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Por que “especialista” feminista adora estupro
| Foto: BigStock

No começo deste feriado, ligo a TV a cabo e vejo a notícia de que uma adolescente de 14 anos no morro do Cantagalo foi estuprada por 5 rapazes, que ficavam se revezando, após ser dopada num baile funk. Há cerca de dez anos, esse tipo de crime aparecia em telejornais ao estilo Datena, e só. Ficaria relegado àquele mundo desimportante dos pobres. Importantes, mesmo, eram crimes particularmente chocantes de classes média e alta, ao estilo Nardoni ou Richtofen. Já os crimes de drogados em busca de dinheiro, dos ladrões de múltipla reincidência, e as várias modalidades de violência contra a mulher, são em princípio crimes de mau gosto; não merecem um âncora fino fazendo caras e bocas.

Com o advento da moda progressista, os estupros e os crimes passionais cometidos por cônjuges vão para os noticiários mais finos. Aparecem no horário nobre, são assistido pelas famílias durante a janta. Cracudos matam mãe ou avó por causa de ninharias a serem trocadas por pedra – mas isso continua de fora do noticiário chique, embora a questão dos viciados não seja nada desimportante.

Os apresentadores de programas de pobre ficam sempre furiosos e trovejam contra os maus, ao darem essas notícias. Mandam prender e, com razão, reclamam da impunidade. E os apresentadores chiques, que fazem?

Prova do machismo estrutural 

Muito científicos e olímpicos, chamam a especialista. “Especialista” é um termo que confere  respeitabilidade imediata, sem que saibamos em que exatamente é a especialidade.

A especialista então faz uma pregação moral. (Padre e pastor também fazem, mas sem se dizerem especialistas.) Ela afirma que é preciso condenar o estupro, que o estupro é injustificável, que adolescentes não devem ser estupradas nem mesmo quando vão a bailes funk, e que as mulheres não devem ter vergonha de denunciar estupro. Dessa pregação toda – que postula uma porção de deveres morais sem tocar em fatos –, há muito pouco do que discordar.

Que estupro é uma coisa bem impopular, o justiçamento de estupradores comprova. De fato, há quem impute às vítimas os seus infortúnios, quando elas se expuseram a uma situação de risco. Isto é mais comum até com roubo do que com estupro. Ainda assim, desconheço quem se atreva a afirmar esta regra moral: “Se um homem está de Rolex perto da Cracolândia, é correto assaltá-lo.”

No âmbito moral, é salutar lembrar às pessoas que a culpa é do estuprador, de modo que não devemos achar razoável o estupro. Por outro lado (e disso a especialista não fala), seria insensato dizer às meninas que vão ao baile funk sem medo, porque estão no seu direito. Quem quer prevenir estupros não olha apenas para o direito; ensina a avaliar riscos.

Por fim, há algo na pregação da feminista de que posso discordar totalmente. Não acho que todas mulheres devam denunciar um estupro sem pensar duas vezes. Se uma mulher é estuprada numa favela por quem detém o poder armado, a única certeza que ela terá é a da inimizade do estuprador. E o estuprador contará com um sistema penal cheio de progressistas empáticos, prontos para tirá-lo da cadeia, alegando condoídos que “cadeia não muda ninguém”. Como cadeia não muda ninguém, ele sai mau do mesmo jeito, e mata a vítima. De preferência, com requintes de crueldade, para mostrar às demais moradoras o destino de quem chama a polícia.

Mas quem disse que a especialista pensa em algo tão concreto? Ela mandava denunciar não como um meio de resolver o problema, mas sim como uma forma de provar que aquilo é inaceitável. Parece que no mundo ideal dela, as mulheres são estupradas, ganham um palco ao estilo #MeToo e têm uma experiência catártica de denúncia. A cada catarse, os homens ficam contritos feito o âncora do jornal fino, e reprovam o machismo estrutural após ouvirem a pregação da especialista feminista. (E fazem isso confusos, com leve receio de cometer o pecado de roubo de lugar de fala.)

Se houver só um estupro no Brasil inteiro em 2021, ele será usado pela feminista para pregar sua crença no machismo estrutural. Se houver 100 milhões de estupros no Brasil em 2021, essa incrível quantidade será explicada, naturalmente, pelo machismo estrutural. É impossível provar a falsidade do machismo estrutural.

Se o religioso se empenha em encontrar sinais divinos no mundo, é um supersticioso. Se uma feminista se empenha em encontrar sinais do machismo estrutural no mundo, é especialista. Quando padre ou pastor faz pregação moral, isto é religião obscurantista. Quando uma feminista faz, isto é conhecimento científico.

Teologia, o pagador de impostos não financia.

O custo das pregadoras 

Se o estupro e os crimes passionais acabassem, as feministas teriam que se reinventar. Por isso, é bom que ninguém resolva problema nenhum, e que as “vítimas da sociedade” continuem tocando o terror nas mulheres. Assim teremos casos e mais casos para usar em missas e cultos travestidos de ciência.

A religião progressista é um atraso de uns 600 anos na história do Ocidente. Na Revolução Científica, aprendemos a diferenciar os domínios da razão e da fé. A escolástica ruiu: tratados aristotélicos  autorizados pelo Papa deixaram de ser a fonte de autoridade em assuntos da física. Depois, veio a Reforma Protestante, que, após muitas convulsões na Europa, terminou por sacramentar a liberdade de consciência. Com esta, os homens aprenderam a conviver com quem pensa diferente, e a separar assuntos públicos de privados.

Os progressistas (feministas inclusas) estão muito aquém disso. A verdade é o que a autoridade personalista determinou, e a “ciência” consiste em repetir o que dizem pensadores do quilate de Foucault ou Judith Butler. A liberdade de consciência está proibida, pois quem não assentir aos dogmas chancelados por essa nova escolástica é um pecador que incorre em crime de ódio, ainda que não faça nada além de expressar sua discordância.

Além desse retrocesso plurissecular, há um custo humano bem palpável. Todo estupro será capitalizado, mas nada será feito para coibir estupros. Porque essa pseudociência aponta as suas próprias soluções: ora diz que basta ficar denunciando homens, ora demanda cotas até na iniciativa privada e na representação parlamentar.

A cada estupro, uma Tabata Amaral e uma Luíza Trajano tem razões para comemorar e implantar sua agenda. O que uma empresa cheia de CEOs mulheres tem a ver com uma adolescente estuprada em baile funk? Nada, óbvio. Ninguém é CEO aos 14. Só mesmo dando muito dinheiro da CAPES para essas pseudociências, para dar algum ar de legitimidade a esse raciocínio disparatado segundo o qual cotas e lero-lero acadêmico tem alguma importância para impedir estupro em país sem leis sérias.

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