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Somente na URSS, foram quase 20 milhões de mortes | Pixabay
Somente na URSS, foram quase 20 milhões de mortes| Foto: Pixabay

A administração Trump marcou o aniversário de 100 anos da Revolução de Outubro na Rússia declarando o Dia Nacional das Vítimas do Comunismo. Já o jornal The New York Times celebrou o mesmo aniversário de uma maneira muito diferente: uma série de reportagens exaltando as virtudes do comunismo.

A ironia do título da série, "Século Vermelho", parece ter se perdido entre os editores do Times. O século 20 foi de fato vermelho – vermelho com o sangue das vítimas do comunismo. A máquina de morte do comunismo, citada no "O Livro Negro do Comunismo" (vários autores, Bertrand Brasil), é assombrosa: na URSS, foram quase 20 milhões de mortes; na China, 65 milhões; 1 milhão no Vietnã; 2 milhões no Camboja; 1 milhão no Leste Europeu; 1,7 milhão na África; 1,5 milhão no Afeganistão; 2 milhões na Coreia do Norte (número que ainda está aumentando). No total, regimes comunistas mataram mais de 100 milhões de pessoas – quase quatro vezes mais do que as mortes provocadas pelos nazistas – fazendo com que o comunismo seja a ideologia mais assassina da história humana. 

Mas não vamos nos incomodar com isso. A professora Kristen Ghodsee, da Universidade da Pensilvânia, escreve que os comunistas eram bons em sexo: "mulheres do leste tinham duas vezes mais orgasmos do que mulheres do oeste (...), que faziam menos sexo do que as mulheres que tinham que entrar em filas para ter papel higiênico". Ela também tem palavras duras para Joseph Stalin, porque ele "reverteu muito do progresso inicial nos direitos das mulheres na União Soviética, criminalizando o aborto e promovendo a família nuclear". Sim, esse foi o crime de Stalin. Não as mortes e a destruição, mas a promoção da família nuclear. 

No texto "Como as mulheres viviam na Revolução Comunista da China?", Helen Gao relembra sua avó "conversando com passantes alegres no interior que acabara de ser coletivizado" e afirma que "apesar de suas falhas, a Revolução Comunista ensinou as mulheres chinesas a sonharem grande". A revolução de Mao matou dez milhões de chineses, não levando em consideração os milhões mortos por conta da política do filho único, que levou ao feminicídio infantil. Essas meninas chinesas nunca tiveram a chance de sonhar. 

Em "Os guerreiros ecológicos de Lênin", o professor de Yale Fred Strebeigh afirma que Lênin era "um entusiasta de carteirinha de caminhadas e acampamentos" e que transformou a Rússia "numa pioneira mundial da conservação". Ele esquece de mencionar que Lenin também era um assassino em massa que executou mais pessoas em seus primeiros quatro meses de governo do que os czares fizeram no último século inteiro. Em um telegrama, reproduzido em "O Livro Negro do Comunismo", Lênin ordenou que a Cheka (órgão que precedeu a KGB) "pendurasse (publicamente, para que as pessoas pudessem ver) pelo menos 100 pessoas ricas e exploradoras" (o telegrama termina com um p.s.: encontre pessoas resistentes). Talvez ele estivesse acampando quando escreveu a mensagem. 

O professor de Berkeley Yuri Slezkine explicou "Como educar seus filhos como um bolchevique", ressaltando que "em casa, os filhos dos bolcheviques leem o que eles chamam de 'tesouros da literatura mundial'" e que "os leitores soviéticos deveriam aprender com Dante, Shakespeare e Cervantes". Ele não diz se deveriam também aprender algo de Orwell. No texto "Vida amorosa dos bolcheviques", o professor explica que para os comunistas russos "a revolução era inseparável do amor". Exceto, é claro, quando a KGB chegava no meio da noite para levar as pessoas para os campos de trabalho forçado. 

Ainda que nem todos os textos sejam tão ruins assim, a série de reportagens continua. Vivian Gornick escreve "Quando os comunistas inspiraram os americanos". Palash Krishna Mehrotra escreve como "a chegada de uma feira soviética de livros" trouxe à vida a cidade indiana em que morava. John Sidel se lamenta pela perda "da promessa de um comunismo muçulmano". 

Essa série de reportagens do Times segue a tradição do ex-chefe de redação da sucursal russa do Times, Walter Duranty, que escreveu vários textos sobre o governo de Stalin que incluíam negações frequentes da grande fome que o líder propagou na Ucrânia. "Qualquer relato de fome na Rússia hoje é um exagero ou uma propaganda maligna", ele escreveu enquanto milhões morriam de fome. Além disso, "você não pode fazer um omelete sem quebrar os ovos". 

Agora, depois de um século da matança, o Times voltou a retratar o comunismo como uma causa nobre e os assassinatos como simples aberrações. Não vamos nos lembrar que não há nenhum exemplo de país onde o comunismo aconteceu sem erros, terror, mortes, massacre, fome e miséria. Tente pegar os textos mencionados acima e troque a palavra "comunismo" por "nazismo" – será que alguém pensaria em publicar esses textos? 

Infelizmente, essa visão distorcida do comunismo está sendo repassado para a próxima geração. Uma pesquisa recente conduzida pela Fundação das Vítimas do Comunismo descobriu que 36% dos jovens americanos têm uma visão "muito desfavorável" do comunismo – é a primeira geração americana em que esse número não representa a maioria dos jovens. O que é ainda pior é que 32% deles acreditam que mais pessoas foram mortas durante o governo George W. Bush do que no governo de Stalin. A ignorância é assustadora. A primeira geração depois da Guerra Fria foi criada sem saber dos problemas do comunismo. 

O escritor tcheco Milan Kundera descreveu a luta contra o comunismo como "a luta entre a memória e o esquecimento". Regimes comunistas fizeram mais do que matar suas vítimas: eles conseguiram apagar suas memórias e humanidade. Vergonhosamente, os crimes comunistas contra a memória e a humanidade ainda estão sendo apagados pelo The New York Times.

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