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Menos fome, menos guerras: o mundo está melhor
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"Grande parte do mundo está em conflito e algumas na verdade estão perto do inferno”, disse o presidente Donald Trump há dois anos em um discurso diante das Nações Unidas. Muito do que o presidente diz é controverso, mas a única discordância que muitos norte-americanos de todo o espectro político talvez tenham com a frase foi o uso da palavra “algumas”. Em geral, tendemos a acreditar — equivocadamente — que o mundo está piorando.

O ser humano é naturalmente pessimista. O título de um artigo de 1998 publicano no Jornal de Personalidade e Psicologia Social resume tudo: "informações negativas têm mais impacto sobre o cérebro”. Estímulos negativos chamam mais nossa atenção do que os positivos — o que faz sentido para o instinto de sobrevivência evolutiva. Coisas boas são agradáveis, mas coisas ruins são mortais, então é melhor se ater a elas. E, levando em conta que na imprensa a atenção se traduz em dinheiro, percebemos a motivação comercial para a falta de manchetes do tipo “Milhões de pessoas dormem de barriga cheia todas as noites”.

Mas frequentemente este pessimismo nos dá uma imagem bastante imprecisa do mundo. Por exemplo, de acordo com uma pesquisa de 2013, 67% dos norte-americanos acham que a pobreza está aumentando no mundo e 68% acreditam que é impossível resolver o problema da pobreza extrema num futuro próximo. Ao mesmo tempo, a miséria caiu 80% desde 1970, de acordo com economistas da Universidade de Columbia e do Massachusetts Institute of Technology.

A verdade é que, embora haja muito com o que se preocupar, no geral o mundo está melhorando. Algumas vozes proeminentes estão apontando para isso. Pegue, por exemplo, o cofundador da Microsoft, Bill Gates, que disse acreditar que, até 2035, quase não haverá países pobres no mundo. E não se trata apenas de renda. Na saúde, educação, segurança e liberdade, o mundo está melhor, de acordo com meu colega de Harvard Steven Pinker, em seu best seller de 2018 “O Novo Iluminismo”.

Provas novas do progresso estão no recém-divulgado Legatum Prosperity Index, que se baseia em dados de 167 países — 99,4% da população mundial — abrangendo 200 indicadores de bem-estar social e econômico. (Faço parte do conselho do Legatum Institute, grupos de estudos londrino voltado para o tema da pobreza mundial, mas não me envolvi na preparação do índice). Com base nesses dados, de 2009 a 2019, 148 dos 167 países testemunharam uma melhora geral — e de forma mais drástica entre os países mais pobres do mundo.

A tendência natural de um índice assim é procurar pelo “melhor” país ou região. De acordo com a pontuação deste índice, a Dinamarca e os demais países nórdicos estão no topo, enquanto a região com a melhor pontuação é a América do Norte. Mas as verdadeiras diferenças entre os países ricos são diferenças que o índice não captou, porque correspondem a preferências pessoais. A Dinamarca, por exemplo, é o “melhor” país supondo que se quer viver numa cultura secular homogênea com alta distribuição de renda. Alguns querem isso; outros não. Outra boa notícia é que há vários “estilos de prosperidade” diferentes no mundo hoje em dia.

O relatório nos ajuda a percebermos várias coisas quando vemos o progresso nos países em desenvolvimento. Na maioria dos países, a saúde, as condições de vida e a educação avançam rapidamente. Há não muito tempo, os dois países que mais melhoraram entre 2009 e 2019, Myanmar e Togo, eram considerados por muitos causas perdidas. Eles ainda têm muito o que melhorar, mas ainda assim demonstram que o progresso é possível num período relativamente curto.

Infelizmente nem todos os países estão melhorando, mas aqui, novamente, há uma oportunidade de aprendizado. Na última década, 19 países se deterioraram. Os maiores declínios ocorrem na Venezuela (vítima de um governo incompetente e cleptomaníaco), Síria e Iêmen (que sofreram guerras civis). No geral, o índice revela que, quando os países não conseguem progredir no mundo contemporâneo, isso não se deve a características específicas da população e da região. Nenhum país está destinado à pobreza. O problema em geral é a guerra, a tirania e a péssima governança.

Ainda há muita coisa a ser feita ao redor do mundo, mas as boas notícias do Índice da Prosperidade e de pessoas como Gates e Pinker deveriam ganham mais destaque. As más notícias não só chamam nossa atenção; elas também nos desmobilizam porque, sobretudo em se tratando de pessoas distantes, elas sugerem que o desastre é inevitável, quando na verdade não é. A esperança — a crença de que algo pode ser feito, de que somos capazes — inspira a ação. Más notícias, sobretudo quanto à pobreza mundial, geralmente estimulam a sensação de impotência e, portanto, a inação.

O mundo não está piorando; ele está inquestionavelmente melhorando na maior parte dos países e para a maioria dos povos. Milhões de nossos irmãos e irmãs são mais livres, saudáveis e prósperos hoje do que jamais seriam na história da humanidade. Deveríamos agradecer por isso e decidir levar isso adiante.

*Arthur Brooks é colunista do Washington Post, professor da Harvard Kennedy School e membro da Harvard Business School.

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