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| Foto: FABIO CONTERNOFABIO CONTERNO

A Sociedade Brasileira de Pediatria preparou um manual para orientar os médicos da especialidade sobre como atuar nos casos de crianças com disforia de gênero - o descompasso entre o gênero biológico e a identidade. "Esse é um tema que tem aumentado nos consultórios e muitos profissionais têm dúvidas sobre como lidar com o assunto. Nossa intenção é trazer o máximo de informações", afirma a presidente da SBP, Luciana Rodrigues da Silva.

Um dos assuntos abordados pelo guia é a possibilidade de que crianças com essas características se submetam em casos específicos à suspensão do processo de puberdade. A estratégia, realizada em centros de pesquisa habilitados, permite que o adolescente ganhe tempo para avaliar sua identidade sexual, sem as pressões das transformações da puberdade.

A prática vem sendo adotada em três centros de referência do País instalados em São Paulo, Campinas e Rio Grande do Sul. "A puberdade pode ser extremamente sofrida para crianças com disforia", afirma o coordenador do Ambulatório de Transtorno de Identidade de Gênero e Orientação Sexual do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Alexandre Saadeh, um dos consultores para a preparação do guia. 

A supressão da puberdade é reversível. Caso, durante o processo, o adolescente decida que deseja permanecer com sexo biológico, determina-se a suspensão do uso dos hormônios. No ambulatório da Medicina da USP atualmente cinco crianças realizam o bloqueio. Há ainda outras quatro que poderão iniciar o processo, quando a puberdade estiver mais próxima. A supressão da puberdade somente é indicada para casos em que o diagnóstico da disforia está feito ou prestes a ser concluído. 

Luciana observa que a estratégia é usada em casos específicos e não é essa a atribuição do pediatra. "Fizemos um guia de atualização, onde vários tópicos são abordados, como o que é a transexualidade, como identificar a disforia e quais estratégias estão disponíveis." 

A presidente da sociedade afirma que não raramente o pediatra é o primeiro profissional de saúde a ser procurado para conversar sobre sexualidade e, em alguns casos, sobre variação de gênero das crianças e adolescentes. "A orientação correta é fundamental", assegura Saadeh. Tanto ele quanto Luciana afirmam ter aumentado o número de pais que chegam ao consultório com dúvidas sobre a identidade sexual dos filhos, por causa da maior liberdade para se tratar do tema. 

Para Saadeh, é essencial que pediatras não cometam erros do passado, como culpar os pais ou dizer que a criança tem de ser condizente com o sexo que nasceu. "Muitos casos vão evoluir para homossexualidade, não necessariamente para a transexualidade."

Ouça o debate do podcast Ideias com o médico Marcelo Ribeiro sobre disforia de gênero:

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