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Ativista do Extinction Rebellion durante manifestação em Madri, Espanha, em 2 de dezembro de 2019.
Ativista do Extinction Rebellion durante manifestação em Madri, Espanha, em 2 de dezembro de 2019.| Foto: Gabriel Bouys/AFP

Na hora do rush do dia 15 de abril deste ano, milhares de pessoas saíram às ruas e bloquearam os principais acessos do distrito financeiro de Londres, causando transtornos terríveis a quem estava na região. No dia seguinte, mais protestos ocupando pontos-chaves da cidade, discursos e músicas foram utilizados para sensibilizar a população. O protesto durou dez dias, com um saldo de mais de mil pessoas presas. Cerca de 10 mil policiais foram mobilizados para a manutenção da ordem. A pauta: o combate às mudanças climáticas. O grupo, Extinction Rebellion.

As manifestações de abril foram as maiores que o grupo conseguiu organizar até aqui. E realmente chamaram a atenção do Reino Unido para as questões climáticas, como exemplo, o governo britânico legislou para que o país atingisse zero emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2050.

Mas o grupo ainda quer mais.

O Extinction Rebellion (ou, XR) quer que os governos declarem que há uma “emergência climática e ecológica” cuja retificação deve ser imediata. O movimento se iniciou em 2018 no Reino Unido e agora possui grupos que querem agir baseados nos mesmo princípios em dezenas de países.

Segundo sua página oficial, Extinction Rebellion é um “movimento global que usa desobediência civil não-violenta numa tentativa de impedir a extinção em massa e minimizar o risco do colapso social”. Eles se identificam como um movimento “sem líderes, descentralizado, internacional e apolítico”. Sua logo é uma ampulheta dentro de um círculo – que representa o tempo que está se acabando para muitas espécies.

A sexta extinção em massa, aludida pelo movimento, é a que estaria acontecendo atualmente: nas última décadas identificaram-se bilhões de populações regionais de vida selvagem que foram perdidas. Segundo os cientistas, devido às intervenções humanas na natureza. A última vez que se classificou um período como de extinção em massa foi o do Cretáceo, que pôs fim aos dinossauros.

Isso talvez explique por que um dos co-fundadores do movimento, Roger Hallam, afirmou em entrevista para BBC que não se importava que sua mensagem instigue o desespero e a raiva, pois esses sentimentos “fazem as pessoas se movimentarem e começarem a agir”.

Hallam, de 53 anos, era um simples fazendeiro de vegetais orgânicos no interior do País de Gales, com uma área de apenas quatro hectares. Até que, em suas próprias palavras, o clima “ficou estranho” e causou uma falha nas colheitas. Isso o fez mudar radicalmente de vida e se tornar o ativista conhecido por criar transtornos nas ruas movimentadas de Londres.

“Todos os grupos e ongs falharam na missão de convencer as pessoas e os governos em diminuir as emissões de carbono”, continuou ele em entrevista para BBC, “só um movimento de desobediência civil em massa pode nos livrar do colapso social e da fome”.

A sua agenda é ambiciosa. No Reino Unido, além declarar a “emergência climática”, o grupo quer o compromisso do governo para reduzir as emissões de carbono para zero em 2025 e a criação de uma assembleia de cidadãos que possam “monitorar as mudanças”.

Ao ser questionado sobre a impossibilidade disso sem a quebra do sistema econômico atual, e que outros grupos de ambientalistas acham essas metas exageradas, Hallam respondeu: “não temos escolha, ou é isso ou o colapso social”.

Sua colega, Gail Bradbrook, de 47 anos, também co-fundadora do Extinction Rebellion, e PhD em biologia molecular, disse em outra oportunidade à BBC, “nós deixamos isso [as questões climáticas] para tão tarde que precisamos avançar de uma maneira semi-milagrosa para lidar com essa situação”.

Bradbrook filiou-se ao Partido Verde (Green Party) quando tinha 14 anos, mas o longo período de ativismo sem resultados a deixou frustrada. Foi então que em 2016, em um profundo retiro na Costa Rica, onde ela tomou duas drogas psicodélicas, ibogaína e ayahuasca, que ela teve a ideia de criar o XR – nesse período ela também teria encontrado seu colega de movimento, Roger Hallam, num fórum online.

Em entrevista para o jornal online WhatIsEmerging, ela disse que “a razão pela qual levei minha consciência a tal extremo não foi apenas para fazer a mudança interior em mim – eu queria respostas sobre como eu poderia trazer mudanças sociais”.

Segundo o site oficial do movimento, qualquer pessoa ou grupo pode organizar por contra própria e fazer ações no nome e no espírito do XR, desde que estas estejam de acordo com os princípios e valores do movimento. Apesar disso os fundadores se colocaram o desafio de tornar o XR um movimento global.

Aqui no Brasil, existem um grupo e uma página de Facebook ligadas ao XR, Extinction Rebellion Brasil e Rebelião ou Extinção Rio. Até agora mais dedicados a divulgar as ações do XR pelo mundo e a criticar as políticas ambientais do governo Bolsonaro.

Apesar de o XR pregar a rebelião civil pacífica, não é contra a possibilidade de causar danos como quebrar janelas “desde que não se coloque ninguém em risco”. Contudo, em setembro deste ano, Hallam foi preso pois planejava pilotar drones na zona de exclusão em torno do aeroporto de Heathrow. O dano que um ato inconsequente como esse poderia causar mostra que o grupo não é tão pacífico como alega.

Após seis semanas na prisão, Hallam afirmou que a cadeia “não é o fim do mundo” e sugeriu em suas redes sociais que os ativistas forçassem suas prisões para criar uma situação que chamasse a atenção do governo. Muitos seguidores criticaram-no por isso, pois a prisão seria favorável apenas para “brancos de classe média” como ele.

Outros grupos afirmam que os transtornos gerados pelo XR, além de gerarem prejuízos aos cofres públicos e à população, apenas afastam potenciais apoiadores das causas do clima, por conta de suas atitudes radicais.

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