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Duas mulheres sentadas no telhado ouvem a música que toca na George Floyd Square, em Minneapolis, EUA, em 25 de maio de 2021: Apesar da importância cultural dada ao conflito com a polícia e ao racismo, no entanto, a pesquisa mostra que esses não são os problemas que mais preocupam os negros americanos.
Duas mulheres sentadas no telhado ouvem a música que toca na George Floyd Square, em Minneapolis, EUA, em 25 de maio de 2021: Apesar da importância cultural dada ao conflito com a polícia e ao racismo, no entanto, a pesquisa mostra que esses não são os problemas que mais preocupam os negros americanos.| Foto: EFE/EPA/CRAIG LASSIG

Uma nova pesquisa do Pew Research Center realizada em outubro de 2021 analisou as opiniões dos negros americanos. As tensões raciais nos Estados Unidos, que têm um histórico de leis de segregação racial nos estados do Sul que só caíram nos anos 1960, se exacerbaram desde que viralizaram imagens dos minutos finais da vida do americano negro George Floyd, em maio de 2020, que foi morto quando um policial o asfixiou ajoelhando sobre seu pescoço em uma abordagem. Protestos se seguiram em muitas cidades americanas. O policial foi condenado à prisão.

Nas obras culturais exportadas pelos Estados Unidos ao mundo, a relação entre a polícia e a população negra é há décadas retratada como difícil. Os comediantes negros Richard Pryor e Chris Rock, com quase meio século de distância entre suas carreiras, convergem. “Os policiais nos degradam, e as pessoas brancas não acreditam: dizem que estamos resistindo à prisão”, disse Pryor em 1974. “Toda vez que policiais atiram em um homem negro inocente, sempre dizem a mesma coisa: que não são a maioria, que há só algumas maçãs podres. Maçã podre? É um nome lindo para um assassino”, brincou Chris Rock em 2018 no especial Tamborine (Netflix).

Apesar da importância cultural dada ao conflito com a polícia e ao racismo, no entanto, a pesquisa mostra que esses não são os problemas que mais preocupam os negros americanos. Quando os pesquisadores fizeram uma pergunta aberta sobre qual era o problema mais importante enfrentado pela sua comunidade, 17% disseram que eram violência e crime, 11% questões econômicas, 7% moradia, 6% COVID-19 e saúde e 5% infraestrutura.

Realidade x narrativa

Mais negros disseram que não podiam apontar um problema na comunidade ou que o problema era só os vizinhos (4%) do que os que disseram que o maior problema de suas comunidades era relacionado a racismo e questões de diversidade e cultura (3%). Ou seja, o racismo ficou em último lugar como principal problema para os negros americanos entrevistados, empatando com problemas relacionados a emprego e salário (3%). É um marcado contraste com as prioridades da indústria cultural e da imprensa americana a respeito do grupo.

Quem deve resolver esses problemas? 65% dos negros americanos pensam que fica a cargo dos líderes locais ou de indivíduos como eles próprios. Só 12% pensam que é responsabilidade do Congresso, e 5% pensam que é do presidente. Este é outro contraste com as discussões raciais que geralmente envolvem alegações de problemas estruturais do país inteiro e giram em torno da figura do presidente dos Estados Unidos. Nessas respostas, os negros americanos se revelam em primeiro lugar americanos: a resposta da população em geral é basicamente a mesma para essa pergunta, comenta o Pew Research Center.

Ênfase na identidade racial pode piorar as coisas

Uma ampla maioria de 76% dos negros americanos considera a raça muito importante (22%) ou extremamente importante (54%) para a sua autoimagem. Há uma menor ênfase na identidade negra entre os negros mais jovens, os negros de origem hispânica, os que votam no partido Republicano e os mestiços: cerca de 60% em cada grupo não acham que sua raça é muito ou extremamente importante.

A própria pesquisa adotou a nova política editorial de escrever negro com letra maiúscula (“Black”), que se espalhou pela imprensa americana após a comoção pela morte de George Floyd. A política para outras identidades raciais pode não ser a mesma. Normalmente a letra maiúscula em adjetivos da língua inglesa é reservada para identidades nacionais (“Brazilian” - brasileiro) e afiliações religiosas (“Christian” - cristão). A adoção de “Black” pode ser uma forma tácita de se dizer que agora, nos Estados Unidos, raça é tão importante quanto nacionalidade e religião.

O orgulho racial, contudo, pode ser uma receita ambígua ou contraproducente. Em um estudo de 2001 publicado na revista científica PNAS, os psicólogos evolucionistas Robert Kurzban, John Tooby e Leda Cosmides fizeram experimentos para testar se as pessoas se classificam automaticamente em raças na ausência de incentivo cultural para tal. Os cientistas concluíram que não: a codificação com a raça é um subproduto de um maquinário mental que surgiu para detectar alianças de grupo. Quando incentivados a se classificarem de outras formas, os indivíduos dão menos importância à raça, podendo até parar de considerá-la totalmente.

“Menos de quatro minutos de exposição a um mundo social alternativo foram suficientes para esvaziar a tendência de categorizar por raça”, comentaram os pesquisadores. “Esses resultados sugerem que o racismo pode ser um constructo volátil e erradicável que persiste apenas enquanto for mantido ativamente pela ligação a sistemas paralelos de aliança social”. Em outras palavras, a ênfase em identidades raciais alimentaria o racismo, e ressaltar outras coalizões (nação, religião, time esportivo etc.) mina o seu poder. Houve uma crise de falha na reprodução de resultados da psicologia nas duas décadas seguintes, mas este estudo sobreviveu à crise e foi replicado com sucesso por cientistas belgas em 2014. Esses resultados vêm da psicologia evolucionista, que é ignorada, quando não demonizada, em grande parte das áreas acadêmicas que estudam identidade racial e racismo.

Mantidos pobres graças a boas intenções

Pobreza ainda é um problema que atinge negros desproporcionalmente nos Estados Unidos. O filósofo negro Thomas Sowell pensa que a população negra dos Estados Unidos foi sabotada pelos esforços assistencialistas dos progressistas desde a década de 1960, quando o presidente Lyndon Johnson, que assumiu o cargo após o assassinato de John F. Kennedy, implantou a assim chamada “guerra à pobreza”. Segundo a Heritage Foundation, os Estados Unidos gastaram 22 trilhões de dólares nesse assistencialismo nas cinco décadas que se seguiram à sua implantação: três vezes mais do que gastaram em todas as guerras desde a Revolução Americana. Ainda assim, o efeito sobre a pobreza foi nulo ou limitado.

Depois de décadas de crescimento econômico dos negros na primeira metade do século XX, que tinham níveis similares de casamento e criação conjunta das crianças por pais e mães até os anos 1960, hoje a maioria das crianças negras cresce em lares sem pai, o que é um fator preditivo de comportamento rebelde, criminalidade e pobreza. Em suma, o Estado substituiu o pai. Se mães solteiras pobres tivessem tido suas crianças dentro do casamento e tivessem a ajuda dos pais, dois terços delas teriam sido tiradas da pobreza e atingido a autossuficiência, relata a fundação.

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