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Assassinado por um grupo de esquerda, a história do Major Otto é muito mais complexa do que supõem os que o chamam de nazista.
Assassinado por um grupo de esquerda, a história do Major Otto é muito mais complexa do que supõem os que o chamam de nazista.| Foto: Reprodução

O Exército brasileiro homenageou na última segunda-feira (1) um major do exército alemão que lutou na Segunda Guerra Mundial pelo exército nazista. Eduard Ernest Thilo Otto Maximilian von Westernhagen foi homenageado como aluno da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME). De acordo com o Exército brasileiro, Otto Maximilian foi assassinado no Brasil em 1º de julho de 1968 em um "ato terrorista insano e covarde".

A cerimônia incluiu uma palestra em lembrança aos cinquenta anos do seu assassinato. O evento teve participação do corpo permanente, alunos e oficiais da corporação. Segundo publicação no site do Exército, "a ECEME homenageou todos os Oficiais das Nações Amigas que deixam sua pátria para aqui se autoaperfeiçoarem, reforçando os laços de amizade que unem os países".

A Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro (Fierj), porém, emitiu nota de repúdio. "A Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro lamenta e repudia veementemente a homenagem prestada pelo Exército Brasileiro ao oficial do exército alemão Eduard Ernest Thilo Otto Maximilian von Westernhagen, no dia 01 de julho de 2019, que integrou as tropas nazistas, responsáveis pela morte de mais de 20 milhões de pessoas, dentre elas negros, judeus, ciganos, homossexuais, deficientes físicos e soldados brasileiros", diz a nota.

Condecorações e “imagem negativa”

Otto foi morto a tiros pelo grupo armado de esquerda Colina (Comando de Libertação Nacional). Mas o atentado tinha outro alvo: o capitão boliviano Gary Prado, que havia participado da captura de Che Guevara em 1967. Prado estava no Brasil em 1968 para realizar o mesmo curso da ECEME e foi confundido com Otto pelo executores.

Segundo publicação no site do Exército, Otto "tinha a missão de apresentar ao mundo o valor do Exército da Alemanha, tentando desfazer a imagem negativa deixada na 2ª Guerra Mundial". O major foi comandante de um pelotão na Frente Oriental no exército alemão e foi promovido em 1943 por bravura.

A Frente Oriental foi a principal frente europeia durante a guerra, com o exército do Terceiro Reich lutando contra a União Soviética. Na Alemanha, a propaganda oficial a chamava de “uma batalha pela sobrevivência contra o bolchevismo soviético”.

Após o fim da guerra, Otto se refugiou na Argentina – que, durante o regime de Perón, abrigou figuras notórias do nazismo alemão, entre eles o agente especial Otto Skorzeny, que contribuiu para agências de inteligências em operações contra comunistas. De acordo com a Comissão de Esclarecimento de Atividades Nazistas, acredita-se que tenham entrado na Argentina cerca de 100 personalidades diretamente ligadas ao regime nazista.

Uma publicação no site o Exército considera o major um combatente de uma nação amiga. Mas a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial conta uma história diferente: em 1942, o país declarou guerra ao Eixo, formado pela Alemanha, Itália e Japão, após uma série de ataques de submarinos alemães a navios brasileiros no Atlântico.

Ainda de acordo com o Exército brasileiro, o Major "enfrentou a ameaça terrorista" durante a Guerra Fria e homenageá-lo é reafirmar o compromisso com a liberdade e a democracia. "Ofender a memória de um oficial do Exército da República Federal da Alemanha, que realizava curso no Brasil, rotulando-o como nazista, é desconhecer o processo histórico ocorrido naquele país amigo, no pós-guerra. Essa distorção intelectual, sim, é equivocada", defende o Exército brasileiro.

Nem todos os soldados nazistas eram nazistas

Em 1962 Hannah Arendt aceitou o convite de uma revista americana para cobrir o julgamento de Adolf Eichmann em Jerusalém. O oficial foi um dos principais responsáveis por enviar judeus aos campos de concentração, mas Arendt recebeu com perplexidade os relatos do carrasco.

Adolf usava, entre outros, o argumento de que era apenas um funcionário cumprindo ordens para justificar suas ações – ele era um ser humano comum e não odiava judeus. Ali diante de Eichmann, não estávamos diante de um mal sem relação direta com a maldade ou mesmo com uma convicção ideológica, mas sim diante de um mal mais banal, relacionado à prática daqueles encarregados de executar ordens.

Nos Estados Unidos, em 1977, o governo acusou falsamente o imigrante polonês Frank Walus de ter cometido crimes de guerra nazistas, condenando-o por mentir para encobrir um passado na Gestapo. Em 1980, o governo reconheceu o erro e pediu para Walus esquecer o ocorrido. O caso foi documentado no New York Times em 1983.

"Foi um pesadelo horrível", disse Walus. "Meus vizinhos me tratavam de forma terrível. Eles me chamavam de nazista, de Gestapo. Eles jogavam pedras em mim", contou.

O imigrante polonês afirmou que a culpa pelo erro foi dos tribunais dos Estados Unidos, da polícia israelense e da imprensa. Ele também culpou Simon Wiesenthal, caçador de nazistas que vivia em Viena. No tribunal, judeus sobreviventes da ocupação alemã na Polônia testemunharam que o viram assassinar crianças, uma mulher idosa e uma pessoa deficiente.

O tribunal o considerou culpado de mentir para esconder seu passado na Gestapo e entrar nos Estados Unidos, e retirou sua cidadania americana. Dois anos após a condenação, um tribunal de apelações ordenou um novo julgamento. Nove meses mais tarde, as acusações contra ele foram retiradas.

"Eles me disseram que cometeram um erro", disse Walus. ''Eles me disseram que eu não era a pessoa que fez aquelas coisas. Eles se desculparam. E me disseram para esquecer isso", completou.

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