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Em 2015, a Alemanha viu chegar ao país a maior onda de refugiados em sua história recente | DOMINIC EBENBICHLERREUTERS
Em 2015, a Alemanha viu chegar ao país a maior onda de refugiados em sua história recente| Foto: DOMINIC EBENBICHLERREUTERS

A direita nacionalista está enchendo a internet de artigos falando de como a imigração em massa estaria destruindo a Alemanha, já que esse país é conhecido por ser o mais permissivo da Europa em matéria de aceitação de imigrantes. De fato, a Alemanha recebe um terço de todos os pedidos de asilo primários, sendo o país o mais procurado da Europa por migrantes que querem ser aceitos como asilados. Os nacionalistas deixam de enxergar a oportunidade que a imigração encerra. Se os imigrantes pudessem se integrar e obter trabalho rapidamente, poderiam reproduzir o êxito de movimentos migratórios anteriores. 

Os acordos dos “gastarbeiter” na década de 1960  

Ao longo dos anos 1960, os governos da Alemanha ocidental, sob os chanceleres Adenauer, Erhard e Keisinger, assinaram vários acordos com países como Turquia, Marrocos, Tunísia e Iugoslávia para receber “trabalhadores convidados” (“gastarbeiter”). A desregulamentação econômica do pós-guerra que levara ao chamado "Wirtschaftswunder" (milagre econômico), também conhecido como o milagre alemão, exigia a participação de grande número de trabalhadores pouco qualificados. Com a ajuda dos “trabalhadores convidados” a indústria automotiva alemã foi capaz de ampliar sua produção rapidamente durante a fase de expansão acelerada dos anos 1960 e, desse modo, reduzir seus custos de produção mais rapidamente que muitos concorrentes. 

A ideia era que as pessoas que chegavam ao país como “gastarbeiter” ficariam na Alemanha pelo tempo que o país precisasse delas. Mas muitas delas permaneceram, desafiando os planos do governo. Quando a recessão de 1973 chegou, 4 milhões de imigrantes já haviam se radicado na Alemanha graças a esses acordos voltados ao trabalho. Apesar do declínio econômico que atingiu a Europa, eles decidiram permanecer na Alemanha, onde já tinham começado a criar um futuro e onde seus filhos se sentiam em casa. 

Hoje já não é novidade encontrar pessoas com nomes turcos mas que falam alemão sem sotaque ocupando altos cargos em empresas ou na política. Um em cada cinco alemães possui alguma origem imigrante pessoal ou em sua família, em muitos casos relacionada a esses acordos que permitiram a entrada dos trabalhadores convidados.

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Em contraste com a chamada “crise dos refugiados” atual, o governo da época estava disposto a integrar os imigrantes rapidamente na força de trabalho. Hoje, porém, apesar de o número de trabalhadores que chegam ser muito inferior aos que vieram com os acordos dos “gastarbeiter”, o processo de integração está sendo muito mais lento devido à burocracia excessiva da administração.  

O governo alemão está dificultando as coisas  

Os candidatos a asilo na Alemanha precisam aguardar três meses depois de pedir o asilo para terem acesso ao mercado de trabalho. E o candidato primeiro precisa ser aprovado num exame com a qual as autoridades visam constatar sua capacidade de realizar o trabalho – algo que se imaginaria que seria feito pelo empregador, de qualquer maneira.  

Como o domínio do ídioma alemão é crucial para a integração na força de trabalho, o governo oferece cursos de alemão para os candidatos a asilo. Mas só o faz para os candidatos que têm probabilidade de permanecer no país. Isso representa um obstáculo grande para pessoas que são aceitas, mas que não têm probabilidade de permanecer no país. Mesmo assim, a integração profissional dos migrantes se dá em muito menos tempo do que imagina quem lê as manchetes de certas publicações de direita.  

Até o final do primeiro semestre de 2016, 10% dos refugiados que chegaram à Alemanha em 2015, 22% dos que chegaram em 2014 e 31% dos que receberam asilo em 2013 já tinham encontrado trabalho. Refugiados do Afeganistão, Eritreia, Iraque, Irã, Nigéria, Paquistão, Somália e Síria encontram trabalho principalmente através de agências de trabalho temporário ou no setor de hospitalidade. Esse fato suscitou várias manchetes polêmicas sobre o baixo índice de refugiados empregados.  

Mas é preciso observar que esse grupo abrange os refugiados que ainda estão fazendo os cursos de integração. Em julho de 2017, eles constituíam mais de metade dos cadastrados como candidatos a empregos. Se acrescentarmos os critérios acima citados exigidos para que eles trabalhem, o índice de desemprego passa a fazer mais sentido. Se imigrantes poloneses – que, pelas regras da União Europeia, podem viver e trabalhar legalmente na Alemanha quando quiserem – fossem obrigados a fazer os cursos de integração, um exame de desempenho de função de trabalho e passar por um período de espera compulsório de três meses, vale apostar que seu índice de desemprego também seria mais alto. Em outras palavras: a ideia do “refugiado preguiçoso” é uma profecia autorrealizável, já que o governo dificulta o acesso desses refugiados ao emprego. 

A OCDE e a Acnur apontam para o mesmo problema em uma declaração sobre política migratória:  

“A incerteza em relação ao tempo de permanência reduz a empregabilidade de refugiados e candidatos a asilo, levando as empresas a hesitar mais em contratá-los ou investir em seu treinamento.”  

Mesmo assim, apesar de todas essas barreiras, o Instituto Alemão para o Mercado de Trabalho e Pesquisas Vocacionais projeta que metade de todos os candidatos a asilo que chegaram à Alemanha estará trabalhando em até cinco anos depois de chegar. Desde que governo alemão não dê incentivos às pessoas para que se tornem dependentes da assistência social ou que não desencoraje candidatos a asilo, oferecendo-lhes apenas a possibilidade de trabalhar por período limitado, o potencial que essa mão-de-obra altamente motivada possui de inundar o mercado é imensamente promissor. 

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Aproveitar a oportunidade 

Com uma população cada vez mais idosa e que está encolhendo, as vantagens econômicas de se integrar os refugiados à força de trabalho é imensa. Como trabalhadores e consumidores, as contribuições que eles já fizeram ao bem-estar deste país, cuja ética de trabalho já é impressionante, são evidentemente benéficas tanto aos migrantes quanto à população anfitriã. 

O governo alemão deveria deixar de desencorajar candidatos a asilo a buscar trabalho e desencorajar empregadores a lhes oferecer trabalho. A Alemanha é capaz de absorver migrantes, assim como fez em meados do século 20. E isso vai beneficiar o país.  

Bill Wirtz é um Young Voices Advocate. Seus trabalhos já saíram em vários veículos, incluindo Newsweek, Rare, RealClear, CityAM, Le Monde e Le Figaro. Ele também é analista de políticas públicas do Consumer Choice Center.

Traduzido por Clara Allain.
©2018 Foundation for Economic Education. Publicado com permissão. Original em inglês.
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