• Carregando...
Resultados do comunismo não foram eficientes | Reprodução
Resultados do comunismo não foram eficientes| Foto: Reprodução

O mês de novembro marcou o aniversário de 100 anos da Revolução de Outubro e o começo do experimento comunista soviético, que durou 69 anos. Enquanto os horrores do nazismo são amplamente conhecidos, metade dos britânicos entre 16 e 24 anos de idade nunca ouviram falar de Lenin, muito menos do Holodomor (conhecido também como Holocausto Ucraniano). 

E ainda que os defensores explícitos da União Soviética não sejam mais uma força intelectual significativa na Grã-Bretanha, a minha geração não sabe bem como era a vida na URSS. O conhecimento sobre o período está morrendo, e as falhas do planejamento central estão saindo de nossas memórias. 

Leia também: Comunismo completaria 100 anos se estivesse vivo. Mas ele morreu?

O livro Back in the USSR (De Volta para a URSS, em tradução livre), escrito por José Luis Ricón Fernández de la Puente e publicado pelo Instituto Adam Smith, tem como objetivo ilustrar exatamente como era a vida na União Soviética. Existiam filas para comprar comida? Quão bons eram os aparelhos eletrônicos? Como que o país se industrializou tão rápido? Existia pobreza, desemprego e desigualdade? Com vários detalhes, Ricón recupera as evidências históricas e as afirmações dos pesquisadores para responder todas essas perguntas. E o resultado é cruel. 

Estagnação econômica e mercado de trabalho 

A raiz da resposta para todas estas perguntas é a capacidade produtiva da URSS. Ainda que o crescimento do produto interno bruto do país tenha sido considerado exemplar em vários momentos, esse número não deve ser visto de maneira isolada. Comparado aos EUA, o crescimento econômico soviético foi anêmico: a distância entre eles continuou aumentando ao longo do tempo. 

E o crescimento teve um custo, com o consumo sacrificado intencionalmente para provocar taxas de crescimento mais rápidas. Stalin pode ter conseguido alcançar um nível alto de crescimento comparado à Rússia czarista, mas isso teve um preço muito alto para a população em termos de bem-estar (sem levar em conta a escassez de alimentos, a repressão e o terror). 

O crescimento era também insustentável, como mostra a estagnação que o seguiu. Um crescimento compensatório, com acréscimo de capital, é algo que economias planejadas conseguem fazer. Eventualmente, porém, elas chegam em um ponto em que precisam melhorar a qualidade do capital. Isso significa inovação, algo com o qual a URSS tinha problemas. Graças aos os problemas inerentes do planejamento central, a produtividade baixa era uma praga na URSS. O Comunismo não é muito eficiente. 

Pelo menos todos têm trabalho, certo? Bem, mais ou menos. Graças aos métodos soviéticos de realocar pessoas em diferentes trabalhos, indústrias tinham vários empregados e criavam trabalhos falsos caso mais vagas fossem necessárias no futuro. Isso resultou em subempregos, com trabalhadores sendo pouco utilizados. E as condições de trabalho eram muito piores do que nos países capitalistas. Trabalhadores do final do período soviético tinham menos da metade dos dias de folga do que trabalhadores dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). 

 

A questão das mulheres também é importante. Apesar de ver a alta taxa de participação feminina no mercado de trabalho como um triunfo feminista, o governo de Stalin criou barreiras legais para o divórcio. Além disso, o papel social de dona de casa e mãe continuou sendo perpetuado na União Soviética. As mulheres trabalhavam não porque estavam emancipadas das normas de gênero, mas sim porque o modelo econômico insustentável do país exigia isso. 

Comida, roupas e saúde 

Essas deficiências econômicas faziam com que a vida cotidiana da União Soviética não fosse muito fácil. Uma camiseta simples, que seria usada no trabalho, custava 10% no salário médio: uma barganha que significaria £170 no Reino Unido de hoje. Um casaco de inverno para se proteger do frio russo? Custaria o salário de um mês. Esse é o motivo pelo qual um quarto da população não conseguia se proteger do frio.  

Na hora do almoço, você entraria numa fila por algumas horas para aproveitar o dobro de batatas que um americano (mas apenas metade da carne). Quer guardar o que não comeu na geladeira? Você só terá que esperar alguns anos para ter uma. E não perca a hora de buscar o produto: você não terá outra chance. Se quiser dirigir para o trabalho, ao invés de ficar tremendo de frio com sua camiseta de £170 porque você não tem dinheiro para um casaco, você terá que esperar pelo menos 10 anos para conseguir um carro. Existiam apenas cinco milhões de carros na URSS em 1976; nos EUA, esse número era de quase 100 milhões. 

Em algum momento durante sua espera de 10 anos para ter um carro, você poderia ficar doente. Azar! O sistema de saúde soviético era uma atrocidade. Comparando com os EUA, existiam pelo menos 30 vezes mais casos de tifo e 20 vezes mais casos de sarampo. Além disso, as taxas de descoberta de câncer eram 50% piores. Comparando com outros países em desenvolvimento, a URSS não conseguiu ter um sistema de saúde de qualidade, apesar de ter uma das taxas mais altas de médicos por pessoa (42 médicos para casa 10 mil pessoas). Ainda que você conseguisse encontrar um médico, a qualidade do sistema era precária. Muitos médicos não sabiam nem ler eletrocardiogramas. 

 

Como o livro De Volta para a URSS explora em detalhes, as consequências do planejamento central eram terríveis. O Comunismo prometia a utopia, mas deixou as vidas mais curtas, pobres e perversas.

Tradução de Gisele Erberspacher
0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]