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Você não está preparado para pedir sua garota em casamento no Dia dos Namorados? Talvez seja porque o sexo virou algo fácil demais de se obter, como escreve o sociólogo Mark Regnerus em seu novo livro “Cheap Sex: The Transformation of Men, Marriage, and Monogamy” (Sexo barato: a transformação dos homens, do casamento e da monogamia, em tradução livre). Em contrapartida, ele argumenta, os relacionamentos passaram a ser mais curtos, a idade das pessoas no primeiro casamento aumentou e o índice total de casamentos diminuiu.  

Regnerus passa boa parte do livro identificando as reviravoltas sociais e tecnológicas que levaram a esta situação. A contracepção eficaz, por exemplo, tirou da equação o risco da gravidez não planejada. Ao mesmo tempo, os aplicativos de namoro privilegiam a atração física acima de praticamente qualquer outra consideração, e a ampla disponibilidade da pornografia oferece alternativas mais fáceis aos relacionamentos, que são mais onerosos. Devo mencionar que demorei a ler o livro de Regnerus. Em novembro, Robert VerBruggen escreveu uma resenha excelente, fazendo uma avaliação cuidadosa das teses de Regnerus. Mais recentemente, Park MacDougald mergulhou mais fundo em algumas das implicações mais complicadas do “modelo de troca sexual” do qual o livro fala.  

Vou me concentrar aqui em um aspecto mais restrito de Cheap Sex que, a meu ver, proporciona muito material para reflexão: as discussões de Regnerus sobre a promoção do individualismo e o grau em que a identidade sexual virou uma parte cada vez maior da visão que temos de nós mesmos. “Construímos identidades e comunidades abrangentes em torno da atração sexual”, ele escreve, “de uma maneira que não é vista em boa parte do mundo ocidental.”  

E, com a identidade individual tendo prioridade máxima, não surpreende que a expressão sexual tenha se tornado tanto compulsiva (em muitos casos) quando desligada de quaisquer projetos mais amplos, como o casamento e a formação de uma família. Isso pode soar como libertação sexual, mas o livro propõe uma interpretação menos otimista: 

“O que fizemos foi trocar a conformidade com as tradições (como casamento, comunidade religiosa ou herança étnica) pelo imperativo – no mínimo igualmente oneroso – de criar, manter e expressar uma ‘cultura pessoal’”.  

De fato, hoje somos, como nos rotulou a socióloga britânica Margaret Archer, “Homo inconstantus”, ou o homem constantemente reinventado, uma espécie sem estrutura social e que, por essa razão, “manifesta uma preocupação exaustiva com o status”. Mas essa busca por status “está fadada ao fracasso, já que em nossa era pós-moderna a identidade pessoal de cada um”, escreve Regnerus, citando Archer, “ ‘é, em última análise, um autoconstruto feito de ideias, e não uma base para ação’. Em outras palavras, as identidades das quais estamos falando hoje tendem a ser mais desenraizadas e sem direção que as do passado. Elas não nos ensinam como viver.” 

Assim, não surpreende que haja um anseio tão grande por influenciadores e novas ortodoxias capazes de conferir forma e estrutura às nossas vidas.

©2018 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.

Traduzido por Clara Allain
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