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Crias dos mesmos pais, nazismo e comunismo pretendiam erradicar os inimigos para criar um paraíso utópico na Terra
Crias dos mesmos pais, nazismo e comunismo pretendiam erradicar os inimigos para criar um paraíso utópico na Terra.| Foto: Pixabay

Virou moda usar camisetas do Che Guevara ou estampadas com a foice e o martelo como modelo de protesto social contra a opressão da sociedade Ocidental. Aqueles que lutam contra a injustiça da democracia ocidental geralmente são aceitos e celebrados em toda a Academia norte-americana por exibirem esses símbolos de resistência.

Esses mesmos heróis da justiça e igualdade usariam camisetas com a suástica nazista ou posariam para uma foto com o emblema do Terceiro Reich? Uma resposta negativa indica ou hipocrisia ou uma visão cega da história, já que Karl Marx e Frederick Engels são os pais das duas crianças: da suástica e da foice-e-martelo.

A criação socialista de Karl Marx e Friedrich Engels

Desde sua origem, defensores viam os povos “menos civilizados” como obstáculos para sua revolução. Frederick Engels fazia referência aos fragmentos residuais de povos que sobreviveram à margem da sociedade europeia, sem serem reconhecidos como capitalistas. Os bascos na Espanha, os galeses na Escócia e os bretões na França, entre outros, estavam destinados a desaparecer em meio à “tempestade mundial revolucionária” que certamente viria.

Eis as palavras exatas de Engels, tiradas da edição de 1849 da publicação Neue Rheinische Zeitung, número 194:

Não há país europeu que não tenha, num ou noutro canto, um ou vários fragmentos de povos, resquícios de uma população que foi vencida e se manteve unida à nação que mais tarde se tornaria o principal veículo do desenvolvimento histórico.

Esses resquícios de nação impiedosamente destruídos ao longo da história, como diz Hegel, esses fragmentos residuais de povos sempre se tornaram em estandartes da contrarrevolução e assim permanecem até sua completa extirpação ou até a perda de seu caráter nacional, enquanto sua existência em geral é, em si, um protesto contra uma grande revolução histórica.

Assim são os galeses na Escócia, que apoiaram os Stuart de 1640 a 1745. Assim são os bretões franceses, que apoiaram os Bourbon de 1792 a 1800. Assim são os bascos na Espanha, que apoiaram Don Carlos. Assim são, na Áustria, os eslavos pan-eslavistas do sul, que não são nada além de fragmentos residuais de povos, resultado de mil anos de história extremamente confusos.

Que esse fragmento residual, que é da mesma forma extremamente confusa, veja sua salvação somente na reversão de todo o movimento europeu que, de acordo com essa visão, deve acontecer não do oeste para o leste, e sim do leste para o oeste, e que para isso o instrumento da liberação e da união seja o chicote russo – essa é a coisa mais natural do mundo. [grifos nossos]

Esse socialismo primitivo insiste na assimilação forçada ou na destruição de nações menos desenvolvidas, numa luta darwiniana pela existência, mas o princípio em si é também parte da doutrina, assim como Marx era parte de Engels, e vice-versa. Num panfleto de 1859 intitulado “O Reno e o Pó”, Engels desenvolveu esse conceito. Ele escreveu:

Ninguém dirá que o mapa da Europa está totalmente desenhado. Todas as mudanças, contudo, se se pretendem a duradouras, devem ser de tal forma que aproximarão as grandes nações de suas fronteiras naturais reais, determinadas por línguas e afinidades, enquanto ao mesmo tempo as ruínas dos povos, que ainda são encontrados aqui e ali e já não são mais capazes de liderar uma existência nacional independente, devem ser incorporadas a nações maiores e ou se dissolverão nelas ou permanecerão como monumentos etnográficos sem importância política.

Sobreviver como um resquício racial sem consequências seria uma coisa, mas Engels foi mais longe ao falar da inevitável contrarrevolução e sua solução.

A próxima guerra mundial não fará apenas com que as classes reacionárias e as dinastias, mas também com que todos os povos reacionários desapareçam da Terra. E isso também seguirá adiante.

O perigo de deixar esses “povos restantes” vivos era a contrarrevolução que eles seguramente promoveriam e que era, de acordo com Engels, uma ameaça inaceitável à causa socialista. Assim, essas nações reacionárias que se rebelassem contra a nova ordem socialista deveriam ser destruídas e seu nome relegado ao passado. Eles seriam obrigatoriamente assimilados ou arrasados no decorrer da revolução, e Engels não tinha muita paciência para eles.

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Ansiando pela revolução mundial, esses primeiros socialistas ficaram paralisados ao perceberem que os trabalhadores do mundo não se uniram para se libertar dos grilhões durante a Primeira Guerra Mundial. Ao contrário, milhões de operários pegaram em armas para lutar pelo rei e pelo país em troca de um soldo magro e morreram aos milhões no Front Ocidental, o grande ossuário que ainda guarda os resquícios de gerações esquecidas. O fracasso pós-guerra do socialista foi percebido ao redor do mundo, exceto na URSS sob o controle do Partido Comunista e a Alemanha Nazista sob o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães.

Manifestações iguais da mesma ideologia socialista

A plataforma do socialismo soviético era quase idêntica à do nacional-socialismo do Partido Nazista. Ainda que a prática do socialismo soviético tivesse origem marxista – comprometida com a revolução internacional socialista e a eliminação dos inimigos de classe – e a do nacional-socialismo do Partido Nazista se baseasse na eliminação de inimigos raciais, ambos se dedicavam à reformulação da Humanidade por meio da luta de classes.

O Novo Homem soviético seria criado a partir das ruínas do velho Império Russo e da eliminação da nacionalidade, religião e lealdade familiar na fornalha da revolução.

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A nova sociedade soviética seria esculpida e a educação sob o controle estatal, as prisões em assa dos inimigos e a imprensa controlada pelo governo seriam as ferramentas usadas pelos artesãos stalinistas. Da mesma forma, o Partido Nazista do Terceiro Reich, em guerra com a natureza humana, estava igualmente comprometido com a reformulação da sociedade alemã por meio da eugenia do dr. Josef Mengele e outros. Marxistas não-puros, os nazistas queriam criar uma nova raça dominante por meio do assassinato de inimigos raciais.

Endêmica tanto no socialismo soviético quanto no nazista, a destruição dos inimigos raciais e de classe era uma etapa literal, não simbólica, da revolução. Seja a deskulakização [repressão aos camponeses ricos] e destruição de edifícios antigos como a Catedral de Cristo Salvador em Moscou, em 1931, seja a erradicação dos “racialmente inferiores” sob ordens do Partido Nazista, as duas versões do socialismo se dedicavam a reconstruir uma nova realidade social por quaisquer meios necessários e se viam como parceiras nem tão distantes assim em sua luta.

Estes dois sistemas socialistas eram tão semelhantes que os principais líderes da época os comparavam favoravelmente. Falando num evento público em Berlim em 1925, Josef Goebbels comparou o comunismo e o ideal hitlerista e notou que as diferenças entre eles eram superficiais. O dr. Goebbels chegou a dizer que Lenin era “o segundo maior homem do mundo, atrás apenas de Hitler”, o que significava estabelecer uma aliança entre o comunismo da USSR e o nacional-socialismo do Terceiro Reich.

Da mesma forma, os líderes ocidentais agiam sabendo que a fé de Hitler e a de Stálin eram frutos da mesma árvore. Winston Churchill via o comunismo e o nazismo como sistemas que se retroalimentavam e eram semelhantes em todos os pontos principais. Em 1937, Churchill comparou o nazismo e o comunismo.

Há dois fatos estranhos quanto a essas religiões sem Deus. O primeiro é a extraordinária semelhança de uma com a outra. O nazismo e o comunismo se veem como opostos. Eles se atacam em todos os lugares do mundo onde existem. Mas na verdade eles se retroalimentam, já que a reação ao comunismo é o nazismo e sob o nazismo e o fascismo o comunismo fervilha convulsivamente.

Mas eles são semelhantes em todos os principais pontos. Antes de mais nada, o simplismo deles é notável. Você tira Deus e traz o diabo; você tira o amor e traz o ódio; e tudo o mais a partir disso funciona de uma forma bem direta e lógica. Eles são, na verdade, tão iguais quanto dois grãos de ervilha. Tweedledum e Tweedledee [personagens de “Alice no País das Maravilhas”] são personalidades distintas em comparação a essas duas religiões rivais.

Como duas joias extraídas da mesma mina socialista, o comunismo e o nazismo se diferenciam pouco apenas em sua prática do marxismo, mas os dois são igualmente totalitários.

Um totalitarismo em comum

Além de pertencerem à mesma irmandade do socialismo mundial, tanto o comunismo quanto o nazismo eram igualmente totalitários. O economista da Escola Austríaca Ludwig von Mises percebeu as semelhanças com clareza ao dizer que o socialismo alemão buscava uma vida coletiva na qual a interferência governamental na vida privada, com o objetivo de eliminar a propriedade privada, causava danos imensuráveis à população.

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É bem verdade que o socialismo, como planejado, se volta para o controle total; a filosofia econômica e social do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas são igualmente aparentes. Como falou Ludwig von Mises sobre a Alemanha nazista:

Mas no fundo todas as iniciativas pretendem se tornar operações governamentais. De acordo com esta prática, os proprietários manterão seus nomes e marcas registradas na forma de direito a uma renda “apropriada” uma “adequação às suas posições”. Todas as empresas se tornam um órgão oficial e todos os profissionais se tornam funcionários públicos. (…) Os preços são estabelecidos pelo governo e o governo determina o que vai ser produzido, como isso vai ser produzido e em que quantidade. Não há especulação, lucros “extraordinários”, prejuízos. Não há inovação, exceto a alcançada por ordem do governo. O governo orienta e supervisiona tudo.

Os nazistas rejeitavam o chamado à revolução internacional e a luta de classes de seus irmãos marxistas soviéticos, mas isso não os tornava menos socialistas. Todo o poder e as propriedade das empresas alemães sob o Terceiro Reich, embora administradas e no papel pertencentes a indivíduos, estavam nas mãos do Estado.

Os controles de preços, tetos salariais e quotas de produção eram estabelecidos pelo Estado e deixavam os proprietários imersos num mar de burocracia. Apesar de os nazistas não terem construído nem mantido uma economia planejada e, assim, não serem socialistas tradicionais de acordo com o modelo marxista, o setor agrícola foi organizado, de acordo com Von Mises, em conformidade com o “socialismo de padrão alemão.”

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Não se pode chamar isso de livre Mercado. A fina camada de propriedade privada da indústria alemã desapareceu sob a incansável maré de intervencionismo governamental que só serviu para criar escassez de bens essenciais e superprodução de bens supérfluos. Dessa forma, a prática econômica dos nazistas e soviéticos era bastante semelhante.

O modelo de socialismo era idêntico para os nazistas e soviéticos. As vestes amaldiçoadas do marxismo soviético podem ser substituídas pelos trajes igualmente amaldiçoados do nacional-socialismo, mas ambas escondem a máscara podre do paraíso utópico – máscara criada com o uso da foice, do martelo e da suástica.

Joshua Hofford é coordenador de estudos sociais de um distrito educacional de porte médio em Fort Worth, Texas, onde ele mora com a esposa e três filhos.

Tradução de Paulo Polzonoff Jr.

©2019 FEE. Publicado com permissão. Original em inglês.

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