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Dados sobre mortes após a vacina envolvem muitas variáveis e ainda não são tão precisos.
Dados sobre mortes após a vacina envolvem muitas variáveis e ainda não são tão precisos.| Foto: EFE

O ministro da saúde Marcelo Queiroga alegou no dia 17 de janeiro que quatro mil pessoas poderiam ter morrido no Brasil em decorrência das vacinas para COVID-19. Ele chegou à conclusão com base em estatísticas da Secretaria de Vigilância em Saúde que indicam 1,7 mortes a cada 100 mil doses. Diferentes publicações checaram a alegação do ministro, apontando que grande parte dessas mortes está ainda sob investigação, e afirmando que o número “correto” seria em torno de dez mortes no total.

Reestimando a estimativa

A taxa de mortalidade da vacinação para covid ainda é incerta na literatura especializada. Em maio de 2021, os chineses Gang Lv e Jing Yuan, do Hospital Geral Chinês PLA em Pequim e da Faculdade de Farmácia da Universidade Fudan, em Xangai, respectivamente, publicaram na revista Frontiers in Medicine uma estimativa de 8,2 mortes por milhão de vacinados. O estudo considerou dados de americanos do Sistema de Relato de Eventos Adversos das Vacinas (VAERS), além de dados de vacinados no mesmo período considerado. Os pesquisadores incluíram todas as vacinas para covid aplicadas nos Estados Unidos, o que exclui a Coronavac.

O Ministério da Saúde informa em seu site que 164,8 milhões de brasileiros receberam ao menos uma dose e cerca de 138,2 milhões receberam duas. Aplicando a estimativa de mortalidade das vacinas para covid dos cientistas chineses, o número de mortos esperado seria de até 1350 pessoas, aproximadamente, o que está mais próximo da estimativa do ministro do que da resposta dos checadores. Porém, uma das limitações dessa estimativa é justamente a falta de Coronavac nos dados originais em que os pesquisadores chineses se basearam.

Em novembro, outro grupo de chineses publicou uma revisão no periódico Infectious Diseases of Poverty uma revisão sobre a eficácia e os riscos dessas vacinas. A revisão, que incluiu 58 estudos, tem primeira autoria de Qiao Liu e Chenyuan Qin, ambos da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Pequim. A estimativa dos cientistas para morte após a vacinação é de 0,1 a 0,2 por 10 mil. Aplicada ao Brasil, ela leva a uma expectativa de 2800 pessoas, aproximadamente.

Banco de Dados

De acordo com dados do SUS referentes a eventos adversos após a vacinação no Brasil, datados de 27 de dezembro. Há mais de 162 mil relatos de eventos adversos no banco, registrados entre 1º de janeiro e 31 de outubro de 2021 por profissionais de saúde no sistema e-SUS Notifica. Há 709 relatos de morte após a vacina neste período.

Não se pode considerar que esses relatos são evidência de que os eventos adversos foram causados pela vacinação. São observações de acontecimentos registrados após alguma das doses ser aplicada, e nem todo evento ocorrido após outro o faz por ser causado por ele. Num Boletim Epidemiológico de março de 2021, a Secretaria de Vigilância em Saúde analisa os casos de morte e outros possíveis eventos adversos relatados após a vacinação durante o período de um mês entre janeiro e fevereiro de 2021 — na época, só havia inoculação com as vacinas AstraZeneca e Coronavac. Nesses 30 dias, 139 mortes foram relatadas. Entre elas, 93% foram óbitos de idosos maiores de 60 anos, na maioria residentes em casas de cuidados para essa faixa etária. É uma população vulnerável, e boa parte dessas mortes pode ter resultado da própria covid. O relatório conclui que 70% dessas mortes não decorrem das vacinas e os outros 30% não dispunham de informações suficientes e aguardavam informações adicionais como laudos de necropsia. Nenhum dos 139 óbitos pode ser atribuído às duas vacinas dadas na época.

A análise de mortes associadas às vacinas para COVID-19 é um jogo de agulhas no palheiro, devido à baixa frequência desses casos. As farmacêuticas fabricantes das vacinas, como confirmou o ministro, são isentas de responsabilidade pelos efeitos adversos como estabelecido em contrato com os governos ao redor do mundo. Os governos, que recomendaram e em muitos casos tornaram essas vacinas compulsórias, seriam os responsáveis por reparar vítimas dos efeitos colaterais. Dez mil australianos, por exemplo, devem pedir a seu governo indenizações de até 20 mil dólares australianos por terem sofrido com esses efeitos.

É importante lembrar que o número de mortos não-vacinados e não-imunizados por infecção prévia por covid é sempre superior nas estimativas ao número de pessoas que podem ter falecido em decorrência das vacinas para a doença.

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