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Foto de 6 de janeiro de 2020 mostra a Catedral de Notre-Dame em Paris, que foi parcialmente destruída quando um incêndio atingiu-lhe o telhado em 15 de abril de 2019. )
Foto de 6 de janeiro de 2020 mostra a Catedral de Notre-Dame em Paris, que foi parcialmente destruída quando um incêndio atingiu-lhe o telhado em 15 de abril de 2019. )| Foto: Philippe LOPEZ / AFP

Três anos atrás, o jornalista e escritor Rod Dreher provocou um intenso debate no meio conservador dos Estados Unidos com o seu livro A Opção Beneditina, cuja tese central é a de que os cristãos americanos devem começar a construir suas próprias comunidades em vez de tentar reverter uma tendência geral antirreligiosa que, em sua opinião, é irreversível no curto ou no médio prazo.

Agora, ele volta ao tema com Live Not By Lies [Não viva por mentiras], ainda sem tradução para o português. A mensagem não é animadora: os conservadores devem se preparar para um novo tipo de totalitarismo que une governos e grandes corporações para punir quem discorda da ideologia vigente em temas como família e sexualidade.

No livro recém-lançado, ele entrevista ex-dissidentes do regime soviético para obter lições práticas de como se proteger e resistir nesses novos tempos. Em entrevista à Gazeta do Povo, Rod Dreher rebate a fama de pessimista, diz que a eleição de políticos conservadores não é suficiente para reverter essa tendência e afirma que o Brasil não deve se considerar imune a um futuro semelhante.

Em Live Not By Lies, você descreve um novo tipo de totalitarismo e argumenta que os Estados Unidos estão em um estado “pré-totalitário”. Como esse novo totalitarismo difere, digamos, do comunismo soviético?

Eu chamo de “totalitarismo suave” para diferenciá-lo do “totalitarismo duro” do bloco soviético. A maioria de nós, quando pensa em totalitarismo, imagina o modelo de 1984, de George Orwell: um Estado monstruoso que monitorava seus cidadãos o tempo todo e usava a dor e o terror para controlar os pensamentos deles.

O império soviético era assim. O que está se desenvolvendo aqui nos Estados Unidos agora é muito mais parecido com a distopia Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley: um regime todo-poderoso que controla as pessoas manipulando seus prazeres. É um totalitarismo mais agradável, mas ainda assim totalitarismo. Nesse regime – e isso significa não apenas o Estado, mas também as corporações e instituições – vão monitorar de perto e punir quem divergir da linha partidária de esquerda.

Nós devemos olhar para o sistema de crédito social da China como um exemplo de como vai ser aqui nos Estados Unidos. Na China, os softwares de inteligência artificial e vigilância são tão avançados que os governantes têm uma quantidade enorme de dados sobre cada indivíduo.

Os computadores analisam esses dados constantemente, e atribuem uma pontuação de “crédito social” para cada cidadão. Se o sistema observa que um indivíduo fez algo anti-social – como ir à igreja, ou se associar com “más” pessoas – ele automaticamente rebaixa a pontuação de crédito social da pessoa. Quem possui uma pontuação de crédito social mais baixa não pode participar plenamente da economia, viajar ou desfrutar de outros privilégios. Aqueles que são associados a essa pessoa em sua rede de contatos vão ter as notas de crédito social reduzidas. Então, até mesmo a família é incentivada a cortar os laços com a pessoa. É um sistema genial – maligno, mas genial.

Nos Estados Unidos, as corporações já coletam quantidades massivas de dados das pessoas usando os smartphones e os perfis de internet. A maior parte dos americanos não faz ideia disso. Se o Estado ou essas corporações, decidirem começar a punir os dissidentes, a infraestrutura tecnológica tem condições de reunir todas as informações de que eles precisam para descobrir quem os dissidentes são. Estou certo de que isso vai acontecer.

Na verdade, as pessoas que cresceram sob o regime comunista soviético e que agora vivem nos Estados Unidos têm dito há anos que a sombra negra do totalitarismo está caindo sobre os Estados Unidos, mas os americanos estão cegos.

Já é tarde demais para os cristãos tradicionais nos Estados Unidos, como parece ser na Europa ocidental? Eles devem se conformar com o fato de que eles são agora uma minoria?

Sim, mas eu colocaria as coisas de outra maneira. O Papa Bento XVI disse, em diversas oportunidades, que o status minoritário dos cristãos em muitos países do Ocidente é simplesmente um fato. É um fato triste, mas não podemos simplesmente desejar que ele desapareça. Nosso chamado é para não abdicar de nossa fé, mas criar novas estratégias para mantê-la apesar das circunstâncias radicalmente diferentes.

Eu não acredito que nós, cristãos praticantes, devemos nos conformar, no sentido de abandonar o que nós sabemos que é verdade; mas nós também não devemos esperar que nossas crenças sejam a norma, e agir como se a nossa cultura ainda fosse uma cultura cristã.

Ainda existem muitos, muitos cristãos americanos que ainda não absorveram esta nova realidade. Eles acreditam que, se eles votarem em candidatos conservadores, eles podem manter a velha ordem intacta. Isso é uma ilusão em massa.

A política é resultado da cultura, e a cultura tem sido pós-cristã há muito tempo. Uma cultura cujas crenças centrais não são repassadas para as crianças é uma cultura que está morrendo. A geração mais nova de adultos americanos hoje é a primeira em que a maioria das pessoas não é membro de uma igreja. Este é o presente para jovens adultos americanos, e em breve para todos.

Se esta fosse uma situação em que cristãos tradicionais fossem simplesmente marginalizados, eu não estaria tão preocupado. O problema é que o chamado regime de justiça social que está chegando ao poder vai buscar agressivamente nos punir por visões e práticas dissidentes em temas como a homossexualidade, raça e ideologia de gênero.

Eu não pensava que o tema racial fosse tão importante para os cristãos até muito recentemente. A maioria dos cristãos americanos acredita que o racismo é mau. Mas o que nós fazemos quanto a isto? Neste ano, nós alcançamos muito rapidamente o ponto em que você precisa concordar com as teorias mais radicais sobre raça – teorias que dizem que os brancos são unicamente maus – ou você vai ser condenado como racista. Eu não vejo como esta “Teoria Crítica da Raça”, como isto é chamado, pode ser conciliada com o Evangelho.

Todos pecaram e caíram da glória de Deus. Eu não acredito que alguém é superior ou inferior por causa da cor da sua pele, e eu me recuso a dizer isso. De forma bizarra, de repente isto se tornou controverso em muitas igrejas cristãs – até mesmo nas conservadoras. Eu falei recentemente com um amigo evangélico que me disse que, em sua família, cristãos brancos praticantes o chamaram de racista porque ele não apoia o Black Lives Matter. Ele disse que quando ele pergunta para eles que expliquem suas crenças, eles ficam irritados com ele e o atacam ainda mais. Essa irracionalidade moralista está em todo lugar agora.

No seu livro, você obtém lições de dissidentes políticos da União Soviética. Muitas das pessoas que você entrevistou estão surpresas de que a maior parte das pessoas nos Estados Unidos não entende o que está acontecendo. Por que isso acontece?

Porque os americanos realmente acreditam que isso não vai acontecer aqui. Aleksandr Solzhenitsyn avisou enfaticamente ao Ocidente que não deveria nunca pensar que o que aconteceu na Rússia não poderia acontecer em qualquer outro lugar do mundo sob as condições propícias.

Em Arquipélago Gulag, ele observa que os bons liberais russos dos anos 1890 jamais imaginaram que, dentro de 40 anos, torturas medievais terríveis seriam comuns por lá. Foi uma falha de imaginação. Nós temos o mesmo problema hoje nos Estados Unidos.

Para ser claro, eu honestamente não prevejo nenhum gulag para nós. Mas isto é apenas porque eu não acredito que o regime – e eu me refiro ao Estado, a grandes corporações, universidades e os meios de comunicação – vai precisar deles. Eles vão ser capazes de impor a conformidade de pensamento e ação sem o uso da força bruta.

Por exemplo: uma coisa importante que os líderes comunistas no bloco soviético fizeram foi apagar a memória cultural – ou seja, as pessoas, eventos, literatura e artefatos culturais que os povos conquistados acreditam constituir suas identidades coletivas. Quando você apaga a memória de uma cultura, a cultura se torna mais fácil de controlar. Os americanos não conseguem imaginar como isso poderia ser feito. Mas está acontecendo nas escolas e na cultura popular a todo o momento. Nós somos tão complacentes!

Existem muitas razões para esta complacência, mas eu acredito que é correto dizer que ela vem principalmente disto: nós, americanos, vivemos sob a ilusão de que nós somos boas pessoas a quem coisas ruins não podem acontecer. Ser americano é não ter um senso de tragédia.

Como os cristãos podem se beneficiar do fato de que eles estão rapidamente se tornando parte de uma contracultura? Existe algo de bom nisso?

Na verdade, sim. O filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard, que era cristão, disse que quando todo mundo é cristão simplesmente porque nasceu em uma sociedade, então o Cristianismo deixou de existir.

O argumento dele era que em sociedades onde o Cristianismo é fácil, as pessoas perdem o sentido de que para ser um seguidor de Cristo é preciso tomar a sua cruz e morrer para si mesmo. Eu nasci em 1967, e fui criado em uma pequena cidade rural no interior do Sul. Todo mundo se considerava cristão, apesar de a maioria das pessoas nunca ir à igreja.

Na minha família também era assim. Nós éramos peixes, e a fé cristã era simplesmente a água em que nós nadávamos – pelo menos é o que nós pensávamos. As pessoas da geração dos meus pais nunca perceberam a rápida descristianização da sociedade americana que estava se aproximando, e não prepararam os seus filhos para isto. Eu vejo a mesma coisa acontecendo com a minha geração.

Já se tornou mal visto ser um cristão tradicional em alguns círculos profissionais. E isto está ficando cada vez pior, rapidamente. Ser cristão vai ter um custo. Em Live Not By Lies, eu acredito que o capítulo mais importante é aquele em que os dissidentes soviéticos cristãos explicam por que nós precisamos aprender a sofrer pela nossa fé. O cristianismo americano se resumiu às orações da classe média de vida confortável.

Muitas dessas pessoas vão pular do barco quando ser cristão exigir algo difícil delas. Eu não quero ver ninguém deixando a igreja, mas isto realmente vai ser uma purificação. Aqueles que permanecerem vão saber o que de fato acreditam, e por que, já que a fé deles terá sido colocada à prova por meio do sofrimento. O padre Joseph Ratzinger, o futuro Papa Bento XVI, previu tudo isso em 1969! Agora nós estamos vivendo isso.

Você já foi criticado por outros conservadores por ser muito pessimista. Alguns argumentam que a eleição de Donald Trump e uma certa revitalização do movimento conservador, além de algumas tendências sociais (como a redução no número de abortos), são sinais de que as coisas não vão tão mal. Como você responde?

Nós devemos ser gratos pelas eventuais boas notícias, mas elas não negam a tendência geral da cultura, que é na direção do ateísmo, do hedonismo e da dissolução.

Trump com certeza tem sido melhor nos temas sociais do que a Hillary Clinton seria, mas ele está, na melhor das hipóteses, apenas segurando a correnteza.

A direção da sociedade americana desde o começo dos anos 1990 tem sido a da dissolução da família tradicional, desfazendo a ideia cristã de casamento, e agora até dissolvendo a crença na existência das categorias “masculino” e “feminino”. A direção tem sido para longe da crença em Deus. Como tem sido muito claro neste ano, muitos de nós, americanos, não acreditam mais nos ideais expressados pela Constituição. A pornografia está em todo lugar. A taxa de natalidade colapsou. E assim por diante.

Trump poderia ser a segunda vinda do Rei Salomão, e ele ainda assim não conseguiria reverter isso. Vai exigir muito trabalho, e uma grande dose de conversão de vida, para restaurar as coisas. Os americanos são naturalmente otimistas, o que pode ser algo bom. Mas há um ponto em que o otimismo se transforma em negação da realidade.

Você acredita que os cristãos conservadores nos Estados Unidos têm colocado muita fé no governo e prestado muito pouca atenção à sociedade, à família e às instituições locais?

Com certeza. Desde os anos 80, os conservadores cristãos acharam que, se nós votássemos nas pessoas certas, e tivéssemos os juízes certos, tudo funcionaria. A teoria era a de que o povo americano era majoritariamente correto, mas as elites eram corruptas. Isto simplesmente não é verdade.

As elites são ruins, mas ao ignorar o cultivo dos valores e práticas cristãs nas nossas próprias famílias, igrejas e comunidades, nós falhamos. Esta não é uma razão para desistir de votar e de trabalhar por um governo melhor e juízes melhores. Mas não vamos esquecer do que Jesus Cristo chamou os fariseus: “sepulcros caiados”. Não interessa se nós temos bons líderes e bons juízes quando nossas próprias famílias e igrejas estão desmoronando.

Uma coisa que eu vejo com frequência é conservadores tendo todas as opiniões “corretas” sobre Deus, a política e todo o mais, mas vivendo de maneiras que desqualificam totalmente o que eles professam.

Por exemplo: eles deixam seus filhos terem smartphones, o que é uma das piores coisas que pais podem fazer. Não apenas os smartphones são uma porta dos jovens para a pornografia, mas as redes sociais têm efeitos terríveis sobre a mente deles, e sobre os níveis de ansiedade deles.

Desta forma, o futuro dos Estados Unidos vai depender mais dos hábitos tecnológicos do que dos hábitos eleitorais das pessoas. Em Live Not By Lies, eu falo sobre o que o Vale do Silício está fazendo, por meio do uso das redes sociais, para manipular o que as pessoas pensam e fazem. A maior parte dos americanos não faz ideia disso.

Algumas pessoas na direita afirmam que a era das redes sociais é uma boa novidade porque as pessoas podem se organizar de forma horizontal, e isso leva à descentralização de poder. Por outro lado, como você argumenta, as grandes empresas de tecnologia têm uma tendência à esquerda, e os dados obtidos por ela vão mais cedo ou mais tarde ser usados pelo governo. Qual papel você vê as redes sociais exercerem nessa era de “atomização” do indivíduo, como você descreve em seu novo livro?

O lado bom das redes sociais é que elas permitem que se organize uma resistência, e permite a descentralização. O lado mau das redes sociais é que elas causam uma fragmentação radical da sociedade. Nenhuma sociedade pode viver por muito tempo com essa fragmentação radical. Como Hannah Arendt explica no seu grande livro sobre totalitarismo, os movimentos e líderes totalitários dependem da atomização de um povo para obter controle sobre ele.

As redes sociais levam à atomização de duas maneiras – uma óbvia, a outra em grande parte escondida. A forma óbvia é que o seu formato causa um tribalismo radical ao mostrar às pessoas informações que reforçam as opiniões e preconceitos que elas já têm.

A consequência menos óbvia é neurológica e psicológica. As redes sociais treinam nossos cérebros para buscar doses constantes de dopamina obtida com o que nos agrada na internet, e ela destrói nossa habilidade de manter a atenção. Então nós nos tornamos o tipo de pessoa que funciona na base da emoção e dos instintos, não da deliberação racional.

Nós eliminamos nossa habilidade de tomar decisões racionais. Um amigo meu que tem um cargo alto em uma empresa de engenharia disse que a sua empresa começou a ver um grande declínio nas capacidades dos jovens recém-formados por volta de 2012 – cinco anos depois da chegada dos smartphones. Ele diz que o smartphone destruiu a capacidade mental mais elevada de muitas pessoas.

Como você diria que Live Not By Lies se relaciona com A Opção Beneditina? Três anos depois, você está mais ou menos pessimista?

Você pode ver este livro como uma sequência de A Opção Beneditina, apesar de ter um foco mais específico e de ser ainda mais pessimista (eu digo “realista”). Em A Opção Beneditina, eu falo sobre as muitas forças na modernidade que estão levando um grande número de pessoas a perder a sua fé cristã, e eu falo sobre coisas a que nós cristãos podemos nos apegar durante essa nova Idade das Trevas.

Em Live Not By Lies, eu enfatizo as maneiras específicas em que nossa sociedade está se tornando não apenas uma cultura pós-cristã, mas um tipo de totalitarismo que vai especificamente atingir os conservadores e as pessoas de fé tradicional. A velocidade com que esse novo sistema está sendo criado é realmente impressionante. Os militantes da chamada ideologia da justiça social capturaram as elites e as redes das elites – e isso sempre precede uma verdadeira revolução.

Quando eu terminei o primeiro rascunho de Live Not By Lies no começo da primavera, eu me perguntei como eu iria convencer os meus leitores de que o país está em uma crise tão séria. Então o Covid se espalhou e a morte de George Floyd aconteceu.

A propagação rápida dessa ideologia tirânica do “antirracismo” entre as elites, e a disposição delas de destruir as carreiras e vidas de pessoas que discordam delas, é exatamente o tipo de coisa sobre a qual eu escrevo a respeito em Live Not By Lies. Depois de um ano como o que nós estamos tendo, eu não acho que vou ter tanto trabalho apresentando meus argumentos para o público americano.

Você diz que alguém não precisa necessariamente deixar de viver na cidade para viver a Opção Beneditina. De qualquer forma, você acredita que essa é a melhor solução? Você acredita que os cristãos devem formar suas próprias comunidades sempre que possível?

Sim, absolutamente. Ao pesquisar para Live Not By Lies, eu descobri que uma das coisas mais importantes que as pessoas precisam para ajudá-las a resistir ao totalitarismo é uma pequena comunidade de pessoas nas quais você pode realmente confiar.

No totalitarismo suave que se aproxima, acredito que vai ser muito mais fácil para cristãos perseguidos se sustentarem se eles viverem em comunidades rurais onde eles podem plantar e onde eles não serão tão monitorados.

Eu vivo em uma cidade agora, mas minha família tem terras no campo. Eu vou mantê-las para o caso de, no futuro, minha família e meus amigos cristãos mais próximos precisarem se mudar para um lugar onde é mais possível viver perto um dos outros, apoiar uns aos outros, e relembrar uns aos outros o que nós somos e no que nós acreditamos. Eu não acredito que isso vai acontecer semana que vem ou ano que vem, mas creio que vai acontecer em algum momento da minha vida, e certamente na vida das minhas crianças.

Quando eu estava em Roma alguns anos atrás dando palestras sobre A Opção Beneditina, eu conheci um católico alemão que veio me ouvir. Ele me disse que têm muitos filhos, e que ele tem contato com outras famílias católicas alemãs que também têm.

Eles acreditam que a Igreja Católica da Alemanha vai desmoronar nas próximas décadas, e decidiram que a única forma de manter a fé viva vai ser por meio da construção de redes fortes de famílias religiosas, que vão trabalhar com padres que acreditam no que pregam. São famílias cujas crianças vão se casar entre si quando crescerem.

Quando eu descobri a profissão desse homem, eu percebi que ele é bastante cosmopolita, e de forma alguma um extremista. Mas ele sabe ver os sinais dos tempos, e está preparando sua família para as dificuldades à frente. Parte da preparação dele envolve planos para se mudar para mais perto de outras famílias católicas praticantes. O dia está chegando.

Pode-se argumentar que muitos dos sinais preocupantes que você descreve no seu livro também podem ser vistos no Brasil, mas também é verdade que os brasileiros não estão em um estágio tão avançado de secularização. A família ainda é central para a sociedade, os cristãos mais conservadores ainda são uma maioria e a ideia de igrejas fechando as portas por falta de fiéis soa pouco plausível. Quais erros você acredita que os brasileiros devem tentar evitar para não acabar como a Europa e os Estados Unidos?

Não tome sua fé por garantida, e não presuma que o que existe hoje vai sempre existir. Trinta anos atrás, se você dissesse que a fé católica iria entrar em colapso na Irlanda, ninguém teria acreditado. Ainda assim, está acontecendo.

Eu sou da geração do papa João Paulo II, e eu sempre acreditei que a Polônia era uma rocha firme da fé cristã em um continente cada vez mais sem Deus. Mas, no ano passado, quando eu estive na Polônia pesquisando para Live not By Lies, eu fiquei chocado ao conhecer jovens católicos na casa dos vinte anos que preveem que, em uma década, talvez duas, a Polônia vai tomar o mesmo caminho da Irlanda.

Por último, eu conheci um padre católico mais velho e experiente por lá, e perguntei se ele acreditava que aquilo poderia ser verdade. “Ah, sim”, disse ele, “Está realmente acontecendo”. Por quê? A grande razão é bispos e padres pensarem “Isso não vai acontecer aqui”.

Basta uma geração negligente em passar a fé adiante, e a corrente é quebrada. Depois de duas gerações, menos pessoas se lembram de que elas um dia foram um povo cristão. Na Roma antiga, no começo do século IV, ninguém imaginava que o paganismo, que tinha sido a religião cívica por muitos séculos em Roma, iria um dia desaparecer – e certamente não que esse grupo chamado de cristãos iria substituí-lo.

Mas ao fim do século, o paganismo estava morrendo, e o Cristianismo o substituindo. Cristo disse que as portas do inferno não prevaleceriam sobre sua igreja, mas ele não disse que as portas do inferno não prevaleceriam sobre ela no Brasil, ou nos Estados Unidos. O Espírito Santo não vai onde ele não é bem-vindo.

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