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Heinrich Himmler, chefe da elite paramilitar nazista, a SS, chegou a enviar uma expedição em busca do Santo Graal, que daria poder absoluto para quem o possuísse.
Heinrich Himmler, chefe da elite paramilitar nazista, a SS, chegou a enviar uma expedição em busca do Santo Graal, que daria poder absoluto para quem o possuísse.| Foto: Arquivo do governo alemão

Segundo os antigos geógrafos gregos, existia uma terra ao norte chamada Θούλη, ou Thule. Séculos depois, o poeta romano Virgílio utilizaria a expressão em latim “Ultima Thule” para se referir, de forma genérica, a um lugar muito distante — o que em português chamaríamos de “fim de mundo”.

O lugar provavelmente era a Escandinávia, mas os astrônomos da era moderna utilizaram a referência para batizar Ultima Thule, uma área distante do sistema solar, localizada a quatro bilhões de quilômetros da Terra. Mas, na Alemanha da década de 1917, havia um grupo de místicos para quem Thule tinha um outro significado: esta seria uma ilha misteriosa, chamada Hiperbórea, localizada nos mares gelados do norte da Europa. Cercada pelo gelo, o local se manteria paradisíaco, sempre iluminado e quente, porque seus moradores seriam agraciados pelo deus Apolo.

Os jovens alemães que acreditavam que o local mágico seria real fundaram a Sociedade Thule em referência à possiblidade de construir um mundo perfeito, à semelhança dessa terra mágica. Seu símbolo era a suástica. E os arianos seriam o povo supostamente superior.

Alguns dos seguidores do grupo influenciaram o nazismo. Mesmo que não tenha participado pessoalmente de reuniões, o próprio Adolf Hitler se mostrava adepto de alguns conceitos da Sociedade Thule, especialmente a noção de que exista uma raça superior às demais.

A organização surgiu no final da Primeira Guerra Mundial. Era, nas palavras de Ian Kershaw em sua biografia de Hitler, um clube “de algumas centenas de indivíduos abastados, dirigido como uma loja maçônica, que fora fundado em Munique na virada do ano 1917 para 1918”.

Kershaw prossegue: “Sua lista de membros — que incluía, além de Lehmann, o ‘especialista em economia’ Gottfried Feder, o publicista Dietrich Eckart, o jornalista e cofundador do Partido Alemão dos Trabalhadores e os jovens nacionalistas Hans Frank, Rudolf Hess e Alfred Rosenberg — parece um Who’s Who [quem é quem] dos primeiros simpatizantes nazistas e figuras importantes de Munique”.

Líder polêmico

O líder do movimento era o barão Rudolf von Sebottendorff, que Kershaw descreve como um “aventureiro cosmopolita e pretenso aristocrata que, na verdade, era filho de um maquinista e fizera sua fortuna graças a negócios duvidosos na Turquia e a um casamento oportuno com uma herdeira rica”.

Ele “garantia que as reuniões se realizassem no melhor hotel da cidade, o Vier Jahreszeiten, e financiava, para o movimento völkisch [étnico] de Munique, a publicação de seu jornal, o Münchener Beobachter (rebatizado em agosto de 1919 como Völkischer Beobachter e comprado pelos nazistas em dezembro de 1920)”.

A trajetória de Sebottendorff é cheia de episódios obscuros. Nascido na atual Saxônia em 1875, ele teria passado uma temporada no Egito na virada do século. Uma década depois, já teria voltado para Alemanha, cumprido pena por estelionato e emigrado para o Império Otomano, onde se converteria ao islamismo, misturado com uma série de referências de misticismo de diferentes influências, incluindo a cabala judaica e a numerologia.

“Depois de voltar da Europa, Sebottendorff abraçou uma forma de teosofia que reforçava a superioridade racial dos arianos. A Sociedade Thule tentou estabelecer um front antissemítico, liderado entre a classe trabalhadora, para disseminar ideias esotéricas para o Partido Alemão dos Trabalhadores, que posteriormente Hitler transformaria no Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães”, escreveu David Luhrssen no livro 'Hammer of the Gods: The Thule Society and the Birth of Nazism'.

“Somos arianos”

A derrota alemã na Primeira Guerra aumentou o alcance do grupo, que chegou a ter centenas de seguidores. Durante um evento em novembro de 1918 Sebottendorff declararia: “O puro sangue alemão foi derrotado pelo inimigo mortal: Judá. Conclamo todos a lutar. Nossa ordem é germânica. Nosso deus é Walvater e somos arianos.” Walvater, no caso, é um dos nomes do deus nórdico Odin. E o discurso ecoava o lema oficial da Sociedade Thule: “Lembra-te que tu és alemão. Mantenha o teu sangue puro!”

Com o passar dos anos, o grupo foi perdendo impacto na medida em que parte de seus membros acabaram absorvidos pelo partido de Hitler — que, a partir de meados da década de 20, deixaria de reconhecer os vínculos dos nazistas com a Sociedade Thule.

Um dos principais líderes dos Thule que chegaria a altos postos na Alemanha foi Heinrich Himmler, o chefe da elite paramilitar nazista, a SS. Himmler chegou a enviar uma expedição para o Tibete, em busca do suposto elo perdido dos arianos. Também procurou o Santo Graal, que daria poder absoluto para quem o possuísse (algo retratado com todas as liberdades artísticas no filme 'Indiana Jones e a Última Cruzada'). E exigia que seus subordinados assumissem novos nomes de origem teutônica.

Quanto a Sebottendorff, ele morreu em 1945, aparentemente de suicídio. Ele teria se jogado de uma ponte de Istambul, na Turquia.

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