O encontro anual da Comissão da Condição da Mulher, da ONU, terminou na semana passada em Nova York. Delegados e ativistas de todo o mundo se reuniram para discutir as mudanças climáticas, o meio ambiente e a redução de risco de desastres com a “igualdade de gênero no [centro] das soluções”. Ou seja, foi o de sempre.
Qualquer que seja o tema declarado, as feministas radicais, com seus aliados nos governos ocidentais e na burocracia da ONU, usam o evento anual como um disfarce para políticas radicais como o aborto sob demanda. Este ano, acobertaram a sua promoção do aborto com a ideologia de gênero, esquerdista, e juntaram-na à bem financiada agenda climática.
A delegação dos Estados Unidos na Comissão incluiu partidários radicais do governo Biden. Jennifer Klein, diretora do Conselho de Políticas de Gênero da Casa Branca, era uma. Ela liderou o esforço da Casa Branca para infundir ideologia de gênero em todas as políticas dos Estados Unidos.
Outro membro da delegação era a adolescente Alexandria Villaseñor, uma “ativista de justiça climática”. A Casa Branca usou a ocasião da Comissão para chamar atenção à sua estratégia de equidade e igualdade de gênero, bem como para se gabar, perante o público doméstico, do seu apoio à equivocadíssima Lei de Violência Contra a Mulher.
Ligar políticas esquerdistas de aborto e o gênero ao meio ambiente não é nada novo. Tampouco é altruísta. A ONU carimbou cem bilhões de dólares dos fundos anuais para combater a mudança climática. Pode parecer legal, mas cria um grande incentivo para transformar a agenda do gênero e do aborto em “justiça climática”.
O Núcleo LGBTI da ONU – do qual os Estados Unidos são membro – acabou de fazer isso. Sua declaração à Comissão diz que “é fundamental abordar as relações cruciais entre igualdade de gênero, direitos humanos, mudança climática e questões ambientais, e os impactos sobre pessoas LGBTI.”
É a mesma conversa no relatório do Secretário Geral das Nações Unidas. O relatório defende que “as crises e os desastres climáticos e ambientais podem restringir a saúde sexual e reprodutiva, bem como os direitos das mulheres e meninas.”
Mais ainda: alega que a “discriminação de gênero se acrescenta aos riscos das mulheres jovens, das meninas e das pessoas gênero-diversas.” Como o Secretário Geral embasa essas alegações? Com relatórios da International Planned Parenthood Federation e da Women Deliver, duas das mais notórias defensoras do aborto no mundo.
Pouco antes da abertura da Comissão da Condição da Mulher, a Organização Mundial de Saúde publicou suas novas diretrizes sobre o aborto. Clama pela “total descriminalização” do aborto; pede que o aborto esteja disponível conforme “a solicitação da mulher, menina ou outra pessoa grávida”; e o uso de telemedicina para “fornecer serviços médicos de aborto integrais ou parciais.”
Chega ao ponto de pedir que “se torne indefensável” a “objeção de consciência” dos médicos e de outros profissionais de saúde. Muitos palestrantes da Comissão promoveram aquilo que o Centro de Direitos Reprodutivos, pró-aborto, elogiou como sendo “as diretrizes” da OMS “mais progressistas até hoje.”
Infelizmente os defensores internacionais do aborto têm na Casa Branca de Biden uma aliada compromissada. Os eventos da Comissão e o documento que dela resultou mostram quanto peso político e diplomático o apoio dos Estados Unidos dá aos seus propósitos radicais.
A programação de eventos oficiais paralelos revela como são radicais os discursos e as demandas na Comissão da Condição da Mulher. A maioria desses eventos toca em pelo menos duas, se não todas as três prioridades: ideologia de gênero, aborto e mudança climática. Eis uns poucos exemplos:
– O Fundo de Populações das Nações Unidas apoiou um evento sobre “A crise climática: Uma ameaça à igualdade de gênero e à saúde e direitos sexuais e reprodutivos das mulheres e meninas.” Seu propósito declarado era discutir o “aspecto da crise climática amiúde negligenciado, [que] é como ela se intersecciona com a saúde e os direitos sexuais e reprodutivos”.
– Outro evento, com apoio da Suécia, da Argentina, da International Planned Parenthood Federation e da Associação Sueca Pela Educação Sexual tinha uma “conversa sobre a importância de salvaguardar o direito à autonomia corporal, incluindo o acesso a […] aborto seguro e legal.”
– Os governos do México e da Suécia uniram esforços para apoiar um evento sobre “Como a liberdade religiosa pode ser uma ferramenta para os direitos [sexuais, à saúde reprodutiva, à orientação sexual e à identidade de gênero].” Teve a participação de Victor Madrigal-Borloz, o especialista independente em orientação sexual e identidade de gênero da ONU. A propaganda do evento alegava que “os direitos humanos estão sob ataque. Agentes antidireitos estão instrumentalizando a religião e mobilizando termos como valores tradicionais, família, ‘ordem natural’ e ideologia de gênero para se opor a legislação, política e prática cruciais para a igualdade de gênero.”
É difícil crer que as Nações Unidas estejam de fato interessadas em melhorar a vida das mulheres, já que parecem promover aborto toda hora. Ademais, sua adoção da ideologia de gênero corre o risco de apagar as mulheres ao negar as realidades do sexo biológico.
Isto não é só uma preocupação de conservadores. Um crescente número de bravas feministas teme que a ideologia de gênero reduza a pó os direitos das mulheres que elas batalharam para defender. Na verdade, o aborto e a ideologia de gênero minam direitos humanos fundamentais.
Para melhorar as vidas das mulheres e meninas, as entidades das Nações Unidas – e todos os governos dos Estados membros – deveriam promover políticas pró-mulher. Isso significa promover a dignidade humana e preservar os direitos humanos inalienáveis de todos. Pressionar por aborto e políticas de gênero não só se afasta desses direitos; mina-os.
Grace Melton é membro da Heritage Foundation para temas sociais nas Nações Unidas.
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