Thiago dos Reis é mais um caso de petista produtor de notícias falsas que o inquérito de cinco anos do Supremo Tribunal Federal contra “fake news” falha repetidamente em enxergar. Hoje no México, a falta de um endereço confirmado no Brasil permite que ele escape de 15 processos judiciais e uma ordem de prisão aparentemente por abandono de incapaz, seu próprio pai.
Dono de um canal no YouTube com 1,5 milhão de inscritos, que atrai mais visualizações que canais do governo, Reis já mentiu que Luciano Hang matou a própria mãe (vítima da Covid), que o governo Lula mandou R$ 50 bilhões para o Rio Grande do Sul (eram na maior parte empréstimos), que este valor é superior ao que o governo Bolsonaro gastou na mitigação da pandemia (foram R$ 665 bilhões de 2020 a 2022), que a facada de Adélio Bispo contra o ex-presidente em 2018 foi falsa, que o bolsonarismo estaria ligado ao Comando Vermelho, entre outras invenções a respeito de brigas conjugais na família Bolsonaro e supostas ameaças de morte da família contra o ministro Alexandre de Moraes.
O influenciador petista (filiado ao PT desde 2017, pelo qual tentou concorrer a cargo público com apoio da presidente do partido, Gleisi Hoffmann) nega que recebe dinheiro do governo para suas atividades.
Estimativas baseadas em visualizações e número de inscritos do site especializado Social Blade sugerem que ele pode receber entre R$ 42,6 mil e R$ 679 mil por mês do YouTube com seu canal “Plantão Brasil” e um canal pessoal, renda que ele complementa pedindo doações via Pix. O pico de visualizações e ganho de inscritos do canal maior aconteceu durante as eleições de 2022.
Ele também tem uma ampla base de 415 mil seguidores no X, onde paga pelo serviço de verificação de perfil, que também permite acesso à monetização.
Como acontece entre influenciadores políticos em geral que vivem de sensacionalismo nas redes sociais, Reis com frequência inicia suas postagens com termos como “Bomba!”, “Urgente!” e “Atenção!” Entre seus bordões favoritos estão “bolsonarismo mata” e “chorem mais”.
Confira abaixo uma lista de mentiras e distorções do influenciador que foram corrigidas pelas Notas da Comunidade da rede social X, serviço de checagem comunitária de fatos que coloca tarjas de contexto adicional quando se formam consensos de que cada postagem foi desinformativa.
Elon Musk ficou mais pobre depois de criticar Alexandre de Moraes
Alegação: em 15 de abril de 2024, Thiago dos Reis alegou que “a Tesla de Elon Musk já perdeu R$ 186 bilhões em valor de mercado após os ataques do ex-trilionário a Alexandre de Moraes!”
Nota da Comunidade: os usuários esclareceram que “não há indícios que a queda das ações da Tesla esteja relacionada com as interações entre Elon e Alexandre de Moraes” e que todo o setor de carros elétricos “passou por essa tendência”, mencionando a montadora chinesa BYD. A fonte citada foi o site Tecmundo.
Contexto da Gazeta do Povo: revoltado pelas revelações dos Twitter Files Brasil, Elon Musk perguntou a Alexandre de Moraes no X por que o ministro aplica tanta censura, o comparou ao vilão Darth Vader e alegou que Moraes queria aplicar censura enquanto obrigava o X a dizer aos censurados que haviam violado termos de serviço, sem revelar de onde partia a ordem. Ele prometeu desbanir os banidos por ordem judicial, mas não cumpriu a promessa até o momento. O valor de mercado da Tesla dado por Reis na data, US$ 514 bilhões, estava correto. Ele comemorava que havia baixado de US$ 550 bilhões anteriores. Duas semanas depois da postagem do influenciador, a Tesla subiu para US$ 619 bilhões e hoje está avaliada em US$ 544 bilhões, o que ilustra a volatilidade do mercado e a falsidade da relação de causa sugerida por Reis.
Insinuação de culpa do bolsonarismo por morte do irmão da deputada Sâmia Bomfim
Alegação: em 05 de outubro de 2023, Reis convidou seus seguidores a “ligar os pontos”, sugerindo uma conexão entre o assassinato do médico Diego Bomfim, irmão da deputada Sâmia Bomfim (Psol-SP), e os apoiadores de Jair Bolsonaro, aos quais ela faz oposição.
Nota da Comunidade: os checadores do X acrescentaram uma tarja à postagem do influenciador petista informando que uma das vítimas do atentado na Barra da Tijuca “havia sido confundida com filho de miliciano por traficantes da região, excluindo a tese de que houve motivação política”. Eles citaram fontes como R7, Diário de Pernambuco e G1.
Contexto da Gazeta do Povo: na madrugada do mesmo dia da postagem de Reis, três homens armados dispararam mais de 30 tiros contra Diego e três outros médicos que o acompanhavam, Marcos Corsato, Perseu Almeida e Daniel Proença. Somente Proença sobreviveu. As investigações seguem em curso, mas a Polícia Civil acredita que Almeida foi confundido com o miliciano Taillon Alcântara Pereira Barbosa, marcado para morrer. A deputada Sâmia Bomfim, em entrevista ao site Congresso em Foco dois meses após as execuções, disse que vê fragilidades na investigação, mas aceitou que a tese da confusão de identidade “é a única tese que existe”. Ela pediu pela construção de uma “cultura de paz” e disse que tudo o que a família quer é “o máximo de informação possível”.
Tentativa de diminuir resultados do governo Bolsonaro na economia
Alegação: em 1º de junho de 2023, chamando Jair Bolsonaro de “genocida”, Thiago dos Reis alegou que durante seu governo “o PIB não subia 1,9% nem em um ano, foi só entrar o Lula que cresce” (sic). Ele também provocou o agro e lançou seu bordão “chorem mais”.
Nota da Comunidade: os participantes do programa de checagem do X foram categóricos: “a informação é falsa”. Citando o G1, informaram que o PIB brasileiro cresceu 2,9% em 2022, ainda sob Bolsonaro.
Contexto da Gazeta do Povo: o resultado do primeiro ano do governo de Lula foi idêntico a 2022, de 2,9% de crescimento do Produto Interno Bruto. Há que se observar que o governo anterior enfrentou o desafio da pandemia, que fez o PIB encolher quase 9% só no segundo trimestre de 2020. Quando se analisa o ano de 2023 por trimestre, nota-se que o crescimento foi concentrado apenas no primeiro semestre, indo a zero no terceiro e quarto trimestres, segundo o IBGE. A projeção do próprio governo para 2024 é uma continuidade nessa estagnação. De fato, o crescimento no primeiro trimestre deste ano foi de 0,8%, resultado que o IBGE atribui ao comércio. Gastador, o governo passou a taxar em 20% compras por aplicativo com valor inferior a US$ 50, decepcionando até mesmo outros influenciadores pró-governo como Felipe Neto.
Associação do assassino da creche de Santa Catarina a Bolsonaro e Sergio Moro
Alegação: em 5 de abril de 2023, Thiago dos Reis afirmou que “o terrorista que assassinou quatro crianças em creche em Santa Catarina tem várias fotos de apoio ao Bolsonaro e ao Sergio Moro”. “Não falha um”, comentou. “Mais uma tragédia que esses nazistas causam no Brasil, precisam ser parados o quanto antes!”
Nota da Comunidade: os checadores, citando G1 e CNN, informaram que “não há qualquer menção na imprensa ou evidências nas redes sociais de que o assassino tenha qualquer vínculo político com qualquer partido” e que a polícia “divulgou que trabalha com a percepção de ser um fato isolado”.
Contexto da Gazeta do Povo: Santa Catarina sofreu dois ataques a escolas que resultaram em nove mortes nos anos de 2021 e 2023, o que coloca o estado no topo de ocorrências desse tipo de crime. O crime ao que o influenciador petista se refere aconteceu no dia de sua postagem em Blumenau, na creche Cantinho Bom Pastor, com quatro crianças mortas e cinco feridas quando um homem de 25 anos invadiu o local. Enquanto as autoridades estaduais desenvolvem diversas iniciativas para prevenir mais casos, membros do governo federal tentaram usar a tragédia para impulsionar o PL das Fake News e até alegar que os videogames são os culpados por esse tipo de crime, uma alegação não amparada pela ciência. Não há na cobertura da tragédia qualquer menção à afiliação política do assassino. O indivíduo, que trabalhava como motoboy, já tinha passagem pela polícia por porte de drogas e por esfaquear o padrasto e um cão. Também usou arma branca contra as crianças. A Polícia Civil afirmou que ele estava em surto psicótico.
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