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Funcionário usa equipamento de proteção completo como medida preventiva contra o coronavírus, em Dakar, em 22 de março de 2020.
Funcionário usa equipamento de proteção completo como medida preventiva contra o coronavírus, em Dakar, em 22 de março de 2020.| Foto: AFP

O vírus de gripe comum mata 0,13% das pessoas que contamina. No auge do contágio, em 2009, o H1N1 (gripe suína) tirou a vida de 0,2% das pessoas infectadas.

Entre 2002 e 2004, a SARS (sigla em inglês para Síndrome respiratória aguda grave) se mostrou fatal em 9,63% dos casos.

O vírus da MERS ( sigla em inglês para Síndrome respiratória coronavírus do Oriente Médio), que começou a agir em 2012 e chegou ao pico entre 2017 e 2018, alcançou a taxa de 34,45%.

Apesar da altíssima taxa de mortalidade, tanto a SARS quanto a MERS não representam ameaça atualmente. A SARS foi contida de forma rápida, e a MERS é raríssima.

O novo coronavírus, ou Sars-Cov-2, vem matando 3,74% do total de doentes, ao menos nesse estágio da doença. É comum que, no início, o percentual de letalidade pareça maior, porque apenas os casos mais graves são identificados (neste momento, na Itália, por exemplo, a taxa está em 7,7%). Na medida em que o grau de conhecimento da epidemia se torna conhecido, e casos menos graves passam a ser identificados com maior eficiência, o percentual de mortos se mostra menor.

A questão é: independentemente das variações na taxa de letalidade para cada doença, e das mudanças estatísticas registradas ao longo da evolução da epidemia, o Brasil, assim como os Estados Unidos e os países da Europa, não parou por culpa do H1N1, da MERS, ou da SARS.

Por que o novo coronavírus paralisou as bolsas de valores, provocou o temor de que os sistemas de saúde entrem em colapso e levou dezenas de países a instaurar medidas drásticas de quarentena, com impactos enormes para a economia?

Velocidade

A resposta está na rapidez do contágio: o novo vírus é até 66,7% mais eficaz para atingir novas pessoas do que a gripe suína – que, uma década atrás, também foi classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como pandemia; foi a última vez que o órgão utilizou essa classificação, até este ano. Cada paciente com a Covid-19 a transmite para outras 2,5 pessoas, em média, contra 1,5 pessoa da gripe suína.

Diante da facilidade com que esse novo vírus se dissemina, antes mesmo de manifestar sintomas, as autoridades sanitárias e de saúde de diferentes países optaram por seguir as orientações globais da OMS – que, aliás, foram endurecidas com base na experiência aprendida em 2009, quando as medidas de contenção foram muito mais brandas.

“Os países ou regiões onde o surto se inicia sofrem maiores consequências por não estarem ainda preparados para diagnosticar os casos e controlar sua disseminação. Isso ocorreu na China e depois na Europa”, afirma o infectologista Flávio de Queiroz Telles Filho, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

“Todas essas regiões estão em final de inverno, período mais propício para a ocorrência das doenças respiratórias”, ele prossegue. As medidas de quarentena tentam reduzir a transmissão comunitária. Somente a coleta intensa e frequente de informações epidemiológicas vai estabelecer medidas de quarentena compulsória nos países do hemisfério sul, incluindo o Brasil”.

Gripe que mata

Os números brutos ajudam a entender o risco trazido pela Covid-19. A gripe suína matou 280 mil pessoas, o equivalente a 767 por dia ao longo de 2009 – e ainda assim alcançou uma taxa de letalidade menor do que a do novo vírus. A MERS tirou 861 vidas. A SARS, 813. A Covid-19 ultrapassou a marca de 14 mil, 17 vezes mais do que a MERS e a SARS, e ainda nem chegou ao estágio de maior disseminação da doença. Ainda está longe de alcançar os índices registrados pela gripe suína, mas o vírus demorou um ano para registrar esses números.

O que explica a rapidez no contágio?

Ainda não há respostas definitivas, mas fato de ele se disseminar antes de apresentar sintomas dificulta o controle. Esse fator atrasou a identificação da doença: na região da China onde a pandemia se originou, as primeiras vítimas apresentavam sintomas leves. Quando os casos mais graves surgiram, o índice de contaminação já era muito alto e o vírus havia se espalhado para outros locais. No caso da pandemia de gripe suína, as reações foram pontuais: o México proibiu a circulação de pessoas e o Brasil adiou a volta às aulas para o segundo semestre letivo.

A gripe suína contaminou 58.178 pessoas e matou 2.101 em 2009 no Brasil. Em um único mês, agosto, no auge da crise, morreram 500 pessoas. No Paraná, na época, morreram 294 pessoas. As campanhas de vacinação para gripe atuam precisamente para manter o combate efetivo contra o H1N1.

Caso diferente

Nos Estados Unidos, em 2009, morreram aproximadamente 12 mil pessoas. O risco que as autoridades encaram, com o novo coronavírus, é que o total de mortos seja muito maior. A SARS, por exemplo, matou 349 pessoas na China, contra mais de 3 mil, até agora, do coronavírus. Na Itália, no passado, quatro pessoas foram contaminadas e todas sobreviveram – agora já são mais de 5 mil vítimas fatais, sendo 651 em um único dia.

O H1N1 e o Sars-Cov-2, aliás, não são da mesma família de vírus. Enquanto que o H1N1 pertence ao grupo dos myxovírus, que provoca influenza, o Sars-Cov-2 é um coronavírus – mesma categoria da MERS e da SARS.

Do ponto de vista dos humanos, o novo coronavírus não é o mais letal, ainda que seja especialmente eficaz em se disseminar. “Clinicamente, os sinais e sintomas dessas viroses respiratórias são semelhantes; entretanto, a gravidade é maior nas infecções pelo H1N1 e pela SARS”, compara o infectologista Flávio de Queiroz Telles Filho. Aliás, é a primeira vez que um coronavírus provoca uma pandemia; geralmente elas são resultado da ação dos myxovírus.

O fato é que o Covid-19 tende a alcançar uma mortalidade alta, em todos os continentes, antes de ser controlado.

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