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O ministro Paulo Guedes ainda não se manifestou sobre a intervenção do presidente Jair Bolsonaro na Petrobras.
O ministro Paulo Guedes ainda não se manifestou sobre a intervenção do presidente Jair Bolsonaro na Petrobras.| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

A demissão do presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, e sua substituição pelo general Joaquim Silva e Luna, anunciadas na última sexta-feira (19) pelo presidente Jair Bolsonaro, deixaram os investidores em polvorosa. Em três dias, a empresa perdeu cerca de 70 bilhões de reais em valor de mercado.

“O petróleo é nosso ou de um pequeno grupo de pessoas?”, disse o presidente, em referência à política de preços da empresa. Nas redes sociais, a frase foi logo associada ao slogan “O petróleo é nosso”, do ditador Getúlio Vargas, proferida ainda na época do Estado Novo. Em 2006, quando foram descobertos os primeiros indícios do pré-sal, partidos de esquerda passaram a advogar pelo monopólio estatal da exploração com o tema “o petróleo tem que ser nosso”.

Muitos foram os economistas, políticos e ex-aliados do governo que se manifestaram contra a decisão do presidente. O ex-secretário de Desestatização, Salim Mattar, publicou em suas redes sociais: “Mais um dia acordo inconformado e indignado com o rumo do Brasil. Esta nova interferência na Petrobras só confirma que é preciso privatizar TODAS as estatais e, assim, reduzir o tamanho do estado".

Em entrevista ao Estadão, Mattar culpou o sistema de reeleição pela derrocada do projeto liberal de Bolsonaro. “Nós perdemos o foco como país, não vai dar certo, não tem jeito de dar certo. (…) Em vez de um governante tomar as medidas necessárias para sanar as contas públicas, que sempre são medidas impopulares, acaba pensando na reeleição e acontece isso que está acontecendo hoje”.

O ex-secretário Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do Ministério da Economia, Paulo Spencer Uebel, entrou em rota de colisão com o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) no Twitter, ao publicar: “Nunca o governo Bolsonaro foi tão parecido com o Governo Dilma como hoje. Nesse momento, Guido Mantega faria absolutamente o mesmo que Paulo Guedes está fazendo. Essa similaridade deve arrepiar qualquer cidadão de bem!”. Questionado pelo filho do presidente, Uebel insistiu que Bolsonaro foi eleito para fazer “o oposto do PT”.

O empresário e ex-presidente do Partido NOVO, João Amoedo, escreveu: “Perda de valor de mercado das estatais após a demissão do presidente da Petrobras e falas de Bolsonaro: Petrobras: R$100 bilhões; Banco do Brasil: R$13 bilhões; Eletrobras: R$5 bilhões. O resultado das intervenções é a destruição de riqueza”.

O deputado federal Alexis Fontayne (NOVO-SP) reforçou a comparação com o petismo. “Nada mais velho e populista do que dizer “o petróleo é nosso” Nosso quem? De quem está intervindo numa empresa de capital aberto mas de controle estatal? O verdadeiro dono (o povo) acabou de perder 100 bilhões pela barbeiragem anti liberal. Bolsonaro já pode se filiar ao PT”. Em princípio, a perda de valor de mercado não necessariamente afeta o caixa ou o balanço da estatal.

O presidente do Instituto Mises, Hélio Beltrão, também comparou a ação com a “velha política”. O Instituto Mises é um dos maiores think-tanks liberais do Brasil, por onde passaram nomes como o economista Ubiratan Jorge Iorio e o cientista político Bruno Garschagen. Seu nome é uma homenagem ao economista Ludwig von Mises, fundador da Escola Austríaca e ferrenho defensor do livre mercado.

Beltrão, que se define como anarcoapitalista, ironizou a permanência do ministro da Economia, Paulo Guedes, no cargo. “Por que Guedes não sai do governo? Porque está trancado a sete Chávez”, tuitou Beltrão,

Até o momento, Guedes não se manifestou sobre o caso.

A interferência do Executivo na estatal foi marca de governos petistas, um padrão que se repete em países governados pela esquerda, como a Venezuela de Hugo Chávez e Nicolás Maduro. Não à toa, o economista Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e responsável pela implementação do Plano Real, publicou em sua conta no Twitter: “Bom dia, Venezuela”.

O apoio à troca de comando na Petrobras para regulação da política de preços apareceu no jornal de esquerda Brasil 247, que exaltou a decisão em várias reportagens, elogiando até o uso do jargão varguista.

“O presidente Jair Bolsonaro é merecedor das mais contundentes críticas por conta de sua flagrante incapacidade de governar e sua baixa estima aos valores democráticos. Contudo, ele acerta quando se mostra disposto a demitir o presidente da Petrobras, Roberto Castelo Branco, um tecnocrata fiel ao liberalismo entreguista, que transformou a maior estatal brasileira em território livre de grupos rentistas”, escreveu o jornalista Ricardo Bruno.

No Twitter, o empresário Leandro Ruschel, que defende o liberalismo, comentou: “Esquerda em peso apoiando intervenção na Petro. Querem maior prova que é tiro no pé?”.

A troca de comando da Petrobras é prerrogativa do governo federal, que controla sete das onze cadeiras do conselho da estatal. Tanto o presidente Jair Bolsonaro quanto o general Joaquim Silva e Luna afirmam, até agora, que não haverá interferência na política de preços.

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