• Carregando...
Detalhe da capa do livro 'Miracle Child : The Journey of a Young Holocaust Survivor' ('Criança milagrosa: A jornada de um jovem sobrevivente do Holocausto'), autobiografia de Anita Epstein
Detalhe da capa do livro ‘Miracle Child : The Journey of a Young Holocaust Survivor’ (‘Criança milagrosa: A jornada de um jovem sobrevivente do Holocausto’), autobiografia de Anita Epstein| Foto: Divulgação

Anita Epstein nasceu na miséria do gueto de Cracóvia, na Polônia, durante a Segunda Guerra Mundial. Para salvá-la da ameaça nazista, seus pais a abandonaram aos quatro meses de idade.

Escondida em uma valise de couro e sedada para que seus gritos não a denunciassem, ela passou pelos guardas da SS. Seu pai, Salek Kuenstler, a entregou para uma família polonesa, que obteve uma certidão de nascimento falsa e a batizou na Igreja Católica para esconder sua identidade judaica.

Ele morreria em um campo de concentração nazista, junto com seu pai (avô de Anita) e seus irmãos. Mas a mãe de Anita, Eda Kuenstler, sobreviveu aos campos de concentração de Auschwitz e de Bergen-Belsen. Meses depois de sua libertação, ela apareceu na casa da família católica na Polônia para recuperar sua filha. Anita, então com 3 anos, não a reconheceu como mãe. Ela já tinha mãe.

Ela "me disse que eu tinha um nome que eu não conhecia, uma família que eu não conhecia e uma religião que eu não conhecia", escreveu Epstein em um livro de memórias, "Miracle Child: A jornada de um jovem sobrevivente do Holocausto", "recordando o retorno de sua mãe dos campos."

"Eu não quero ir!" Anita gritou quando saiu da única casa que conhecera. "Por favor, mamãe, não deixe ela me levar!"

Em seu livro de memórias — co-escrito com o marido, Noel Epstein, e publicado no ano passado — Anita descreveu a "ansiedade recorrente" que sua mãe sofreu durante o Holocausto, imaginando se sua "menina" ainda estaria viva.

Durante vários anos, ela e sua mãe viveram em campos de refugiados em toda a Europa até conseguirem lugar em um navio para os Estados Unidos, em 1949.

"Eu consegui ter uma vida plena, apesar de cheia de cicatrizes", escreveu Epstein em um artigo publicado no jornal israelense Haaretz, em 2010. Ela tinha marido, duas filhas, cinco netos, uma casa nos subúrbios de Washington e um bom trabalho. Ela morreu em 27 de junho, aos 76 anos, em sua casa em Silver Spring, Maryland. A causa foi complicações da doença de Parkinson, disse seu marido, Noel Epstein.

Cadáveres e ratos

Anita Kuenstler nasceu em 18 de novembro de 1942, em um hospital improvisado, que mal dava para chamar de hospital, no gueto de Cracóvia. Sua mãe, lembrou Anita mais tarde, descreveu-o como "um quarto frio, a janela coberta com um lençol, uma única vela servindo de luz".

Desde o verão de 1941, seus pais moravam com outras três famílias em um único cômodo do gueto. Cadáveres cobriam as ruas. O lixo se acumulou em todos os lugares e os ratos se multiplicaram.

"Quando a gravidez de minha mãe começou a aparecer, ela tentou se manter fora da vista da SS, a fim de que não a matassem como tinham feito com as outras mulheres judias grávidas", escreveu Epstein.

Após o nascimento, seu pai, filho de uma família abastada de Cracóvia, fez arranjos para que sua filha fosse cuidada por uma família amiga, os Sendler.

Zofia Sendler, que já era mãe de dois filhos e uma filha, batizou e renomeou Anita como Anya Kasperkevitch. Uma corrente com uma pequena cruz de prata foi colocada em volta do pescoço.

Também foi confiada aos Sendler uma fotografia de Eda Kuenstler com uma inscrição na parte de trás: "Esta é a verdadeira mãe de Anita".

Depois da guerra, lembrou Epstein, muitos sobreviventes a consideravam "criança milagrosa".

Segundo Patricia Heberer Rice, historiadora sênior do Museu Memorial do Holocausto dos EUA em Washington, "poucos bebês ou crianças muito novas, não resgatadas ou escondidas, sobreviveram ao Holocausto. A estimativa é que entre 1,2 milhão e 1,5 milhão de crianças judias morreram no Holocausto.”

Chegando em Nova York com a mãe em 1949, Anita falava pouco inglês. Ela freqüentou as escolas públicas da cidade e foi colocada em uma classe para crianças com atrasos no desenvolvimento. Mas ela mais tarde se destacou academicamente e em 1966 se formou no Brooklyn College.

Em 1963 ela se casou com Noel Epstein, que mais tarde se tornou um editor no Washington Post.

Anita Epstein trabalhou como lobista durante 30 anos, especializando-se em questões comerciais norte-americanas, e foi diretora de assuntos governamentais da Associação Nacional de Conselhos Estaduais de Educação. Ela era fluente em polonês e alemão e ajudava imigrantes a aprender inglês.

Durante anos, ela manteve contato com Zofia Sendler e, em 1985, retornou a Cracóvia para encontrar a mulher que a protegera durante a guerra.

A experiência de Epstein como sobrevivente do Holocausto a deixou com uma sensação permanente de fragilidade e medo de que tudo o que ela valorizava e amava em sua vida pudesse ser facilmente perdido.

Entre seus filhos e netos, ela escreveu em "Miracle Child", ela era "notória por ter comprar muitas jaquetas e casacos para ter certeza de que nunca ficariam com frio".

Anita Epstein
Anita Epstein| Family photo
0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]