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25 anos depois de sua morte, Russell Kirk, o homem que ressuscitou o conservadorismo, é tema de celebrações nos Estados Unidos.
25 anos depois de sua morte, Russell Kirk, o homem que ressuscitou o conservadorismo, é tema de celebrações nos Estados Unidos.| Foto: Divulgação/ The Russell Kirk Center

Longe das enlouquecedoras multidões, no interior do Michigan pontuado por lagos, um evento especial ocorre na cidadezinha de Mecosta. Aqui, um grupo de conservadores, incluindo o eminente historiador do conservadorismo norte-americano, George Nash, celebrará o 25º aniversário do Russell Kirk Center.

Como ele morreu há 25 anos, é possível que os leitores mais jovens não conheçam Kirk e suas indispensáveis contribuições ao movimento conservador.

Entre elas: Kirk escreveu “A Mentalidade Conservadora”, um clássico sobre o legado conservador norte-americano desde a fundação dos Estados Unidos até o século XX. Kirk não apenas escreve uma definição sucinta do conservadorismo (a mudança é inevitável, mas tem de ser gradual, “sem desestabilizar a tradição de uma só vez”), e também uma série de perfis breves de John Adams, Daniel Webster, Henry Clay, Orestes Brownson, T. S. Eliot, Edmund Burke e Benjamin Disraeli.

Kirk também batizou os conservadores como tal. Antes da publicação de “A Mentalidade Conservadora”, em 1953, os conservadores se identificavam de várias formas, como individualistas, liberais clássicos, tradicionalistas e republicanos jeffersonianos. Depois do livro, eles passaram a se chamar “conservadores”.

Um caso interessante é o de William F. Buckley, Jr., que no seu livro “God and Man at Yale” [Deus e o homem em Yale], de 1951, se considerava um “individualista”, rejeitando deliberadamente a palavra “conservador”. Em 1955, ao fundar a National Review e dois anos depois do lançamento de “A Mentalidade Conservadora”, Buckley usou apenas uma palavra para descrever a revista e a si mesmo: “conservador”.

Quase tão importante quanto “A Mentalidade Conservadora” foi “The Roots of American Order” [As raízes da mentalidade norte-americana], no qual Kirk usa cinco cidades (Jerusalém, Atenas, Roma, Londres e Filadélfia) para explicar as origens das bases política, cultural, intelectual e moral dos Estados Unidos.

Em resumo, Jerusalém está associada à crença judaica num só Deus; Atenas, à investigação da filosofia política; Roma, à invenção de uma República e ao respeito pelo Estado de direito; Londres, ao Parlamento; e a Filadélfia é a cidade natal da Declaração de Independência e da Constituição.

A genialidade de Kirk e sua capacidade de expressar resumidamente ideias complexas me foram reveladas um dia quando o cumprimentei por sua ideia das cinco cidades. “Sério?”, perguntou-me ele com alguma surpresa. “Achei que era bastante óbvio”.

Durante mais de 40 anos e ao longo de mais de 30 livros, como escreveu o intelectual George Panichas, Kirk lutou na linha de frente da guerra ideológica, sempre defendendo “as coisas permanentes”, como a ordem, a liberdade e a justiça.

A Heritage Foundation o celebrou, como se vê por causa de suas mais de 40 palestras na instituição, mais do que qualquer outro palestrante. Criamos o Ciclo Kirk de Palestras, permitindo que importantes intelectuais – os mais recentes foram o professor Wilfred McClay e o escritor Robert Reilly — analisassem o movimento conservador e os Estados Unidos por meio das lentes kirkianas.

Kirk nunca se desesperou, nem quando o caos pareceu reinar em nossas cidades. No último capítulo de seu último livro, “The Sword of Imagination” [A espada da imaginação], ele propôs uma pergunta, “Viver vale a pena?”, respondendo com firmeza que sim. Como testemunho disso, ele falou de sua vida, dizendo que ela tinha três objetivos.

Primeiro, conservar um patrimônio de ordem, justiça e liberdade; uma ordem moral tolerável; e a cultura herdada. A importância da imaginação estava no centro da crença kirkiana. Ele dizia que tinha sido bem-sucedido em “lembrar as pessoas de que a verdade não nasceu ontem”.

Em segundo lugar, levar uma vida de independência decente, viver como seus ancestrais viviam, na terra deles, em circunstâncias que lhe permitiriam expressar a verdade e se fazer ouvido.

E, por último, se casar por amor e criar filhos que viriam a saber que a obra de Deus é a liberdade perfeita. Sua incansável viúva, Annette, fundadora e presidente do Kirk Center, reconhece o casamento que eles tiveram por 30 anos, enquanto suas quatro lindas filhas e netos provam que Deus é amor.

Então, parabenizemos o Kirk Center por seu 25º aniversário e desejos a Annette e seus colegas o melhor em sua missão de preservar e proteger a liberdade ordeira. Aprendamos com Fulberto de Chartres, que na Idade Média declarou que nós e nossos contemporâneos, isso é, as pessoas da época dele, somos anões sobre os ombros de gigantes. Enxergamos mais longe do que os gigantes, disse Fulberto, mas apenas porque estamos momentaneamente sobre os ombros deles.

Ainda assim, nestes tempos conturbados, temos a sorte de podermos subir nos ombros de um gigante conservador como Russell Kirk.

Lee Edwards é estudioso do pensamento conservador na Heritage Foundation. Ele é historiador e autor de 25 livros.

© 2020 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês
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