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Uma campanha de censura contra empresas e produtores de conteúdo pró-Trump nos Estados Unidos (particularmente no YouTube) empreendida pelo New York Times e The Washington Post, entre outros, deu com os burros n’água a dias das eleições de terça (5) que colocaram o empresário de volta na presidência dos Estados Unidos.
Os dois jornais, de inclinação editorial progressista, formaram um quarteto nessa empreitada com duas ONGs, Media Matters for America (algo como “A Mídia Importa para os EUA”, conhecida como Media Matters) e o europeu Centro de Combate ao Ódio Digital (CCDH, na sigla em inglês).
Entrevistados reagiram antes mesmo da publicação do NYT
O comentarista conservador americano Ben Shapiro, um dos alvos, fez uma denúncia pública quando um repórter do NYT entrou em contato no dia 28 de outubro: “se você estava se perguntando qual seria a surpresa que a imprensa tradicional estava planejando para outubro”, disse Shapiro no X, “não se pergunte mais: aqui está ela”.
Shapiro compartilhou perguntas mandadas pelo repórter em mensagem privada. “Queria dar-lhe a oportunidade de comentar para uma matéria em produção que investiga como comentaristas políticos têm discutido as eleições que se aproximam”, disse o jornalista. “Nos baseamos em uma análise conduzida por pesquisadores da Media Matters (...). Pesquisadores identificaram vídeos postados por você que contêm desinformação eleitoral. Com que frequência o YouTube desmonetiza os seus vídeos?”
“O sr. Shapiro não respondeu diretamente a uma série de perguntas, mas atacou a reportagem do New York Times”, disse no texto final de 1º de novembro o correspondente de tecnologia do jornal, Nico Grant.
No texto, Grant afirmou que o YouTube “agiu como um amplificador de teorias da conspiração neste pleito presidencial” e citou a líder da investigação da Media Matters, Kayla Gogarty, segundo a qual “o YouTube está permitindo que essas contas e canais de direita prejudiquem os resultados das eleições de 2024”.
Tucker Carlson, ex-âncora da Fox News que agora tem um projeto de mídia independente no X, reagiu de forma similar a Shapiro à abordagem do NYT. Ele também publicou capturas de tela com as perguntas, mas incluiu suas respostas. “Quer dizer que o New York Times está trabalhando com um grupo de ódio de esquerda para silenciar críticos do Partido Democrata? Por favor, pergunte a si mesmo por que está participando disso. Foi para isso que você entrou no jornalismo? É uma vergonha. Espero que você sinta culpa e desgosto de si mesmo por me mandar uma mensagem como esta. Por favor me cite falando isso. Também note que eu disse para você ir se f***r. Obrigado”. O insulto não foi incluído na reportagem.
A mensagem com as perguntas incluía uma acusação de que Carlson teria participado de “286 vídeos contendo desinformação eleitoral” que alcançaram “mais de 47 milhões de visualizações”.
YouTube recusa papel de censor
Segundo a reportagem de Grant, o YouTube desistiu em junho de 2023 de combater “o fio mais persistente de desinformação eleitoral dos Estados Unidos: a falsidade de que o Presidente Biden roubou a eleição de 2020 de Donald J. Trump”.
Grant conclui que após essa data o YouTube “se tornou um lar para teorias da conspiração eleitorais, meias-verdades e mentiras”, e sugeriu que as falsidades “se tornaram por sua vez uma fonte de lucro” para a plataforma de vídeos.
A descrição que o jornalista faz da Media Matters admite que a organização tem preferência de atuação: “monitora informação de fontes conservadoras”. Mas sugere uma justificação para que ela seja ouvida apesar do viés político: “embora seja uma organização progressista que muitas vezes faz críticas a conservadores, repórteres e acadêmicos com frequência a citam como fonte a respeito de desinformação no YouTube porque ela dedica recursos importantes para monitorar a vasta plataforma”.
Além de Shapiro e Carlson, a reportagem cita o ex-conselheiro de Trump que apoiou a contestação dos resultados em 2020, Rudolph Giuliani, como suposto favorecido com monetização de desinformação no YouTube. Giuliani também reagiu antes da publicação da reportagem e disse no X que tinha “orgulho de ser incluído com Ben e Tucker, dois grandes patriotas”.
Uma porta-voz do YouTube respondeu ao New York Times que a plataforma examinou oito dos vídeos denunciados pela reportagem e entendeu que não violavam suas diretrizes. “A capacidade de debater abertamente as ideias políticas, mesmo aquelas que são polêmicas, é um valor importante”, afirmou a porta-voz. “Especialmente durante a campanha”.
Entre 30 canais selecionados pela Media Matters, o YouTube informou que a maioria estava “inelegível para monetização” e que alguns já tinham violado as políticas da plataforma. “Isso demonstra a solidez da nossa abordagem ao aplicar as nossas políticas”, disse a porta-voz.
A plataforma removeu três dos vídeos denunciados pela ONG e colocou tarjas de contexto em 21 deles, mas “a maioria das tarjas eleitorais foram removidas mais tarde”, afirmou Grant.
Em dezembro de 2020, o YouTube havia decidido banir todo conteúdo que “levasse as pessoas ao erro com a alegação de que fraudes ou erros generalizados mudaram o resultado da eleição presidencial de 2020 nos EUA”. Mas em junho de 2023, a plataforma abandonou essa política para algo mais próximo da liberdade de expressão permitida por lei no país, permitindo que criadores de conteúdo contestassem resultados eleitorais.
Em comunicado sobre a mudança, o site disse que “enquanto a remoção de conteúdo de fato limita desinformação em alguma medida, ela também pode ter o efeito não pretendido de restringir o discurso político sem uma redução importante do risco de violência ou outros prejuízos reais”. Em outras palavras, o YouTube optou por uma política de menos censura.
Enquanto isso, no front do Washington Post
Seis dias antes das eleições presidenciais, o Washington Post — jornal em que houve uma pequena rebelião porque seu dono, Jeff Bezos da Amazon, ordenou que não houvesse endosso oficial à candidatura de Kamala Harris — publicou uma reportagem cujo enfoque era criticar o sistema descentralizado de checagem do X, as “Notas da Comunidade”.
A fonte “técnica” do jornal para as críticas ao programa de checagem sem censura era o Centro de Combate ao Ódio Digital (CCDH). Como informado pela Gazeta do Povo, o CCDH foi fundado pelo britânico Morgan McSweeney, hoje chefe de gabinete do primeiro-ministro britânico Keir Starmer, do Partido Trabalhista. Documentos vazados revelam que a organização mantém no topo de suas prioridades de trabalho “matar o Twitter de Elon Musk”, ou seja, o X.
Dessa forma, um relatório da ONG que busque descredibilizar a principal aposta do X para o combate à desinformação tem sua própria credibilidade posta em xeque por conflito de interesses.
“A maioria das checagens de fatos precisas propostas por usuários em postagens políticas nunca são mostradas ao público de acordo com pesquisa do CCDH”, disse a reportagem. Isso é um truísmo, dado que, no funcionamento do programa “Notas da Comunidade”, somente notas que atingem “consensos” (popularidade entre grupos politicamente antagônicos, independentemente da quantidade de votos) são mostradas, e perdem visibilidade se o consenso for perdido.
O relatório do CCDH monitorou 283 postagens (tweets) que continham alegações sobre as eleições previamente conhecidas como falsas ou enganosas por agências de checagem. Dessas, 229 receberam notas relevantes e precisas, mas somente 20 tiveram notas exibidas publicamente após o consenso ser atingido.
“A descoberta sugere que as Notas da Comunidade fazem um trabalho ruim de responder às falsidades relacionadas à política”, disse o Washington Post com base no trabalho da ONG.
Um artigo científico publicado em abril na principal revista científica da Associação Médica Americana, que estudou as Notas da Comunidade com foco em desinformação sobre a Covid, atingiu conclusões diferentes. São “uma solução inovadora, oferecendo resistência com informações de saúde precisas e com credibilidade”, disseram os cientistas.
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