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O que está por trás dos crimes de ódio contra asiáticos nos EUA
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A atriz Karen Fukuhara, 30, que atua na série The Boys da Amazon, contou no Instagram que foi golpeada na cabeça quando caminhava para uma cafeteria na última quinta-feira (17). “Não fizemos contato visual antes, eu não estava fazendo nada fora do comum. (...) Primeiro pensei em confrontá-lo, mas ele começou a andar na minha direção e eu não achei que valesse o risco. Depois de alguns segundos nos olhando, e dele gritando comigo, ele foi embora”.

Karen não conta o que o perpetrador estava dizendo, mas deixa a entender que o conteúdo era racista: “Esta é a primeira vez que fui agredida fisicamente, mas xingamentos raciais e ações danosas foram direcionadas a mim no passado”. Ela tem pais japoneses, mas nasceu em Los Angeles. Sua personagem na série, Kimiko Miyashiro, é marcada pelo trauma e tem força sobre-humana.

O caso não é isolado. Desde ao menos março de 2020, estão em ascensão agressões físicas contra pessoas de origem asiática nos Estados Unidos. O New York Times apurou 110 ataques a asiáticos entre março de 2020 e abril de 2021, incluindo uma morte de um homem de origem tailandesa. Vídeos de idosos asiáticos sendo empurrados ao chão ou levando socos chocaram as redes sociais. O jornal atribui muito desses casos à xenofobia antiasiáticos que veio com a pandemia.

Em alguns casos, os agressores diziam “você é o vírus”, “você está infectado” e “volte para a China”. Uma senhora filipino-americana foi derrubada na rua, o agressor pisou em sua cabeça e disse “você não é bem-vinda aqui”. Os casos saltaram de três em 2019 para 28 em 2020. Uma ONG relatou que foram 3800 incidentes de ódio racial contra asiáticos em 2020 nos Estados Unidos.

Quando a vitimização é falsa

Contrastando com o caso de Karen Fukuhara, que é parte de um padrão de aumento de ataques de racistas antiasiáticos nos Estados Unidos, estão fraudes como o caso de Jussie Smollett, ator mestiço que se apresenta como negro, ex-estrela do programa de TV Empire. Ele foi condenado este ano a uma pena de 30 meses, incluindo 150 dias de prisão e 145 mil dólares em multa e restituição por ter forjado um crime racista contra si em Chicago no começo de 2019.

Ele pagou a dois irmãos nigerianos para agredi-lo, e elaborou uma história fictícia em que foi vítima de agressores apoiadores de Donald Trump que bateram nele, colocaram uma corda em laço em seu pescoço (alusão aos linchamentos de negros) e atiraram nele água sanitária quando saiu para comprar um sanduíche tarde da noite, em um dia especialmente frio. Chamou a atenção da polícia que o sanduíche estava intacto apesar do ataque, e que ele continuava com a corda no pescoço quando os policiais chegaram à sua residência. Na época, os atuais presidente e vice-presidente dos Estados Unidos acreditaram no ataque e publicaram apoio nas redes sociais. O ator passou poucos dias na cadeia e foi libertado por um tribunal de recursos.

Em seu livro Hate Crime Hoax: How the Left is Selling a Fake Race War (Fraude de Crime de Ódio: Como a Esquerda Está Forjando uma Falsa Guerra Racial, em tradução livre; Regnery Publishing 2019), o cientista político Wilfred Reilly compilou 409 alegações falsas ou duvidosas de crimes de ódio da última década.

Reilly diz que casos como o de Smollett não deveriam surpreender, já que as fraudes não são mais incomuns. Os sete casos anteriores de supostos ataques racistas que também ganharam notoriedade na imprensa do país se revelaram falsos, disse Reilly no USA Today. Sete mil casos de crimes de ódio são relatados pelo FBI por ano, menos de 10% dos quais são cobertos na imprensa. Ele estima que as fraudes representam 15% dos casos ou mais. Há casos de fraude de crime de ódio que vão contra o padrão esperado: um apoiador de Trump, por exemplo, forjou vandalismo em seu veículo e acusou o movimento Black Lives Matter.

Quando o politicamente correto protege abusadores de crianças

No livro Easy Meat: Inside Britain’s Grooming Gang Scandal (Carne Fácil: Por dentro do escândalo das gangues de abuso sexual da Grã-Bretanha, em tradução livre; New English Review Press, 2016), o britânico Peter McLoughlin revela que crenças politicamente corretas condenaram meninas a serem estupradas por décadas por gangues formadas principalmente por homens de origem asiática, especialmente muçulmanos, no Reino Unido e nos Países Baixos.

As vítimas eram especialmente meninas brancas e/ou da religião sikh, que os abusadores não respeitam: ou seja, os estupros pedofílicos, em que as meninas geralmente eram atraídas por um homem que agia como seu namorado, eram crimes de ódio com base em características raciais e religiosas.

Em um documento a respeito desses crimes na cidade de Rotherham, no condado de Yorkshire (norte da Inglaterra), oficiais dizem que “Devemos ter grande cuidado ao redigir este relatório para assegurar que suas descobertas incluam os valores da diversidade de Rotherham. É imperativo que sugestões de um fenômeno cultural mais amplo sejam evitadas” (como noticiado no jornal The Times em 24/09/2012). O fenômeno de gangues de estupradores com as características específicas acima já era conhecido desde 2001 nos Países Baixos. O medo das autoridades de acusações de racismo claramente teve um grande papel em sua longeva impunidade nos dois países.

No Brasil, o pensador baiano Antonio Risério causou um furor nas redes sociais após publicar em janeiro passado uma crítica a identitários que querem alterar unilateralmente a definição de racismo para isentar pessoas negras de serem capazes de cometer esse erro moral e criminoso. Ele deu exemplos de pessoas negras que foram racistas. Foi a segunda polêmica provocada pelo escritor após a publicação de seu livro As Sinhás Pretas da Bahia: Suas Escravas, Suas Joias (Topbooks, 2021), sobre mulheres negras que ascenderam socialmente no Brasil e tinham escravas.

Uma carta aberta de jornalistas contra Risério foi publicada, críticos disseram nas redes sociais que estavam trêmulos e chorando por causa dos textos dele. Também foi publicada uma carta de apoio com mais de 800 assinaturas. Algo observável nos vídeos de ataques a asiáticos nos Estados Unidos é que com frequência os agressores são negros. O New York Times não menciona este fato em suas reportagens a respeito. Seria pelo mesmo temor das autoridades britânicas?

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