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Cena do filme "Até o Último Homem"
Cena do filme “Até o Último Homem”: a história de um objetor de consciência| Foto: Mark Rogers/Divulgação

No último dia 4 de julho meu avô, de 94 anos, finalmente conseguiu sua graduação no colegial. Alistado no inverno de 1945 logo após completar 18 anos, ele estava em treinamento no Camp Fannin, no Texas, quando sua turma de escola se formou. A mãe dele estava lá, e recebeu o diploma em seu lugar.

No gramado da casa de meus pais erguemos um palco, instalamos uma rampa para cadeira de rodas e penduramos balões vermelhos, brancos e azuis em todos os lugares possíveis, celebrando tanto a conquista escolar atingida por meu avô quanto os sacrifícios feitos por ele em todos aqueles anos passados. Conforme ele ia subindo pela plataforma, toda a família se reuniu para aplaudir aquele formando de cabelos brancos como a neve.

Meu avô era um objetor de consciência, algo que ele raramente fala a respeito -- e quando o faz é com plena consciência sobre o assunto. Ele gostaria de ter servido em combate como médico, mas como a guerra estava cada vez mais perto meu avô foi destacado para servir junto ao pessoal de suprimentos. Lá ele ajudava no recebimento das tropas e de seus equipamentos quando estes voltavam da Europa.

Ele é um homem profundamente moral -- pecador, como todos os filhos de Adão, mas verdadeiramente bom. Um homem que começou um pequeno negócio de sucesso logo após a guerra, guiado por ele durante 60 anos. Ele apoiou muita gente e ajudou muitos projetos de caridade espalhados pelo mundo. Talvez sua grandeza de alma nunca seja reconhecida porque ele continua fazendo as coisas como sempre fez, de forma quieta e sem nenhum alarde.

O objetor de consciência é definido pelo Dicionário Oxford como “uma pessoa que, por razões de consciência, se opõe a cumprir uma determinada obrigação, especialmente o serviço militar nas forças armadas.” Muitas vezes essas pessoas recebem pouca ou nenhuma atenção, e até lhes é dito que deveriam se envergonhar por seguirem firmes em suas convicções mesmo em tempos de guerra. A vergonha, nesse caso, não passa de um pensamento cheio de falhas, oriundo do julgamento feito por outras pessoas e das implicações desses pensamentos em nível nacional. Esses objetores de consciência deveriam receber honrarias pelas suas contribuições e pela sua reserva moral em não impor a violência – mesmo nos casos em que seria esperado que pesassem a mão. A possibilidade de poder exercer a objeção de consciência é uma vitória da proteção dos direitos individuais de consciência sobre os desejos coletivos.

Os objetores de consciência estiveram presentes entre os militares nos Estados Unidos desde o nascimento da nação. George Washington já pedia por um alistamento que deixasse de fora aqueles “com hesitação de consciência contra a guerra.” Sob o comando de um dos maiores monstros da América no século XX, Woodrow Wilson, os objetores eram condenados a longos períodos na prisão ou espancados nas ruas pelos membros da “Liga Protetiva Americana”, um nome chique para os bandidos apoiadores do presidente.

O alistamento para a 2ª Guerra Mundial teve o maior número de objetores, 72 mil pessoas, a maioria cumprindo funções fora do combate -- como médicos -- ou trabalhando em serviços civis como bombeiros. A Guerra do Vietnã foi a última vez que os objetores de consciência formaram parte considerável das forças armadas.

A vida de um objetor de consciência não é fácil. É dividir-se entre a comunidade e a lealdade às próprias convicções. A tentação em deixar de lado essas convicções individuais para agradar a maioria é praticamente esmagadora em tempos de tribalismo exacerbado, como quando um país está em guerra. Declarar abertamente “Não, eu não vou fazer algo que eu acredito ser mau” é realmente digno de louvor.

Ser um objetor de consciência não é fugir de suas responsabilidades. Ao contrário, sabendo que o que o aguarda é uma enorme desaprovação social tanto de seus compatriotas quanto de seus colegas fardados, ainda assim o objetor de consciência vai até o ponto de recrutamento. Ele releva todas as condenações de seus companheiros, faladas ou tácitas, enquanto contribui para o esforço de guerra fora da zona de combate. Uma democracia liberal como a nossa deveria celebrar o sentimento moral individualista destes indivíduos, e não tentar tornar isso motivo de vergonha.

Mas nós também não negamos tais impulsos individualistas quando eles são amplamente considerados errados ou socialmente prejudiciais? Quando falamos de sonegação de impostos, por exemplo, isso bem que é verdade. Mas temos que entender que há uma diferença fundamental entre esse tipo de questão e exigir que um ser humano mate outras pessoas. É uma categoria única de ação.

Os críticos à objeção de consciência podem até dizer que essa falta de vontade de entrar em combate tem um custo muito alto, porque pode resultar em baixas entre os militares por falta de pessoal nas trincheiras. Essa afirmação é questionável, porque esse resultado temido é praticamente improvável. Daqueles que se alistaram para a 1ª Guerra Mundial, apenas 0,1% se disse objetor de consciência. Na 2ª Guerra Mundial esse número chegou a 0,3% dos alistados. Nenhuma batalha é vencida ou perdida por causa dessa quantidade de soldados.

Mais ainda, se uma pessoa, mesmo acreditando que matar é errado, é obrigada a segurar uma arma isso não significa que ela vá atirar bem. Aí você tem uma arma e sua munição sendo desperdiçados e um esquadrão com utilidade reduzida, além de um problema moral dentro de sua unidade como um todo por causa dessa brecha.

Pior ainda: vai ser preciso destacar alguém para ameaçar a vida do opositor de consciência se este não se levantar e lutar, uma tática antiga entre os soviéticos. É melhor preservar esses valores tão preciosos em tempos de paz do que jogá-los pela janela em tempos de guerra, ameaçando um grupo de pessoas a trair sua própria moral e forçando-os a fazer o que não podem.

Os desejos pacifistas dos objetores de consciência deveriam ser amparados mesmo se eles não vierem de uma convicção moral elevada, a não ser o medo de perder a própria vida. Como disse Nietzsche, “é preciso conhecer o tamanho do próprio estômago.”

No fervor da batalha, aquele que é atacado pelo terror geralmente perde a própria vida e pode colocar em risco a vida dos companheiros. Seria muito melhor, para eles e para todos, que os objetores de consciência fossem alocados em funções fora do campo de batalha, onde possam contribuir de forma muito mais útil.

Você gostaria de estar em uma trincheira ao lado de um parceiro que perdeu a cabeça por conta do terror? Eu não gostaria. Há uma sequência no filme “O Resgate do Soldado Ryan” na qual um soldado americano não consegue segurar a pressão do combate e se desmancha em choro; os alemães passam por ele e matam muitos outros soldados dos EUA.

Sua passividade é lamentável, e foi o que possibilitou a morte de muitos de seus compatriotas. Ele nunca deveria ter sido colocado naquela posição. Muito melhor seria tê-lo alocado em uma fábrica de munições em Detroit, ou até mesmo ajudando os feridos em combate -- e assim ajudando de forma direta no esforço de guerra -- do que deixa-lo no lugar de outro soldado que aguentaria melhor a tensão do combate, ajudando e protegendo os outros.

Os objetores de consciência deveriam receber honrarias por serem símbolos vivos do respeito que temos, como um país forte e suficientemente moral, pelas convicções individuais contra as demandas coletivas.

Eles, que levam pedradas e flechadas de seus pares e são envergonhados por assumirem uma postura firme, deveriam se erguer com orgulho, sabendo que cumpriram sua missão e que o país está em débito com eles.

©2020 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês
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