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John Woolman
John Woolman: ele lutou pela abolição da escravatura| Foto: Reprodução

No dia 19 de outubro de 2020 completaram-se os 300 anos do nascimento de John Woolman, um humanitário que desempenhou um papel central na abolição da escravidão. Eu o considero como um verdadeiro João Batista sobre o assunto, um homem cuja existência lançou as bases para o movimento antiescravidão.

A história de Woolman não é tão conhecida quanto a de William Wilberforce e Thomas Clarkson. Wilberforce, como um dos membros da Câmara dos Comuns em Londres, apresentou todos os anos, durante 18 anos, um projeto de lei para acabar com o comércio de escravos – em 1807 o projeto foi finalmente aprovado. Clarkson e seu think tank de uma única edição, a Sociedade para a Abolição do Comércio de Escravos, haviam recrutado Wilberforce e montado uma campanha bem sucedida para promover essa causa. Mas quando Clarkson e onze quacres sentaram-se a uma mesa para que a Sociedade fosse criada em 1787, eles fizeram um agradecimento especial a John Woolman (1720-1772) pela inspiração dada ao grupo.

Os quacres desempenharam um papel crucial no movimento abolicionista, tanto na Grã-Bretanha quanto nos EUA. E por causa desse papel tão importante, poderíamos pensar que esses pacifistas compassivos estiveram sempre do lado certo da questão. Não é bem assim. A escravidão era algo comum, de longa data e presente em todos os continentes, menos na Antártida, no início do século XVIII, inclusive entre os quacres. Até os africanos escravizavam colegas africanos e vendiam seus escravos quem pagasse mais. Era assim também com algumas tribos de nativos americanos. A escravidão era onipresente.

John Woolman nasceu em uma família quacre em 1720 em Rancocas, Nova Jersey. Trabalhando como balconista em uma pequena empresa local aos 23 anos, seu empregador pediu que ele preparasse uma nota de venda para um escravo. Uma pontada de consciência levou Woolman a se opor. A escravidão era inconsistente com os princípios do cristianismo, ele insistiu, mas mesmo assim fez o que lhe foi pedido. Esse foi o momento – um engajamento muito pessoal no negócio da escravidão – a partir do qual uma paixão cresceria ao longo da vida de Woolamn.

Três anos depois, um amigo pediu para que Woolman redigisse seu testamento, incluindo uma provisão para a transmissão da propriedade de um escravo. Woolman não só recusou, como também convenceu seu amigo a libertar o escravo. Manter homens e mulheres em cativeiro, ele argumentou, ofendia profundamente a ética do cristianismo, e colocava em perigo a alma do dono dos escravos. No mesmo ano (1746), Woolman empreendeu uma viagem de três meses e 2,4 mil quilômetros, na qual ele pregou sermões sobre o cristianismo e a antiescravidão para o público quacre, da Nova Inglaterra à Carolina do Norte.

A partir de um diário que ele manteve fielmente (cuja impressão está conservada ainda hoje), aprendemos que onde quer que Woolman fosse, colocava em prática suas pregações sobre a questão da escravidão. Se ele recebia hospedagem, comida ou outras hospitalidades de um proprietário de escravos, ele pessoalmente pagava os escravos por qualquer trabalho que realizassem em seu nome. Ele não usava pratos de prata, copos ou utensílios porque acreditava que eram produtos do trabalho escravo. Ele protestou contra os proprietários de escravos, apelou para suas consciências, e notavelmente, persuadiu muitos a libertar seus cativos e a denunciar a instituição da escravidão humana.

Em 1754, Woolman publicou um poderoso e influente tratado intitulado “Some Considerations on the Keeping of Negroes”, no qual ele declarou:

“Supor que é certo que um homem inocente deve neste dia ser excluído das regras comuns da justiça; ser privado dessa liberdade, que é o direito natural das criaturas humanas; e ser escravo dos outros durante a vida (...) é algo muito grosseiro para ser admitido na mente de qualquer pessoa, que sinceramente deseja ser governada por princípios sólidos. (...) A liberdade do homem é, pelo inspirado legislador, algo tão estimado e precioso a ponto de assim ser entendida: que tais homens que injustamente privassem outros dessa liberdade deveriam ser punidos da mesma maneira como se os tivessem assassinado. Aquele que rouba um homem, e vende-lhe; ou se ele for encontrado em sua mão, certamente será colocado à morte. Esta parte da lei era tão considerável que Paulo(...) acrescenta isso, [que] foi feito para ladrões de homens, [como em] I Timóteo 1:10.”

Woolman morreu na Inglaterra em 1772, aos 51 anos, mas plantou tantas sementes abolicionistas em ambos os lados do Atlântico que, em uma década, a escravidão entre quacres já havia desaparecido. Os quacres se tornaram a primeira seita cristã a lutar pela abolição. Eles foram os primeiros aliados de Clarkson e Wilberforce, e as pessoas que ambos os heróis abolicionistas consideravam como amigos indispensáveis da causa.

John Woolman mudou praticamente sozinho a opinião pública dos quacres a respeito da escravidão. E essa mudança de perspectiva ajudou uma nação inteira a rever suas ideias sobre a manutenção de pessoas cativas como propriedade. A Grã-Bretanha acabou com o comércio de escravos em 1807 e aboliu a escravidão em 1834. Seus esforços na América ajudaram firmemente para o mesmo fim, não sem antes os americanos experimentarem as atrocidades de uma guerra civil.

As ideias têm consequências, como ilustra o trabalho de John Woolman. E se antes era algo impensável, a abolição seguiu em frente na mente das pessoas e trilhou seu caminho desde algo simplesmente radical, depois aceitável, para sensato e popular e, finalmente, uma política de estado.

Neste tricentenário de seu nascimento, celebremos o legado de John Woolman!

©2020 Foundation for Economic Education . Publicado com permissão. Original em inglês.
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