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Danilo Gentili, vencedor do prêmio Liberdade 2021
Danilo Gentili, vencedor do prêmio Liberdade 2021| Foto: Marcus Leoni/Divulgação

Em meio aos ataques à liberdade de expressão vivenciados no debate público brasileiro, o Instituto Líderes do Amanhã, de Vitória/ES, homenageou nesta sexta-feira (5) o apresentador, humorista e empresário Danilo Gentili com o Prêmio Liberdade de 2021.

A premiação foi o ponto alto do 9º Fórum Liberdade e Democracia de Vitória, que trouxe quase 30 grandes nomes do debate público nacional e internacional para debater se “A liberdade foi cancelada?”. Isso porque a polarização dos debates políticos no Brasil vivenciada nos últimos anos trouxe consigo o advento da sinalização das virtudes, do politicamente correto e do cancelamento.

Desde 2010 o think tank se solidificou como um dos maiores do Brasil na formação de lideranças empresariais baseadas em sólidos valores, e realiza desde 2013 anualmente o evento. Atualmente, o maior do país que discute Liberdade, Economia de Mercado e Estado de Direito.

A premiação já foi entregue a importantes nomes do cenário nacional, como o atual Ministro da Economia, Paulo Guedes, e o empresário Jorge Gerdau (Grupo Gerdau).

Por que alguém é cancelado?

Por que alguém com trajetória outlier (fora da curva) e de self-made man (indivíduo cujo sucesso está atrelado a seus próprios méritos, não de condições externas), questões comumente homenageadas e bem-vistas, seria cancelado?

Por que alguém vindo da periferia de Santo André, que sofreu tragédias familiares e, em vez de se vitimizar, decidiu acordar cedo, trabalhar duro e tomar riscos, e por isso conseguiu prosperar, se tornaria uma persona non grata por tantos?

Danilo Gentili é o maior alvo de ações judiciais que versam sobre liberdade de expressão do Brasil. Sofreu moções de censura oficial, processos judiciais, cíveis e criminais.

Responde atualmente a 12 processos criminais, todos em virtude de piadas e opinião.

As ações são movidas por políticos, militantes de esquerda, centro e direita e dos mais diversos órgãos oficiais: Senado Federal, Câmara dos Deputados, Ministério Público, entre outros.

E, claro, além deles, há ainda o cancelamento nas redes sociais.

Desde que passou a protagonizar o debate público em 2008, Gentili foi alvo centenas de vezes de uma patrulha. Sim, este é o nome: uma patrulha.

Isso porque há um duplo padrão no tal do politicamente correto. De um lado, uma mera piada do indivíduo errado pode ser o suficiente para gerar uma pressão pela demissão deste de seu trabalho a fim de retirar seu sustento; ensejar agressões, inclusive físicas; e até mesmo fundamentar uma condenação penal.

Do outro, há infelizes exemplos reais de machismo, racismo e homofobia, mas que, quando praticados pelo grupo ideológico correto, ficou por isso mesmo, havendo silêncio, conivência e até apoio da patrulha.

Isso não se trata de uma defesa da liberdade de expressão, pois quem “passa pano” para os seus quer cancelar a liberdade dos outros. A patrulha não trata a liberdade de expressão como um direito humano, algo inerentemente universal, para todos os indivíduos. Não, apenas para os seus.

Esse público não percebe que é justamente a liberdade de um indivíduo do qual discorda que permite ter o direito de expressar que discorda deste — algo relativamente recente na história humana.

Como evitar que a liberdade seja cancelada? Uma importante lição pode ser aprendida por um dos protagonistas do fim de um dos capítulos mais tristes da história brasileira, a escravidão. Joaquim Nabuco afirmou: “eduquem os seus filhos e eduquem-se a si mesmos no amor da liberdade alheia”.

Mas muitos tentam cancelar a liberdade. O caso de Danilo não é isolado, como ficou evidenciado no 9º Fórum Liberdade e Democracia de Vitória.

Entre os exemplos, um colega do nosso homenageado, o comediante Léo Lins, sofreu censura em mais de 30 cidades brasileiras por um show de stand up. A cada quatro tentativas de realizar 60 minutos de piadas, sofreu uma tentativa de censura oficial. Elas vinham de ordens judiciais, de prefeitos, de vereadores e de deputados.

Isso não é normal. Não podemos normalizar tentativas de cancelamento da liberdade.

Mas o que faz os políticos temerem uma piada?

O filósofo norte-americano Hans Hermann Hoppe explica: “uma das coisas que mais ameaça o Estado é o humor e a risada. O Estado presume que você deve respeitá-lo, que você deve levá-lo muito a sério”. Já o filósofo inglês Thomas Hobbes dizia que era algo muito perigoso o fato de as pessoas rirem dos governantes.

Quem já leu Rei Lear, do escritor inglês William Shakespeare, compreende bem a relação entre humor, liberdade de expressão e poder político.

Na obra, o chamado “bobo da corte” é o mais esperto de todos os personagens. Ele tem licença para falar o que ninguém mais ousa dizer. A liberdade do personagem é tão grande que ele é o único que critica o rei, com comentários ácidos e que divertem o público.

E, óbvio, os leitores não riem dos bobos da corte, riem junto com eles, dos alvos das piadas deles.

É isso: o humor e as piadas têm poder, a liberdade de expressão tem poder.

Não à toa, ao longo de toda a história, governantes buscaram a censura para proibir a liberdade de expressão, que poderia abalar seu poder.

Vale lembrar que a liberdade de expressão é um princípio basilar da economia de mercado. O economista Daron Acemoglu e o cientista político James Robinson explicam que a liberdade de expressão é fundamental para promover a criação de instituições inclusivas. Essas são responsáveis pelo cultivo ao respeito de princípios democráticos e republicanos, garantindo regras isonômicas, não beneficiando grupos de interesse específicos em uma sociedade.

Em suma, a partir de um ambiente como esse, há espaço para competição saudável e igualdade de oportunidades entre atores da sociedade e agentes econômicos, atraindo mais investimentos e gerando mais emprego e renda. Sim, a liberdade de expressão é boa até para a economia!

Mas, se historicamente a censura partia de forma institucional, hoje vivemos tempos nebulosos, em que elas também vem a partir da coerção social. Mas não de todo o público, e sim de uma minoria engajada, barulhenta e arbitrária.

Mas Danilo Gentili é alguém que não se calou diante de nada disso. Que não abaixou a cabeça. Que não se deixou ser cancelado. Como indivíduo livre que é, é incancelável.

Alguém que deu diversas demonstrações de estar disposto a perder tudo. Menos a própria liberdade.

E é por isso que sua trajetória pavimentou o caminho para Danilo receber o prêmio mais especial do ano do Instituto Líderes do Amanhã: o prêmio Liberdade de 2021.

*Diretoria Executiva de 2021 do Instituto Líderes do Amanhã e Luan Sperandio, Associado do Instituto Líderes do Amanhã

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