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| Foto: Reprodução/Canal Luccas Neto

Mais de 400 horas de conteúdo são carregadas a cada minuto no YouTube por usuários do mundo inteiro. Essa imensa quantidade de informação, ao alcance de alguns toques na tela de um celular, pode tornar difícil para os pais a tarefa de acompanhar o que os seus filhos estão assistindo. 

E eles certamente consomem bastante esse conteúdo. O Brasil é o segundo país que mais assiste vídeos do YouTube, atrás dos Estados Unidos, e alguns canais brasileiros estão entre os mais influentes do mundo. Mesmo que você não conheça alguns dos nomes mais famosos do universo dos youtubers, provavelmente o seu filho colabora para que esses canais alcancem milhões de visualizações e de assinaturas. 

Mas às vezes esses influenciadores digitais podem servir de mau exemplo para crianças e jovens. Youtubers famosos já se envolveram em polêmicas por terem feito comentários preconceituosos, publicado conteúdo inadequado ou por mau comportamento em geral. 

Além desses episódios controversos, o próprio conteúdo de canais famosos muitas vezes é considerado nocivo para crianças e adolescentes por pais e especialistas. Vídeos que estimulam o consumismo, que contém palavrões ou que promovem inversão de valores são os principais alvos das críticas.

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A psicopedagoga e especialista em educação especial Ana Regina Caminha Braga afirma que os youtubers podem, sim,  ser uma má influência para crianças e adolescentes. “Eles têm uma força de imagem e de alguma forma vão impactar nessas crianças o que eles pregam. As crianças vão internalizar o que eles estão dizendo”, diz. 

Antes de existir YouTube, as crianças e jovens já estavam expostos a maus exemplos em geral, na televisão, em filmes e na “vida real”. A diferença é que agora a forma como as famílias consomem produtos audiovisuais mudou. No passado, as casas tinham apenas uma televisão, normalmente controlada pelos pais ou pelos adultos da casa. “O consumo do conteúdo televisivo estava na mão de uma pessoa que iria verificar se era adequado ou não para quem estava assistindo”, lembra o doutor em Comunicação Ivan Paganotti, professor do mestrado em Jornalismo do FIAM-FAAM - Centro Universitário. 

Agora, o conteúdo audiovisual é acessado em diferentes telas de diferentes dispositivos e isso quebra um pouco a possibilidade de controle dos pais, explica Paganotti. Além disso, hoje existe uma diversidade muito grande de pessoas produzindo conteúdo. “Alguns deles têm uma responsabilidade grande e estão preocupados com a qualidade do conteúdo, e outros, não. Isso traz um desafio, porque essa multiplicidade de pessoas exibindo conteúdo dificulta um pouco esse controle”.

“Alguns conteúdos são mais ousados, podem até ser vistos como ofensivos. Obviamente, eles atraem a atenção das crianças, e acabam trazendo uma recompensa um pouco perversa a curto prazo; porque introduz o conteúdo mais ofensivo, atrai a atenção da criança e, com isso, consegue mais seguidores”, Paganotti avalia.

Conteúdo impróprio

Ana Regina considera que o conteúdo dos canais de alguns youtubers famosos podem ser perigosos para crianças, como vídeos de experimentos para serem feitos em casa. Outro exemplo são os vídeos sobre brinquedos caros ou importados, que podem estimular consumismo e o desejo de ter os produtos mostrados nos vídeos. "Se a criança não tem possibilidade financeira, pode ser prejudicial para o seu psicológico". 

O acompanhamento da família sem dúvida tem um papel muito importante. Ana Regina sugere que os responsáveis prestem atenção no que os seus filhos estão vendo, para que possam decidir o que vão permitir que as crianças vejam. "Algumas coisas você pode bloquear, todos os que falam palavrões e têm inversão de valores". 

Ela admite que não é fácil estabelecer limites. "É bem mais cômodo deixar a criança lá assistindo um vídeo, mas você tem que saber o teor dele, para chegar lá na frente e o prejuízo não estar grande demais para remediar”.

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A pedagoga e psicóloga Bettina Steren, professora da PUCRS, concorda que o papel da família é fundamental. "O diálogo com a criança é o primeiro passo. Assim você vai estar atento a mudanças de comportamento no adolescente ou na criança", opinou. 

Cortando a mesada

O YouTube recentemente anunciou que não vai mais dar recompensa financeira para os vídeos que possam ser considerados ofensivos, ou que tenham temática adulta ou sexual. "É uma proposta um pouco polêmica. Existem conteúdos legítimos de humor adulto que acabaram sendo penalizados por causa dessa mudança. Mas a justificativa da plataforma é tentar reverter esse cenário, não valorizar mais esse espaço dado a quem faz um produto visto como ofensivo. É uma forma de tentar resistir a essa tendência", disse o professo da USP.

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Foi o que aconteceu com o americano Logan Paul. Em dezembro de 2017, ele publicou um vídeo no YouTube que mostrava o corpo de uma pessoa que havia acabado de se suicidar em uma floresta no Japão. O vídeo teve mais de seis milhões de visualizações em um dia, e Paul foi duramente criticado por celebridades e políticos, que consideraram que ele foi insensível com vítimas de suicídio. Paul pediu desculpas, apagou o vídeo e fez uma reportagem mais profunda sobre suicídio. 

Mas o YouTube decidiu tirar o canal dele do Google Preferred, uma plataforma que une anunciantes aos canais de melhor conteúdo, e também suspendeu temporariamente toda a publicidade nos canais de Paul por causa de seu repetido mau comportamento. Estima-se que ele receba mais de um milhão de dólares por mês com anunciantes. 

Os mais populares 

Alguns brasileiros estão presentes no ranking dos cem canais do YouTube com mais seguidores, publicado pelo site de estatísticas de mídias sociais Social Blade

Conheça alguns dos youtubers brasileiros que estão entre os maiores influenciadores digitais do mundo: 

 Whindersson Nunes 

Assinantes: 30,3 milhões 

Posição no ranking mundial dos canais com mais seguidores: 16 

Youtuber mais influente do Brasil, o piauiense Whindersson publica vídeos de humor na plataforma desde 2013. Dono de um jatinho particular, ele viaja pelo Brasil fazendo shows de stand-up e também estrela anúncios publicitários. O canal de TV a cabo Multishow encomendou um projeto para o humorista, que deve ir ao ar em 2019. 

Após a polêmica envolvendo um comentário racista do YouTuber Júlio Cocielo, e sabendo que teria suas postagens vasculhadas pelos seguidores, Whindersson se antecipou e falou sobre postagens preconceituosas antigas.

“No passado já disse varias b****. Eu nem gostava de gay e dizia que quem era gay não entrava no céu. E no meu casamento esse ano uma das madrinhas se chama Rafael, pra ver como as coisas mudam. Então quem quiser procurar tweets antigo fique a vontade.” 

 

Felipe Neto 

Assinantes: 22,8 milhões 

Posição no ranking mundial dos canais com mais seguidores: 38 

Felipe Neto é um comediante, irmão do também YouTuber Luccas Neto. Ele tem um canal de vídeos desde 2010 e já participou de séries para a internet, filmes, peças de teatro, campanhas publicitárias e tem livros lançados. 

O youtuber diz que seu canal não é para crianças, é "para adolescentes, mas criança gosta". Ele começou fazendo vídeos em que reclamava de personagens da cultura jovem, com o tempo foi mudando e agora faz conteúdos que miram os mais novos. Muitos criticam Felipe Neto por seus conteúdos não serem apropriados para os menores de 12 anos e por estimular o consumo entre as crianças. Em um artigo no Estadão, Rita Lisauskas diz: 

"Basta assistir a dois ou três minutos de qualquer vídeo desse youtuber, tão querido pelas crianças, para perceber que deixar seu filho na “companhia” dele é um desserviço para à educação que nós, pais, nos esforçamos a dar a eles todos os dias. Você explica que falar palavrão não é legal, que não podemos tratar os outros com diferença, que bullying é errado, mas Felipe Neto está lá, tentando dizer aos nossos filhos que quem grita, humilha e zomba de tudo e de todos é que é descolado." A autora diz que o youtuber tenta vender seus produtos a todo tempo, o que vai contra a proibição de publicidade destinada a crianças menores de 12 anos no Brasil. 

 

Rezendeevil 

Assinantes: 18 milhões 

Posição no ranking mundial dos canais com mais seguidores: 60 

Pedro Afonso, o RezendeEvil, começou o seu canal fazendo vídeos sobre o jogo Minecraft, e alcançou muito sucesso. Agora o seu canal é mais focado em "trollagens", como "Joguei o PC do meu amigo na piscina! Ele Chorou?", "Fiz uma armadilha para a minha namorada e ela caiu!" e “Joguei o anão do telhado”. 

 

Luccas Neto 

Assinantes: 17 milhões 

Posição no ranking mundial dos canais com mais seguidores: 73 

“Tudo que uma criança quer fazer, mas não pode, ele faz!”, avisa o site do youtuber Luccas Neto, irmão de Felipe Neto. O conteúdo do seu canal é destinado a crianças de três a nove anos de idade, e tem foco em comidas gigantes e brinquedos. Em seu vídeo mais comentado, ele entra em uma banheira com 80 quilos de Nutella. O vídeo tem mais de 16 milhões de visualizações, e se tornou uma espécie de símbolo da baixa qualidade do conteúdo de youtubers. 

Nesse artigo, uma mãe relata como descobriu que a compulsão por comida do seu filho era estimulada pelo que a criança assistia no canal do Luccas Neto. Elis Monteiro diz que estava notando uma compulsão do filho por doces fora do normal da infância, e suspeitou que isso tivesse influência externa. Ela passou a acompanhar o que o filho assistia e se espantou com a obsessão de Luccas Neto em brincar com comida. 

 

Júlio Cocielo (CanalCanalha) 

Assinantes: 16,9 milhões 

Posição no ranking mundial dos canais com mais seguidores: 76 

Cocielo entrou em uma grande polêmica durante a Copa do Mundo de 2018. No dia da partida entre França e Argentina, em 30 de junho, ele disse no Twitter que o jogador da seleção francesa Mbappé, que é negro, "conseguiria fazer uns arrastão top na praia". 

O comentário considerado racista gerou muitas críticas e o youtuber perdeu contratos com anunciantes, que incluíam grandes empresas como Adidas, Banco Itaú e Coca Cola. Os seguidores desenterraram outros comentários ofensivos de Cocielo feitos no passado. Ele apagou as mensagens e fez um pedido de desculpas.

No entanto, a polêmica não teve efeito tão grande no seu número de seguidores. O seu canal no YouTube perdeu cerca de 10 mil inscritos nos primeiros dias após a polêmica, mas depois disso ganhou mais de 100 mil seguidores. Os seus seguidores no Twitter também cresceram após a controvérsia.

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Queridos do público

Kéfera Buchmann (5incominutos)

Inscritos: 11,2 milhões

A curitibana Kéfera Buchmann comanda o canal 5inco Minutos, criado em 2010, um dos primeiros do Brasil a atingir um milhão de inscritos. A youtuber já apresentou programas de TV e participou em filmes, e atuará na próxima novela das 6 da Rede Globo. 

No seu canal, Kéfera publica vídeos sobre temas do cotidiano, beleza, paródias e esquetes. 

Kéfera também já teve a sua cota de controvérsias. Em 2017, ela perdeu dez mil seguidores após fazer uma piadinha com Deus em um de seus vídeos. No mesmo ano, foi condenada a pagar R$ 25 mil de indenização a um taxista por danos morais e materiais. O motorista pediu a Kéfera que não comesse uma marmita dentro de seu carro, uma discussão se seguiu, e ela gravou e publicou vídeos em suas redes sociais com o nome e outros dados do taxista, que sofreu ataques e recebeu ameaças de agressão.

Felipe Castanhari (Canal Nostalgia) 

Inscritos: 11,1 milhões 

Felipe Castanhari lançou o Canal Nostalgia em 2011 com vídeos sobre referências da sua infância. Hoje, o canal publica também conteúdo sobre história, ciência, cotidiano e assuntos atuais. Ele também apresenta o programa “Guia Politicamente Incorreto”, do canal History Channel.

Rafael Lange (Cellbit)

Inscritos: 5,7 milhões

O catarinense Rafael Lange está por trás do canal Cellbit, que publica conteúdo sobre vídeo-games, vídeos de humor e webséries.

Lucas Feuerschütte (LubaTV)

Inscritos: 5,6 milhões

Lucas é um youtuber catarinense que começou fazendo vídeos sobre games. O canal LubaTV publica vídeos de humor, sátiras, entretenimento, assuntos pessoais e do cotidiano.

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