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Foto tirada por Heley com os alunos um dia antes do ataque | Arquivo Pessoal
Foto tirada por Heley com os alunos um dia antes do ataque| Foto:

A versão brasileira da revista GQ elegeu a cantora Anitta como mulher do ano de 2017. Várias páginas hospedadas no Facebook demonstraram irritação com a escolha, desprezando a artista e sugerindo como alternativa a professora Heley de Abreu, morta ao salvar vários alunos da Centro de Educação Municipal Gente Inocente, em Janaúba, Minas Gerais.

No dia 5 de outubro, o vigilante Damião Soares Santos, de 50 anos, pôs fogo na creche, matando 12 pessoas e deixando mais de 40 feridas. Heley lutou com o vigia na tentativa de impedi-lo de colocar fogo na escola. Em chamas, ajudou a salvar vários alunos que foram trancados pelo vigia dentro de uma sala de aula. Ferida, com 90% do corpo queimado, chegou viva ao hospital, mas não resistiu. Se não fosse por ela, mais crianças teriam morrido.

Aos 42 anos, foi sepultada como heroína, com toda a justiça. Deixou três filhos, de 15, 12 e 1 ano de idade, e o marido. Seus atos foram reconhecidos pela Presidência da República, que lhe concedeu a Ordem Nacional do Mérito postumamente.

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Heley era reconhecida como ótima professora pelas colegas e defendia a inclusão dos deficientes em sala de aula, tanto que se especializou na área em 2016, mesmo ano em que começou a trabalhar na creche atacada por Damião.

Antes da tragédia derradeira, já havia enfrentado outra: a dor de perder um filho de apenas cinco anos afogado em um acidente na piscina de um clube da cidade, há 16 anos.

Era também integrante da Pastoral da Família da Igreja Católica. Sua devoção e religiosidade foram reconhecidos na hora do sepultamento, quando uma bandeira com a imagem de Nossa Senhora foi posta sobre seu caixão.

Pela dedicação às crianças, que custou a própria vida, fica claro que Heley de Abreu é a mulher do ano de 2017. Ninguém representa melhor o sacrifício desmedido e muitas vezes não reconhecido feito diariamente pelas mulheres brasileiras, mães, filhas, esposas, estudantes, profissionais de todas as atividades.

Mas é preciso deixar claro que essas páginas estão equivocadas em dois pontos. Erram ao atacar a cantora Anitta, que tem vários méritos e chegou até o estrelato por esforço próprio, depois de um passado humilde.

Outro ponto: o feito de Heley de Abreu é grande demais para precisar da chancela oficial de qualquer publicação — inclusive deste texto. O que ela fez permanecerá vivo pelo exemplo e nas vidas das crianças salvas. Nada pode ser maior que isso.

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