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A esquerda não é feminista, não é contra a homofobia, e tampouco defende os negros: ela apenas cria e vende narrativas a fim de se capitalizar politicamente (Imagem: Pixabay)
A esquerda não é feminista, não é contra a homofobia, e tampouco defende os negros: ela apenas cria e vende narrativas a fim de se capitalizar politicamente (Imagem: Pixabay)| Foto:

Em discussão nas redes sociais, o ex-candidato à presidência Fernando Haddad fez uma polêmica provocação direcionada ao vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro. Em resposta a uma publicação crítica ao mandato de Jair Bolsonaro, o filho do presidente afrontou Haddad ao dizer “Chora marmita!!!”, tendo sido rebatido com “Priminho tá bem?”. O questionamento deriva de especulações maldosas de que Carlos teria um caso amoroso com seu primo, conhecido como Léo Índio.

O Catraca Livre, veículo com viés progressista, corretamente criticou o ex-prefeito de São Paulo: "Questionar se ‘o priminho tá bem’ fez com que Haddad tentasse diminuir Carlos Bolsonaro na discussão, partindo da premissa que ser gay é algo a ser ridicularizado [...] totalmente deplorável e desnecessário."

Em contraponto, o ex-parlamentar do PSOL Jean Wyllys, o primeiro a eleger-se a partir da causa LGBT, saiu em defesa de Haddad: “Atacar Haddad por ter sido irônico com um homofóbico hipócrita que vive de depreciar a comunidade LGBT orgulhosa de si é falta de estratégia por parte da esquerda, e hipocrisia por parte da extrema-direita.”

O mesmo Jean também atacou em 2011 Clodovil Hernandes, ex-deputado homossexual, ao afirmar que o ex-apresentador teria “homofobia internalizada” por não levantar as bandeiras da causa LGBT. Pelo fato de Clodovil ter sido contra cotas raciais, políticas migratórias e legalização das drogas e do aborto, bem como defendido privatizações e redução da maioridade penal — o exato oposto das pautas da esquerda brasileira —, não mereceu a guarida de proteção do politicamente correto.

De forma semelhante, em 2016, José de Abreu foi provocado verbalmente por um advogado carioca, em um restaurante de São Paulo, devido a sua militância política. Em resposta, o ator cuspiu nele e em sua esposa. A deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), militante pelos direitos das mulheres e ex-Ministra dos Direitos Humanos, manifestou-se em favor do artista.

“Julgam Zé de Abreu por uma reação imediata. Quem reage a agressão não planeja como agir, quem agride, sim. Respeite e serás respeitado", declarou Rosário. A mulher do advogado, agredida gratuitamente, não obteve a defesa da parlamentar, que milita pelos direitos das mulheres.

Já em 2018, o ex-deputado federal Ciro Gomes chamou o vereador de São Paulo e coordenador do MBL Fernando Holiday (DEM) de “capitãozinho do mato”, uma fala que o tornou alvo de inquérito por crime de injúria racial pelo Ministério Público de São Paulo. A expressão faz menção a um serviçal negro, pobre e livre, encarregado da captura de escravos fugitivos e coadjuvante na manutenção da escravatura.

O mesmo movimento negro, que pediu boicote a Ciro Gomes quando ele fazia oposição ao PT em 2002, dividiu-se. Para o historiador Jones Manoel, por exemplo, Holiday faz parte de um movimento cuja postura política reforça o racismo. “Ele é contra as cotas raciais: importante, ainda que limitada, política pública de mitigação ao racismo. Nesse sentido, creio que a crítica de Ciro Gomes é correta”.

As entidades representativas do movimento negro, por outro lado, sequer manifestaram-se sobre o episódio. A questão que fica é: que emancipação é essa que não permite alguém agir conforme sua consciência? Ter a mesma cor não deveria significar ter a mesma inclinação política e lutar pelas mesmas coisas para ter uma opinião respeitada. Afinal, o desrespeito pela individualidade é uma faceta do racismo.

Também no ano de 2002, quando foi candidato a presidente, Ciro foi questionado durante entrevista acerca da importância de sua mulher, a atriz Patrícia Pillar, na campanha. O político respondeu que “o papel dela é o de dormir comigo”. Contudo, parte do movimento feminista “Ele Não”, ocorrido durante as eleições de 2018, repudiava com razão as declarações machistas de Jair Bolsonaro e ignorava assertivas como as de Ciro Gomes.

Assim, a despeito da postura, sua candidatura foi endossada pela maioria das feministas na corrida eleitoral de 2018, na medida em que o presidenciável declarou que o comentário foi “o maior erro de sua vida” e, durante a campanha, prometeu recriar a Secretaria das Mulheres e formar um governo 50% feminino. Não obstante, um ano antes, ao comentar sobre a pré-candidatura da ex-senadora Marina Silva, afirmou faltar “testosterona” à ambientalista. Sua violência reiterada contra as minorias não foi suficiente para desincentivar o apoio da esquerda politicamente correta a ele.

Participando da Comissão de Direitos Humanos e Minorias na Câmara dos Deputados, em 10 de março deste ano, a ministra Damares Alves elogiou a beleza do deputado Túlio Gadêlha (PDT-PE), em um momento descontraído e que arrancou risadas de parlamentares. O deputado federal, mais conhecido por seu namoro com a apresentadora Fátima Bernardes, respondeu ao elogio nas redes sociais:

"Diga a ela que pode tirar o Jesus da goiabeira que não vai rolar milagre, não", em referência a uma fala na qual a Ministra afirmou ter visto Jesus Cristo em um pé de goiaba, quando cogitou suicídio em virtude de abusos sofridos na sua infância.

O comentário poderia provocar críticas tanto pela ofensa à crença religiosa de Damares quanto pelo machismo inerente a ele, mas a Frente Parlamentar em Defesa das Mulheres se manteve em silêncio.

Também não houve grandes manifestações de repúdio direcionadas ao professor de filosofia Paulo Ghiraldelli quando ele desejou, em 2013, que a jornalista Rachel Sheherazade fosse estuprada.

A quantidade de casos semelhantes é infindável, mas fica clara a percepção de que a esquerda não é feminista, não é contra a homofobia, e tampouco defende os negros: ela apenas cria e vende narrativas a fim de se capitalizar politicamente, alimentando o cabresto ideológico responsável por sua ocupação de espaços e silenciamento de dissidentes. Tudo em nome de um projeto de poder. Não importa o que se fala, mas sim quem fala.

É o duplipensar de George Orwell manifestado dia após dia, não de forma institucionalizada pelo Estado, mas por grupos que almejam o poder.

A hipocrisia do politicamente correto

Os colunistas da Gazeta do Povo Guilherme Fiúza e Rodrigo Constantino têm opiniões similares a respeito de a quem interessa o politicamente correto.

Rodrigo afirma:

“o politicamente correto interessa a quem quer calar o debate por falta de argumentos. É uma forma velada, ou nem mais tão velada assim, de intimidar o oponente. Então se rotulam as supostas malignas intenções — ele é racista, machista, homofóbico, xenófobo — para não ter de rebater aquilo que se diz. Ataca-se o mensageiro para não ser preciso responder à mensagem”

Já Fiúza critica o fato de que os agentes defensores do politicamente correto buscam “monopolizar as virtudes”:

“O politicamente correto já foi uma demagogia. Hoje é uma subdemagogia para vender altruísmo pirata a R$ 1,99 — e rende milhões e milhões de dólares, porque ficou baratíssimo ser egoísta legalizado. É um mercadão de grana, voto, notícia, publicidade e poderes variados. O kit bondade dá ao seu titular o monopólio da virtude contra o fascismo imaginário (que pode ser projetado em qualquer mortal que não esteja trajando os adereços oferecidos pelo kit de R$ 1,99).”

Constantino aponta ainda a hipocrisia do politicamente correto, haja vista sua seletividade:

“Serve para calar e intimidar o humor contra as supostas minorias: contra o homem cristão, branco e hétero, pode meter o pau! O politicamente correto passou a ser um dos principais instrumentos nessa marcha das minorias oprimida, é a revolução das vítimas. E não tem nada a ver com as minorias em si: o feminismo não quer saber da Thatcher, o movimento negro não quer saber de Holiday”.

Embora o Estados Unidos seja um país referência por sua proteção ao direito constitucional à livre expressão, ele é dominado pelo discurso politicamente correto, o que cerceia debates. Isso ficou explícito por um caso ocorrido recentemente com a deputada democrata pelo Minnesota, Ilhan Omar. Ela minimizou a série de ataques terroristas contra os Estados Unidos coordenados pela al-Qaeda em 11 de setembro de 2001, que vitimou milhares de pessoas, dizendo que existe uma suposta islamofobia generalizada porque “algumas pessoas [muçulmanas] fizeram coisas”.

As críticas direcionadas a Omar foram respondidas como sendo “incitações à violência pelo fato dela ser uma mulher negra, progressista e muçulmana”.

“Não se pode mais criticar o que foi dito. Ao dizer que se está incitando violência por criticar uma declaração infeliz, você mata qualquer debate racional”, conclui Constantino.

Em entrevista à Gazeta do Povo, o humorista Danilo Gentili afirmou que o "politicamente correto quer dizer que existe uma corrente política querendo que você seja correto, mas segundo a vertente deles. As pessoas acabaram banalizando o termo: muita gente confunde o politicamente correto com evitar gafes ou não ofender ninguém, mas não é disso que se trata. O politicamente correto se trata de um controle político específico”. É como se, para estar correto, fosse necessário seguir aqueles dogmas.

Gentili conclui que "não existe ditadura oficial, mas sim um organismo de intimidação muito grande, para que se crie uma espiral de silêncio e as pessoas não falem certas coisas.”

“Teoria dos privilégios”

A norte-americana Peggy McIntosh fundamentou em artigo o que ficou conhecido como a Teoria do Privilégio, segundo a qual este se dá em função de aspectos socioeconômicos mais vantajosos e delimitados a partir do nascimento.

A origem do termo privilégio denota a “lei para poucos”, isto é, uma distinção que possui origem e chancela estatal. Para a professora, no entanto, os privilegiados se beneficiam de vantagens individuais não concedidas pelo Estado e que podem ou não ser aproveitadas: quem nasce homem, branco, hétero e rico é naturalmente privilegiado em relação a mulheres, negros, gays e pobres. Os primeiros não sofrem opressão, enquanto quem não dispõe das mesmas características tende a ser vítima desta.

Para o cientista político Bruno Garschagen, que tratou do tema em sua obra “Direitos Máximos, Deveres Mínimos”, se trata de “um reforço à caricatura que o marxismo faz entre ricos e pobres, entre opressores e oprimidos”.

O filósofo Joel Pinheiro da Fonseca vai além. Para ele, a aplicação que se faz, no debate público, da teoria de McIntosh para analisar qualquer processo social é muito pobre: “Cada uma dessas categorias se dá em um contexto individualizado. Em determinada circunstância, uma mulher negra pode ter poder e oprimir um homem branco, por exemplo. De fato, em geral homens tendem a ter maior poder que mulheres, mas o importante é a análise do caso concreto e de seu contexto, o que se perde ao tratar indivíduos apenas com base em categorias e teorias abstratas”.

A teoria dos privilégios pavimentou o caminho para a “esquerda moderna” tomar para si o discurso de proteção das minorias, e é a base para entender o comportamento desta militância.

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