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O comediante britânico Ricky Gervais
Eu seu já icônico monólogo, Gervais ecoa Sócrates ao mostrar que a verdadeira sabedoria está em conhecer os limites do próprio conhecimento.| Foto: VALERIE MACON / AFP

Durante uns poucos e gloriosos minutos na cerimônia de premiação do Globo de Ouro, Ricky Gervais disse a uma sala cheia de estrelas de Hollywood o que nós pensamos há anos: eles precisam parar de falar sobre política. “Vocês não têm moral de dar lição de moral sobre nada”, disse ele para a plateia surpresa. “Vocês não sabem nada sobre o mundo real”.

Essa foi a quinta vez que Gervais apresentou a premiação e, como ele deixou claro, também foi a última. Espera-se que ele tenha sido pago adiantado, porque Gervais com certeza não fez amigos entre os famosos presentes.

Dois milênios antes...

Mas seu discurso raivoso tem um pedigree de dois milênios, que remonta a Sócrates, que ficou surpreso quando o Oráculo de Delphi disse que não havia ninguém mais sábio do que ele. Sem acreditar no Oráculo, Sócrates saiu numa busca exaustiva por alguém mais sábio do que ele, mas voltou de mãos vazias.

Por quê? Porque todos os que ele encontrava diziam que, como Sócrates conhecia muito bem o seu ofício, ele sabia tudo. Políticos, poetas e artesão se consideravam todos, sem dúvida, qualificados para falar sobre sua área de atuação. Mas também se achavam capazes de falar com a mesma autoridade sobre tudo.

Sócrates chegou à conclusão de que, se ele era o mais sábio, era porque conhecia os limites do próprio conhecimento. E Ricky Gervais aproveitou essa dica de 2.000 anos na semana passada, quando aconselhou a elite hollywoodiana: “Se vocês ganharem, subam aqui, aceitem seu premiozinho, agradeçam seu agente e seu deus e caiam fora”.

Bolha

Seu monólogo de abertura viralizou antes mesmo da entrega do primeiro prêmio, deixando claro que aqueles entre nós que geralmente não frequentamos as premiações de Hollywood estamos mais do que cansados dessa gente. As estrelas do cinema vivem numa bolha, e todos, menos eles, percebem isso. Poucos parecem dispostos a lhes dizer que, fora do mundo do cinema, eles talvez não tenham a menor ideia do que estão falando.

Por que deveríamos nos importar com o que Robert DeNiro tem a dizer sobre a família Trump? Ou por que Sylvester Stallone acha que não deveríamos votar em Obama? Eles estão entre os maiores atores vivos, mas não são economistas nem analistas políticos. O mesmo serve para Cher, Alyssa Milano, Jimmy Kimmel, Rosie O’Donnell, Mark Ruffalo, e centenas de outros.

Assim como acontecia com os contemporâneos de Sócrates, as celebridades tendem a confundir a profundidade do conhecimento que têm com a abrangência do conhecimento que não têm. Enquanto cidadãos, eles têm todo o direito a dar opiniões, mas nós precisamos lembrar que, embora as celebridades fiquem dando lição de moral, elas não têm a menor ideia do que estão dizendo.

O trabalho de um artista é divertir. Quem trabalha bem assim é muito bem recompensado, e com todo o direito. As pessoas estão dispostas a dar seu dinheiro suado para se divertirem. As pessoas estão dispostas até a assistirem a intermináveis premiações nas quais os artistas dão tapinhas nas costas uns dos outros durante três horas.

Mas, como demonstram as reações ao discurso raivoso de Ricky Gervais, muitas pessoas estão mais do que cansadas de ouvirem lições de moral dessas pessoas que se julgam melhores. A maioria das pessoas no mundo real sabe aquilo que Sócrates sabia há 2.000 anos. Ser bom numa coisa não significa que você é bom em tudo.

Então, Hollywood, agora cabe a vocês. Façam proselitismo por sua própria conta e risco. Ou sejam mais inteligentes e se concentrem naquilo que vocês sabem fazer. Mas tomem uma decisão logo. Porque o Oscar vai ser entregue no dia 9 de fevereiro.

Dr. Antony Davies é membro da FEE e professor de economia na Duquesne University.

James R. Harrigan é diretor do Centro de Filosofia da Liberdade na Universidade do Arizona e membro da FEE.

© 2020 FEE. Publicado com permissão. Original em inglês
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