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O privilégio de morar nos Estados Unidos permite que os pobres tenham mais recursos materiais do que a maioria dos outros países ricos.
O privilégio de morar nos Estados Unidos permite que os pobres tenham mais recursos materiais do que a maioria dos outros países ricos.| Foto: Pixabay

Um estudo revolucionário do instituto Just Facts descobriu que, levando em conta toda a renda, caridade e benefícios assistencialistas não-monetários como moradia e alimentos subsidiados, os 20% mais pobres dos norte-americanos consomem mais bens e serviços do que a média nacional de todas as pessoas nos países mais ricos. Entre eles estão a maioria dos países da prestigiada Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), incluindo seus membros europeus. Em outras palavras, se os “pobres” norte-americanos fossem um país, este país seria um dos mais ricos do mundo.

O estudo foi analisado pelo dr. Henrique Schneider, professor de economia da Universidade Nordakademie, na Alemanha, e economista-chefe da Federação Suíça de Pequenas e Médias Empresas. Depois de examinar os dados e a metodologia do instituto Just Facts, ele concluiu: “O estudo é sólido e segue os padrões acadêmicos. Pessoalmente, acho que ele oferece um olhar valioso sobre a pobreza e contribui consideravelmente para esse campo de pesquisa”.

O país rico “mais pobre”?

Num editorial em vídeo de 1º de julho do New York Times que repreende as “fake news” e pede uma “abordagem mais sincera” ao “mito de que os Estados Unidos são o melhor país da Terra”, os produtores Taige Jensen e Nayeema Raza dizem que os Estados Unidos “ficaram para trás da Europa” em muitos aspectos e “têm mais em comum com os ‘países em desenvolvimento’ do que gostaríamos de admitir”.

“Um bom teste” disso, dizem eles, é como os Estados Unidos se posicionam na OCDE, grupo de “36 países predominantemente ricos, ocidentais e democráticos”. Ao examinarem os rankings, eles corrompem a verdade de uma forma de viola os padrões editoriais do periódico, que diz que “você pode ter a opinião que quiser”, mas “os fatos em análise devem ter base e ser validados” e “você não pode dizer que uma batalha começou em certo dia se isso não ocorreu”.

Um exemplo é a afirmação deles de que “os Estados Unidos são o país mais rico” da OCDE, “mas também somos o mais pobre, com uma taxa de pobreza de 18% - mais próximo do México do que da Europa Ocidental”. Essa afirmação levou o Just Facts a conduzir um estudo rigoroso e original do assunto, com dados da OCDE, Banco Mundial e Departamento de Análises Econômicas do governo norte-americano. O estudo descobriu que o Times não só está errado quanto a isso como também está expressando o contrário da realidade.

Pobre comparado a quem?

A prova mais robusta contra a retórica do Times é uma nota registrada em cima dos dados da OCDE quanto às taxas de pobreza. A nota explica que a taxa mede a pobreza dentro dos países, e não entre os países. Diz a nota ainda que os números representam grupos de pessoas com “menos da metade da renda média” em seu próprio país e que, portanto, “dois países com a mesma taxa de pobreza podem ser diferentes em termos de renda relativa dos pobres”.

A verdade vem à tona quando essa medição da OCDE determina uma taxa de pobreza maior nos Estados Unidos (17,8%) do que no México (16,6%). Mas os dados do Banco Mundial mostram que 35% da população mexicana vive com menos de US$5,50 por dia. Nos Estados Unidos, esse número é de apenas 2%.

Dessa forma, as taxas de pobreza da OCDE não dizem nada sobre que país é “o mais pobre”. Ainda assim, é exatamente dessa forma que o Times trata os números.

O mesmo se aplica a discussões mais amplas sobre a pobreza, que pode ser medida de duas formas diferentes: (1) pobreza relativa ou (2) pobreza absoluta. As medições da pobreza relativa, como a mencionada pelo Times, podem enganar se a pessoa que as mostra não responde à pergunta Pobre em comparação a quem? Medições absolutas, como a quantidade de pessoas com renda abaixo de certo nível, são mais diretas e esclarecedoras.

Renda e benefícios não-mensurados

Para comparar com precisão o padrão de vida entre e dentro das nações, é necessário levar em conta todos os principais aspectos do bem-estar material. Nenhum dos dados acima faz isso.

Os dados da OCDE têm problemas sobretudo porque eles se baseiam na “renda”, o que exclui vários benefícios governamentais não-monetários e ações de caridade que são abundantes nos Estados Unidos. Entre os exemplos disso estão:

  • Saúde oferecida pelo programa Medicaid, clínicas gratuitas e o Programa de Seguro Saúde Infantil
  • Nutrição propiciada pelos cupons de comida, merenda escolar, cozinhas comunitárias, campanhas de doação de alimentos e o programa Women’s, Infants’ & Children’s
  • Moradia e benefícios por meio de aluguel social, subsídios para energia, gás e água e abrigos para os moradores de rua

Os dados do Banco Mundial incluem esses itens, mas ainda são incompletos porque se baseiam em “pesquisas de renda doméstica” governamentais, e os lares norte-americanos de baixa renda costumam subnotificar a renda e seus benefícios não-monetários nessas pesquisas. Como foi documentado num artigo de 2015 do Journal of Economic Perspectives, intitulado “As Pesquisas de Renda Domiciliar em Crise”:

  • “Nos últimos anos, mais de metade dos dólares gastos em programas assistenciais e quase metade dos dólares gastos em cupons de alimentação foram ignorados em várias importantes” pesquisas governamentais.
  • Houve um “aumento considerável” na subnotificação dos benefícios governamentais recebidos por lares de baixa renda nos Estados Unidos.
  • Essa “subnotificação de rendas” mascara “os efeitos redutores da pobreza dos programas governamentais” e leva a “um exagero nos dados quanto à pobreza e desigualdade”.

Da mesma forma, o Departamento de Análises Econômicas explica que tais pesquisas “têm problemas na contabilização das rendas e gastos e estão sujeitas à subnotificação deliberada de certos itens”. O Departamento do Censo dos Estados Unidos diz praticamente a mesma coisa, escrevendo que “por muitos motivos, existe uma tendência, nas pesquisas domiciliares, de subnotificação da renda por parte dos pesquisados”.

Há uma lição maior a ser aprendida aqui. Quando os políticos e a imprensa falam sobre desigualdade de renda, eles geralmente usam estatísticas que não conseguem levar em conta boa parte da renda e dos benefícios recebidos por lares de baixa e média renda. Isso faz com que a desigualdade seja exagerada e serve como alimento para narrativas enganosas.

Dados relevantes e confiáveis

O indicador de bem-estar material “preferido” do Banco Mundial é o “consumo" de bens e serviços. Isso se deve a “razões práticas de confiabilidade e porque o consumo é considerado a melhor forma de captar níveis de bem-estar de longo prazo do que a renda presente”. Da mesma forma, como explica um artigo de 2003 publicado no Journal of Human Resources:

  • “Pesquisas nos lares de baixa renda nos Estados Unidos sugerem que o consumo é um indicador melhor do que a renda” e é “uma medida mais direta do bem-estar material”.
  • “Os padrões de consumo estão por trás do estabelecimento prévio da linha de pobreza”, mas os governos hoje usam a renda porque “é mais fácil”.

O Banco Mundial publica um amplo banco de dados sobre o consumo que não depende da precisão das pesquisas domiciliares e que inclui todos os bens e serviços, mas que só informa o consumo médio per capita em cada país – não dos mais pobres de cada país.

Mas o Departamento de Análises Econômicas dos Estados Unidos publicou um estudo que informa juntamente isso em 2010. Juntamente com os dados do Banco Mundial do mesmo ano, esses bancos de dados mostram que os 20% mais pobres dos Estados Unidos têm um consumo médio mais alto per capita do que todas as pessoas nos países mais ricos da OCDE e da Europa.

O consumo maior por parte dos “pobres” norte-americanos não significa que eles vivam melhor do que a média das pessoas em países como Espanha, Dinamarca, Japão, Grécia e Nova Zelândia. Isso porque a qualidade de vida das pessoas também depende de suas comunidades e de escolhas pessoais, como os políticos que elas elegem, os crimes violentos que elas cometem e as decisões de gastos que tomam.

Um estudo do Departmento de Agricultura, por exemplo, descobriu que os lares norte-americanos que recebem cupons de comida gastam cerca de 50% mais em bebidas doces, sobremesas e doces do que em frutas, verduras e legumes. Em comparação, lares que não recebem cupons gastam ligeiramente mais em frutas, legumes e verduras do que em doces.

Ainda assim, o fato é que o privilégio de se viver nos Estados Unidos permite que as pessoas pobres tenham mais recursos materiais do que a maioria dos outros países ricos.

Outro aspecto importante desses dados é que ele está ajustado ao poder de compra para mensurar realidades tangíveis como a área das moradias, os alimentos, a quantidade de smartphones, etc. Isso elimina a confusão de fatos como inflação e taxas de câmbio. Assim, uma maçã num país equivale à mesma maçã em outro.

Para avaliar a precisão dos resultados, o Just Facts comparou dos dados de consumo do Banco Mundial com os do Departamento de Análises Econômicas. A margem de erro foi de 2%. Todos os dados, relatórios e cálculos estão disponíveis nesta planilha.

À luz desses fatos, a afirmação do Times de que os Estados Unidos têm “mais em comum com ‘os países em desenvolvimento’” é um exagero. Em 2010, os 20% mais pobres dos Estados Unidos consumiram de 3 a 30 vezes mais bens e serviços do que a média de todos as pessoas em vários países em desenvolvimento ao redor do mundo.

Esse imenso abismo no padrão de vida explica por que pessoas em países em desenvolvimento migram para os Estados Unidos, e não o contrário.

Por que os EUA são tão mais ricos?

Em vez de falar mal dos Estados Unidos, o Times poderia ter falado do assunto de uma forma que ajudasse as pessoas ao redor do mundo a aumentar seu bem-estar material imitando aquilo que torna os Estados Unidos tão bem-sucedidos. Mas para isso seria preciso informar os seguintes fatos, muitos dos quais o Times já reportou de forma equivocada:

  • Altos preços de energia, como os causados por ambiciosos programas ecológicos na Europa, diminuem os padrões de vida, sobretudo para os pobres.
  • Altos impostos diminuem o incentivo para se trabalhar, economizar e investir, e isso pode ter grandes efeitos danosos.
  • Programas sociais abundantes podem reduzir a renda por meio de múltiplos mecanismos — e, como foi explicado pelo ex-economista-chefe do presidente Obama, Lawrence Summers, “programas assistenciais incentivam as pessoas a não trabalharem”.
  • A produtividade geral de cada país afeta os pobres e, em parte, é por isso que os funcionários do McDonald’s nos Estados Unidos têm poder de compra real maior do que os funcionários europeus e seis vezes maior do que os funcionários da empresa na América Latina, ainda que eles façam o mesmo trabalho e com a mesma tecnologia.
  • A desintegração familiar causada por mudanças de comportamento em relação ao sexo, fidelidade marital e responsabilidade familiar tem um impacto negativo na renda domiciliar.
  • Contradizendo o Times, vários dados sugerem que regulamentações agressivas prejudicam a economia.

Muitos outros fatores estão relacionados às condições econômicas dos países e indivíduos, mas os fatores acima são os principais por darem aos Estados Unidos uma vantagem sobre muitos países europeus e outros membros da OCDE.

"A verdade vale a pena"

O Times encerra o vídeo dizendo que “os Estados Unidos podem ter sido o melhor, mas hoje são apenas um bom país”. Na verdade, os Estados Unidos são economicamente tão excepcionais que os 20% mais pobres são mais ricos do que muitos dos países mais ricos do mundo.

No último ano, o Times adotou um novo slogan: “A verdade vale a pena". Mas, neste caso e em outros, ele torceu a verdade de uma forma que pode fazer mal às pessoas. O Times faz outras informações espúrias sobre os Estados Unidos no mesmo vídeo, afirmações que devem ser refutadas em artigos futuros.

James Agresti é colaborador do Intellectual Takeout. 

© 2019 FEE. Publicado com permissão. Original em inglês

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