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Vivemos numa época de paz e prosperidade. E, apesar de tanto sofrimento, o milagre é que nem todos cedem ao ressentimento e inveja.
Vivemos numa época de paz e prosperidade. E, apesar de tanto sofrimento, o milagre é que nem todos cedem ao ressentimento e inveja.| Foto: Reprodução

Quando chegamos perto do Dia de Ação de Graças, muitos de nós tentamos parar e refletir sobre as coisas pelas quais somos gratos em nossas vidas.

Expressar gratidão não é algo fácil para os seres humanos, mas na quarta quinta-feira de novembro muitos dos norte-americanos fazem seu melhor para tentar demonstrar gratidão ao menos neste dia.

Há várias coisas pelas quais sou grato. Vivemos numa época digna de nota por sua paz e abundância, notáveis em comparação com qualquer outro período da história. Sou grato pela saúde de que gozo hoje e pela relativa falta de sofrimento que tenho enfrentado nessas mais de quatro décadas de vida. Na minha vida pessoal, sou grato pelos amigos e familiares que tanto me deram, e por uma esposa dedicada que me deu três filhos saudáveis, e muitos mais.

É bom ser grato por essas coisas, acho, mas na noite passada também percebi que estou perdendo algo. Minha filha tinha acabado de pegar no sono e eu relia o livro “12 Regras para a Vida”, de Jordan Peterson. (Eu e ela lemos juntos antes de dormir).

Alguém tinha me falado que Peterson reflete sobre a gratidão no segundo capítulo do livro, “Cuide de si mesmo como cuidaria de alguém sob sua responsabilidade”. Já no fim do capítulo, Peterson menciona um milagre da vida pelo qual ele se sente extremamente grato: a persistência dos seres humanos que sofrem em continuar a suportar as dores do mundo.

São eles, argumenta Peterson, que mantêm a sociedade unida por meio da bravura e persistência.

“Muitas pessoas convivem com problemas graves de saúde, mas seguem com suas vidas produtivas”, escreve Peterson.

“Quem tem a sorte de vivenciar um raro período de graça e saúde geralmente tem ao menos uma pessoa próxima em crise”, continua ele. “Ainda assim, as pessoas superam e continuam realizando coisas difíceis a fim de manter suas famílias e sociedade unidas”.

É fácil esquecer quantas pessoas estão sofrendo no mundo. Por causa de sua profissão (Peterson é psicólogo), ele sabe mais do que os outros a dor que os seres humanos suportam.

O que surpreende Peterson e o torna uma pessoa profundamente grata é a massa de sofredores que não cedem ao desespero – em vez disso, elas continuam a assumir responsabilidades apesar dos obstáculos na vida.

“As pessoas são torturadas pelas limitações e restrições do Ser, tanto que fico maravilhado ao perceber que elas agem com retidão e veem para além de si mesmas”, escreve Peterson. “Tantas pessoas agem assim que hoje temos aquecimento central, água encanada, uma capacidade infinita de processamento de dados, eletricidade, comida o bastante e até mesmo a capacidade de contemplar o destino da sociedade e da natureza, da natureza assustadora, em si”.

"Toda essa máquina complexa que nos impede de morrermos de frio, de fome e de sede tende à confusão por meio da entropia, e somente a atenção constante de pessoas cuidadosas é capaz de manter a máquina funcionando tão bem”, continua ele. “Algumas pessoas se afundam no ressentimento e no ódio ao Ser, mas a maioria de nós se recusa a agir assim, apesar dos sofrimentos e das perdas, da inadequação e da feiura, e mais uma vez isso é um milagre para quem tem olhos de ver”.

De certa forma, esse é o outro lado da obra-prima de 1957 de Ayn Rand, A Revolta de Atlas”, livro que fala sobre individualismo e capitalismo. Rand via os atlas do mundo como empreendedores produtivos que trabalhavam incansavelmente para gerar valor apesar dos saqueadores que pretendiam roubar os frutos do trabalho deles.

Os Atlas do mundo, de acordo com Peterson, são os milhões sem rosto que perseveram diante da adversidade e de um sofrimento que leva tantos outros ao desespero.

Por isso é que as pessoas têm que cuidar de si mesmas como cuidariam de alguém sob sua responsabilidade. Temos de cuidar de nós mesmos de modo a suportarmos o sofrimento que a vida inevitavelmente nos causará, de acordo com Peterson.

“Você precisa pensar no futuro e refletir: 'como seria minha vida se eu estivesse cuidando bem de mim mesmo? Que carreira me desafiaria e me tornaria uma pessoa produtiva e útil, de modo que eu pudesse dividir o peso e compartilhar das consequências? O que eu deveria fazer, quando tiver alguma liberdade, para melhorar minha saúde, aumentar meu conhecimento e fortalecer meu corpo?'”

O Paraíso, explica Peterson, não nos é dado do nada. Se não formos capazes de nos fortalecer, é possível que nos deparemos com o oposto do Paraíso aqui na Terra.

Por isso, neste Dia de Ação de Graças só pode expressar minha gratidão mais profunda por todos os que perseveram a despeito do caos e da dor, que se recusam a sucumbir ao desespero, ressentimento, inveja e crueldade.

Vocês também são Atlas do mundo – sobretudo nesta época de desespero e sofrimento.

Jonathan Miltimore é editor do site FEE.org.

©2020 FEE. Publicado com permissão. Original em inglês
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