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Diversas pesquisas citadas em detalhes no livro apontam que filhos de casais gays têm maior abstenção escolar e pior desempenho no estudo.
Diversas pesquisas citadas em detalhes no livro apontam que filhos de casais gays têm maior abstenção escolar e pior desempenho no estudo.| Foto:

Poucas vezes a opinião pública americana mudou tão rapidamente sobre um assunto tão relevante. Em uma década, a defesa do casamento gay passou de anátema a posição dominante na cultura nacional. A reviravolta, imposta sobretudo por decisões judiciais em todos os níveis, foi acelerada por uma série de pesquisas acadêmicas que pareciam apontar para um consenso: acadêmicos garantiam que não havia um estudo sequer comprovando qualquer malefício para crianças adotadas por um casal gay.

Mas para Walter R. Schumm esse consenso não existe.

Doutor em estudos da família e professor da Universidade do Estado do Kansas há 40 anos, ele acaba de lançar um livro em que revisa minuciosamente os estudos que os próprios defensores do casamento e da adoção gay usam para sustentar sua posição. A obra “Same-Sex Parenting Research: A Critical Assessment”, ainda não traduzida para o português, chega a ser entediante pela forma como o autor enfileira citações de artigos acadêmicos. Durante dez anos, ele localizou cerca de 400 estudos que tratam do tema. Leu um a um. A conclusão foi a de que, em alguns quesitos, o consenso propalado pelas alas mais engajadas da academia era falso.

Dentre os problemas listados por Schumm e acobertados por boa parte dos pesquisadores estão amostras pequenas demais, ausência de um grupo de controle, o viés de desejabilidade (as pessoas respondem o que acham que os outros querem ouvir) e o viés de seleção (como, por exemplo, a seleção de voluntários entre os militantes da causa LGBT, não na população geral).

Mesmo eliminando estudos que não tinham rigor estatístico, o professor encontrou dados que contrariam a tese majoritária.

De início, um dos números que a obra questiona é o de que existiriam entre 3 e 28 milhões de crianças vivendo com pais homossexuais. Ele demonstra que o total real, com base nas estimativas mais confiáveis, está entre 200 mil e 400 mil. Isso, afirma o pesquisador, comprova que os grupos ativistas inflaram os números para aumentar a pressão por uma mudança nas políticas públicas.

Drogas e desempenho escolar

O livro também demonstra que, para as crianças, as consequências de serem criadas por pais homossexuais não são insignificantes, ao contrário do que diz o propalado consenso. Por exemplo: todos os seis estudos tratavam da relação entre os pais do mesmo sexo e o uso de drogas e álcool tiveram resultados preocupantes. A análise mais consistente, feito pelos pesquisadores Nanette Gartrell, Henny Bos e Naomi Goldberg, mostrou que a taxa de consumo de drogas era de 21% entre filhos de casais heterossexuais, contra 60% dos jovens criados por casais do mesmo sexo.

No aspecto educacional, a criação por uma família tradicional também parece ter efeito. Diversas pesquisas citadas em detalhes no livro apontam que filhos de casais gays têm maior abstenção escolar e pior desempenho no estudo.

Além disso, uma pesquisa conduzida por Theodora Sirota concluiu que filhas de pais homossexuais têm onze vezes mais chances de se tornarem lésbicas em comparação com as filhas de pais heterossexuais. Outra pesquisa conduzida por Ronit Zweig encontrou uma diferença ainda maior: o índice de jovens homossexuais era de 1,9% entre os filhos de casais tradicionais e de 25% para os criados por casais gays.

“Estou desapontado que tantos tribunais americanos tenham sido enganados para aceitar como válidas pesquisas que eram enviesadas e incompletas. (…) Numerosos estudos que seriam inconvenientes com a hipótese de que não há diferença [entre pais homossexuais e heterossexuais] foram menosprezados ou ignorados”, afirma Schumm na obra.

Verdade inconveniente

O livro não é taxativo ao apontar que o casamento entre pessoas do mesmo sexo tem efeitos negativos permanentes e inevitáveis. Mas lança suspeitas de que a academia se aliou a políticos e juízes para fabricar uma verdade conveniente a serviço da causa gay.

Schumm só vai até onde os dados permitem. Ele concorda não haver indícios de que a criação por pais do mesmo sexo aumente o risco de transtornos mentais na criança. Ao analisar a relação entre homossexualidade e abuso sexual, por exemplo, diz que não é possível concluir que essa população é mais propensa a cometer abusos. Ele questiona, entretanto, a razão de não haver estudos sobre o tema.

No cômputo geral, o ceticismo de Schumm sobre a profusão de estudos usados como munição para os militantes LGBT é saudável porque se baseia no apreço a uma ciência rigorosa, estatisticamente bem fundamentada.

Em 2016, o escritor e ativista LGBT Nathaniel Frank proclamou: “O debate científico sobre as políticas de parentalidade gay está encerrado e o tratamento igualitário venceu”. A obra de Schumm mostra que Frank pode ter comemorado cedo demais.

O próprio Schumm, entretanto, não acredita que o cenário legal seja alterado: “Minha maior esperança não é de que o casamento entre pessoas do mesmo sexo seja declarado ilegal, ou de que a adoção por casais do mesmo sexo seja banida (no fim das contas, novas leis são raramente revertidas ou anuladas), mas de que talvez algumas pessoas aqui e acolá serão desafiadas a pensar com mais cuidado sobre a pesquisa científica em áreas de controvérsia política", conclui o autor.

Em resposta a esta matéria, as acadêmicas Ligia Ziggiotti de Oliveira e Francielle Elisabet Nogueira Lima se manifestaram por meio do artigo A que(m) interessa a crítica à homoparentalidade?

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