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Na semana passada, foi divulgado o Atlas da Violência 2018, um estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública que revelou os números de homicídio no Brasil em 2016. 

O país bateu o recorde de violência letal naquele ano, ultrapassando 62 mil casos - ou seja, a cada 8 minutos e meio, uma pessoa morreu por homicídio. O relatório também mostrou que as principais vítimas são homens, jovens e negros. 

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Muitas pessoas se perguntaram qual seria o perfil de quem comete esses crimes. Essa é uma questão difícil de ser respondida, em primeiro lugar, devido ao enorme número de crimes não solucionados. 

A pesquisa “Onde mora a impunidade”, publicada em novembro de 2017 pelo Instituto Sou da Paz, mostrou que a maioria dos estados brasileiros nem ao menos sabe quantos casos de assassinatos são investigados e solucionados. Só foi possível calcular o índice de esclarecimento de homicídios de seis estados, e eles variaram de 4% (no Pará) a 55,2% (no Mato Grosso do Sul). 

Hipóteses

Alguns dados, porém, dão indícios do perfil dos perpetradores de assassinatos no Brasil. Embora o Atlas da Violência não faça essa análise, um de seus autores, Helder Ferreira, afirma ser possível trabalhar com algumas hipóteses. Uma delas, a de que o perfil dos agressores seja similar ao das vítimas. 

“É de suspeitar que boa parte dos agressores sejam também homens jovens. Porque no tráfico de drogas há maior presença de jovens, e ele também tem um comportamento que assume maior risco. Por exemplo, se envolvendo em conflitos na rua, que muitas vezes têm desfechos violentos”, diz Ferreira. 

Ele destaca ainda que essa é uma hipótese razoável, mas que não há elementos concretos para entrar na questão da cor de quem comete esses crimes. 

Faltam dados empíricos mais abrangentes, mas algumas pesquisas que usam os poucos números disponíveis apontam que o perfil das vítimas tende a corresponder ao perfil de quem mata - como este estudo do IPEA de 2015.

Desigualdade e violência

Para Paulo Cruz, professor de Filosofia e Sociologia e colunista da Gazeta do Povo, ligar automaticamente violência e desigualdade é uma opinião racista e elitista. 

“É claro que a periferia é o lugar onde a violência se concentra, mas ela não se concentra lá por causa da desigualdade”, afirma. 

“Dizer que a pessoa que não tem dinheiro tende a cometer crimes é uma inverdade, porque a grande maioria dos pobres que moram nas periferias e nas favelas não são bandidos. São pessoas trabalhadoras, que se viram para conseguir levar o sustento para suas famílias”, completa. 

Paulo Cruz acredita que a ideia de que a criminalidade está ligada à desigualdade é criada por aqueles que acham que é a sociedade quem corrompe o indivíduo. 

“Querem dar uma ideia de que a desigualdade causa a violência, e por isso o criminoso acaba sendo vítima também, e não o culpado. A sociedade não pensa assim: quem comete crimes comete porque quer, e não porque foi levado a cometer crimes por estar sem dinheiro”, pondera.

Em seu artigo "Racismo estatístico", publicado na Gazeta do Povo, Cruz analisou os dados sobre a cor das vítimas de uma edição anterior do Mapa da Violência, e viu que, no Brasil, morrem mais pardos do que pretos e brancos; e pardo (miscigenado) é a representação da maioria dos brasileiros. 

"Ou seja, não há genocídio de jovens negros, não há racismo nos números. O que há é uma situação circunstancial na qual os criminosos comuns vêm das regiões mais periféricas, onde está a esmagadora maioria da população miscigenada; que são, enfim, os brasileiros. Racializar isso é o mesmo que dizer que no Japão a maioria dos criminosos é japonesa. É, no mínimo, exagero ideológico; mas, no fim das contas, é racismo."

Para ele, a razão para os jovens entrarem para o mundo do crime está, em grande parte, “nas famílias desestruturadas, o que leva o jovem pobre a procurar referências fora de casa; nesse caso, bandidos e traficantes têm muita influência nessas regiões”. Além disso, a impunidade também tem seu papel, já que ao cometer um delito, o jovem muitas vezes não vai preso, ou logo sai da delegacia.

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