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Apesar de pesquisas indicarem que as pessoas normalmente têm um olhar pessimista a respeito do futuro, os dados mostram que nunca se viveu tão bem.
Apesar de pesquisas indicarem que as pessoas normalmente têm um olhar pessimista a respeito do futuro, os dados mostram que nunca se viveu tão bem.| Foto:

Parafraseando o sociólogo norueguês Johan Galtung, se um jornal fosse publicado a cada dez anos, ele não noticiaria uma década de fofocas de celebridades ou escândalos políticos. Ele buscaria celebrar importantes mudanças globais, como o aumento da expectativa de vida, menos pessoas vivendo na miséria e cada vez mais indivíduos desfrutando de liberdades civis.

Em 2016 o então presidente dos Estados Unidos Barack Obama disse:

“Se você tivesse que escolher um momento na história para nascer sem saber quem você seria — não soubesse se iria nascer em uma família rica ou pobre, em que país iria nascer, se seria homem ou mulher —, isto é, se tivesse de escolher cegamente o momento em que gostaria de nascer, você escolheria agora”.

Ele tem razão: hoje qualquer indivíduo de classe média vive mais e melhor do que magnatas do passado.

Muitas pessoas têm um olhar caótico e negativo e projetam que a civilização está caminhando para um declínio. Por exemplo, segundo uma pesquisa de 2007 realizada pela Gallup International, 48% achavam que a próxima geração viveria em um mundo mais inseguro, contra apenas 26% que acreditavam no oposto. Mas a tendência verificada na maior parte dos países é de queda na criminalidade e na taxa de homicídios década a década.

Já um levantamento publicado em 2019 da Deloitte Millennial Global apontou um sentimento majoritariamente de inquietude e pessimismo na população mundial jovem em relação a perspectivas de melhora de sua situação e do mundo.

Apesar disso, os dados mostram que o mundo provavelmente viveu sua melhor década até o momento. Estas são apenas algumas das relevantes conquistas da humanidade entre 2009 e 2019, e em uma velocidade jamais antes vista.

Menos pobreza

Em 2010 15,7% da população mundial vivia com menos de 1,90 dólar por dia, patamar considerado como extrema pobreza pelo Banco Mundial.

Segundo o World Poverty, o número projetado atualmente é de 7,7% da população mundial, isto é, menos da metade do que a proporção de habitantes do mundo no início da década, cerca de 400 milhões de pessoas a menos vivendo na extrema pobreza.

A organização estima em tempo real a quantidade de pessoas que estão deixando a extrema pobreza no mundo: a cada segundo, 1,7 pessoas deixa a linha socialmente mais vulnerável.

As pessoas estão vivendo mais

A expectativa de vida segundo o Banco Mundial era de 70,24 anos e aumentou para 72,6, isto é, dois anos e meio a mais. Há vários fatores que ajudam a explicar por que as pessoas estão vivendo mais.

Algumas doenças estão matando menos, graças a novas tecnologias, acesso a médicos e a medicamentos.

Segundo o Relatório Mundial da Malária de 2018, da Organização Mundial de Saúde, a doença mata 200 mil pessoas a menos por ano, 33% menos do que em 2010.

A mortalidade causada pela aids também caiu cerca de um terço ao longo dos últimos dez anos, isto é, 500 mil pessoas deixam de morrer anualmente de acordo com dados do UNAIDS, programa das Nações Unidas. O número de novas infecções também caiu 16% e crianças estão mais bem protegidas do vírus: as novas contaminações por ano caíram 41%.

Segundo dados do Our World in Data, a poluição do ar é responsável por cerca de 9% das mortes globais — causa cerca de cinco milhões de mortes todo ano e  também atua como fator de risco para diversas doenças.

A boa notícia é que nos últimos dez anos as mortes em virtude de poluição do ar caíram cerca de um quinto por causa do desenvolvimento e implementação de ações de combate à poluição.

A mortalidade infantil também caiu. No início da década, o índice era de 38,4 crianças por mil nascimentos, segundo o Banco Mundial, quase quatro vezes mais do que o índice considerado aceitável pela Organização Mundial de Saúde. Em dez anos ele caiu em cerca de um terço.

Mais liberdade civil e econômica

O Freedom House lança anualmente uma avaliação da qualidade das instituições sob uma perspectiva democrática. O estudo lançado em 2009 apontou que 45,73% da população mundial à época viviam em 89 países considerados livres. Outros 20,21% moravam em 62 países considerados parcialmente livres. E 34,06% habitavam 42 estados considerados não-livres e autoritários.

Uma década mais tarde, o número de países considerados livres e de pessoas que moram neles ficou praticamente estável: 88 nações e 39% da população global. Já o número de países qualificados como “parcialmente livres” ficou em 58, representando proporcionalmente mais pessoas: 24% do total da população mundial. Por fim, ainda há 49 países considerados não-livres, onde moram 37% da população global. Neste quesito não houve melhora, mas é importante notar que mais da metade desse número vive em apenas um país: a China.

Mas o mundo ficou mais livre economicamente. Quando a década iniciou, a Heritage Foundation apontou que 83 países tinham mais do que 60 pontos em sua avaliação, que vai até 100. Sete países foram considerados livres, 23 considerados majoritariamente livres e 53 moderadamente livres. Havia ainda 67 países majoritariamente não-livres e 29 países repressores da liberdade econômica.

Já em 2019 eram 6 países considerados livres, 28 majoritariamente-livres e 58 moderadamente livres. Houve que entre os países majoritariamente não-livres (63) e entre as nações repressivas (21). No total, 94 países registraram mais de 60 pontos de score na avaliação da organização, 11 a mais que dez anos antes.

A progressofobia dos intelectuais

Arthur Herman mostrou no livro A ideia de decadência na história ocidental que a maior parte do currículo dos cursos de ciências humanas é protagonizado pelo que ele chama de “profetas do apocalipse”.

Friedrich Nietzsche, Jean-Paul Sartre e Michel Foucault estão entre as dezenas de “ecopessimistas” que influenciam majoritariamente o mundo acadêmico ao final do século XX.

Assim, saíram de cena expoentes que defendiam que ao compreender melhor o mundo a partir da ciência seria possível resolver problemas e conflitos da sociedade para dar lugar a fatalistas, pessimistas e apocalípticos.

Em História da ideia de progresso, o sociólogo Robert Nisbet afirma que:

“O ceticismo quanto ao progresso do Ocidente antes era restrito a apenas um pequeno número de intelectuais do século XIX. Mas ele cresceu, se difundiu não apenas pela grande maioria dos intelectuais no último quarto de século (XX), mas também para milhões de pessoas do Ocidente”.

Ou seja, quem acredita e prega que o mundo está indo de mal a pior deixou de ser apenas quem ganha a vida intelectualizando, mas pessoas comuns que entram em contato com eles.

As evidências disponíveis mostram o oposto: cada vez mais a humanidade aplica conhecimento obtido e o implementa, reduzindo o sofrimento e provendo gradualmente cada vez mais progresso.

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