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A viagem à Europa Oriental marcou profundamenta Roger Scruton. O bloco comunista era seu inferno. Mas não foi Virgínio quem o guiou lá, e sim Edmund Burke.
A viagem à Europa Oriental marcou profundamenta Roger Scruton. O bloco comunista era seu inferno. Mas não foi Virgínio quem o guiou lá, e sim Edmund Burke.| Foto: Reprodução/ Wikipedia

A morte de Roger Scruton me levou a reler dois de seus ensaios. O primeiro, “Why I Became a Conservative” [Por que me tornei conservador] foi publicado na revista The New Criterion em 2003. O segundo foi publicado no Daily Mail no verão passado, com o seguinte título: “Sir Roger Scruton lutou contra a Polícia do Pensamento por trás da Cortina de Ferro quando jovem. Agora ele diz que as pessoas o perseguem depois de ser acusado de racismo”. Os dois textos descrevem aspectos do progresso intelectual de Scruton, no qual a experiência dele com o comunismo foi fundamental.

Quando visitou a Europa comunista pela primeira vez, no fim dos anos 1970, Scruton tinha estudado Edmund Burke e adotava muitas das lições contidas em Reflexões sobre a Revolução na França. Ele considerava a defesa que Burke fazia da autoridade, tradição e do contrato social entre gerações, e não indivíduos, essencial ao elaborar sua resposta intelectual aos levantes estudantis de 1968. “Entendi a tese positiva — a defesa do preconceito, tradição e hereditariedade, e de uma política baseada na confiança, na qual passado e presente tem peso igual para o presente — mas não entendi a tese profundamente negativa, o vislumbre do inferno contida na visão que ele tinha sobre a Revolução”, escreveu Scruton em 2003.

A visita dele a Praga em 1979 foi uma revelação sombria. “Não tinha a menor ideia de como era viver sob o comunismo — nada da humilhação cotidiana de ser uma não-pessoa para a qual todos os caminhos de autoexpressão estão fechados”. A polícia o acossou quando ele tentou entrar num apartamento ao qual foi convidado para dar uma aula. Os participantes — membros da intelectualidade tcheca em extinção — tinham sido apagados da vida pública. Eles ganhavam a vida como limpadores de chaminé. Scruton se inspirou a se envolver com a vida dos dissidentes tchecos. Quanto mais tempo ele passava na Europa central, mais percebia os males do comunismo. “Nas terras tchecas”, escreveu ele em 2019, “senti ao meu redor a presença de uma força impessoal e sombria, um olho controlador que a tudo observa com o objetivo de instaurar a desconfiança e o medo no seio de todas as relações humanas”.

Ele refletiu sobre essas sensações. “E percebi”, escreveu ele para a New Criterion, “que o relato que Burke faz da Revolução não era apenas um texto de história contemporânea. Era como o relato que Milton fez do Paraíso Perdido – uma exploração de uma região da psique humana: uma região sempre aberta à visitação, mas da qual a saída é um milagre, um mundo cuja beleza fica para sempre manchada por lembranças do inferno. Em outras palavras, eu vi Satã e sua obra – a mesma visão que abalou Burke nas profundezas de seu ser”.

O bloco comunista era o inferno de Roger Scruton. Mas não era Virgílio a guiá-lo lá. Era Edmund Burke. Quanto ao trabalho de transcrever, praticar e analisar a política contemporânea, a filosofia que Burke simplificou para o mundo”, escreveu Scruton em 2003, “esse talvez seja o maior desafio com o qual hoje nos deparamos”. E continua assim.

Matthew Continetti é residente no American Enterprise Institute e fundador do Washington Free Beacon.

© 2020 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês
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