona depois de anos porque as vítimas tiveram coragem de denunciar os abusadores. Mas também porque as pessoas e as autoridades começaram a levar a sério as denúncias. O movimento #meetoo, uma campanha em que várias pessoas relataram casos de assédio e abuso sexual, também teve parte na construção de um ambiente em que as vítimas pudessem se sentir mais seguras ao denunciar abusos e assédios.

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