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O QI tem alguma relação com a renda, mas essa relação é muito menor do que as pessoas imaginam. Algumas características importam mais.
O QI tem alguma relação com a renda, mas essa relação é muito menor do que as pessoas imaginam. Algumas características importam mais.| Foto: Pixabay

Se meu monitor de tráfego na Internet está dizendo a verdade, muitos de vocês que estão lendo esse artigo têm QI acima da média, mas somente uma porcentagem pequena poderia ser chamada de classe alta em termos de renda.

Por quê? Como diz a pergunta retórica, “se você é tão inteligente, por que não está rico?”

A correlação entre QI e renda

Bom, o QI tem certa influência sobre a renda. Como a pesquisa de Richard J. Herrnstein e Charles Murray demonstra, o QI se tornou um conceito muito importante na economia norte-americana, baseada no conhecimento, e nossas universidades de maior prestígio — que, como sabemos, são degraus que levam à elite sócio-econômica — se tornaram lugares habitados quase que totalmente pela “elite cognitiva”.

Mas de acordo com o economista ganhador do Prêmio Nobel James Heckman, a personalidade exerce um papel muito maior na distinção entre as pessoas de baixa e alta renda. Num artigo da Bloomberg que resumia seu mais recente trabalho acadêmico sobre o assunto, lê-se: “[Heckman] descobriu que o sucesso financeiro está mais associado à retidão. Característica marcada pelo trabalho, perseverança e disciplina”.

Examinando testes de QI, notas de provas e o desempenho em testes padronizados de milhares de pessoas no Reino Unido, Estados Unidos e Holanda, Heckman e seus colegas descobriram que as notas nas provas eram muito melhores para prever o sucesso financeiro do que o IQ:

As notas refletem não apenas a inteligência, mas também o que Heckman chama de “habilidades não-cognitivas” como perseverança, bons hábitos de estudo e a capacidade de colaborar – em outras palavras, retidão. De certa forma, o mesmo serve para os testes padronizados. A personalidade é importante.

Muitos de vocês provavelmente não se surpreendem com essas descobertas. No sistema educacional de hoje, aqueles com uma inteligência relativamente modesta têm a capacidade de alcançar notas 10 simplesmente por meio da persistência. E, ainda que a “esperteza” ajude nos testes padronizados, os alunos podem transpor o abismo entre uma pontuação maior e menor por meio de um preparo cuidadoso e usando estratégicas de resolução de testes.

A iniciativa de obter notas boas se reflete no ambiente que busca agradar às pessoas nos locais de trabalho e na busca pelo dinheiro nesse ambiente.

Iniciativa e desejo são importantes

Mas aí existe a questão do desejo por trás da iniciativa, algo que nem o artigo de Heckman nem o da Bloomberg mencionam.

Há cerca de dez anos, me vi sentado ao lado de uma atraente mulher de meia-idade num avião, e acabamos conversando sobre nossas respectivas profissões. Ela tinha fundado várias empresas de limpeza e as vendido por alguns milhões de dólares. Ela nunca me passou a impressão de ser especialmente apaixonada por ajudar as pessoas a limparem suas casas. Ela simplesmente percebeu a necessidade na comunidade onde vivia e estava disposta a gastar seu tempo e energia criativa satisfazendo essa necessidade a vim de ganhar dinheiro.

O que chamou minha atenção é que muitas das pessoas inteligentes que conhecia na época tinham o que chamamos de “boas ideias de negócios”. Mas lhes faltava a disposição de agir e de concretizá-las.

E, em geral, o motivo para lhes faltar essa disposição não é necessariamente porque eles não têm as características que Heckman associa à alta renda, isto é, “trabalho, perseverança e disciplina”. É só que eles não estão dispostos a direcionar essas características ao propósito de ganhar dinheiro e ao processo exigido para se alcançar esse propósito.

Pode parecer estupidamente óbvio, mas nesses tempos o óbvio merece ser repetido: à exceção de alguns, para enriquecer você realmente tem que querer ser rico. E nem todas as pessoas inteligentes se dão ao trabalho de ficarem ricas.

Daniel Lattier é formado em Filosofia e Estudos Católicos pela University of St. Thomas (MN) e PhD em teologia pela Duquesne University.

© 2019 FEE. Publicado com permissão. Original em inglês

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