Depois de ser exibida em Israel, no ano passado, a série documental “Transkids” [Crianças trans] já está disponível em alguns serviços de streaming.
Tema de um artigo elogioso no jornal The Times of Israel, o documentário em cinco episódios feitos para a televisão aparentemente pretende tornar um fenômeno que antes afligia uns poucos jovens num objetivo comum, aceitável e até mesmo nobre.
“Transkids”, indicado a quatro prêmios da Academia Israelense de Cinema e Televisão, é obra da produtora, diretora e roteirista Hilla Medalia, israelense que viveu muitos anos em Nova York.
A série de Medalia e “um olhar fascinante e sensível sobre a vida de adolescentes com disforia de gênero e suas famílias”, de acordo com o Times of Israel. “São adolescentes de diferentes cidades e diferentes origens religiosas e sócio-econômicas, mas todos têm de lidar com a realidade da vida cotidiana em Israel — incluindo o serviço militar obrigatório”.
“Transkids”, que Medalia filmou ao longo de quatro anos, mostra adolescentes trans que recebem tratamento hormonal e se submetem a cirurgias de mudança de sexo que os obrigam a fazerem a “transição” de mulher para homem, e vice-versa, dependendo do caso.
Os procedimentos são brutais, mas tanto o documentário quanto o artigo do jornal The Times of Israel fazem com que tudo pareça normal e até mesmo heroico.
Boa parte da série de atém ao processo de recrutamento das Forças de Defesa Israelenses e a questão complexa de quatro adolescentes transgêneros. O serviço militar é obrigatório para cidadãos israelenses com mais de 18 anos, embora haja exceções.
Apesar da tentativa clara de transformar o serviço militar em potencial desses quatro adolescentes numa polêmica, as Forças de Defesa Israelenses não parecem tratá-los diferente dos demais.
“O único tratamento especial que os soldados transgêneros recebem é quanto às acomodações para dormir, tomar banho e ir ao banheiro”, escreve o Times of Israel.
Dois dos quatro adolescentes do documentário foram recrutados.
Na verdade, apesar da proporção insignificante de adolescentes trans em Israel, o governo já permite que indivíduos transgêneros “troquem seu gênero nos documentos oficiais de identidade sem que tenham de se submeter a cirurgias de mudança de sexo”, diz o artigo. “O comitê governamental tampouco exigirá que os indivíduos transgêneros se submetam a tratamentos hormonais”.
Estou surpresa e, sinceramente, triste por ver que um documentário como este chamou tanta atenção e foi tão elogiado em Israel. Não há provas de que os adolescentes trans sejam um fenômeno disseminado por lá nem nos Estados Unidos.
São poucos os dados científicos disponíveis que recomendam o tratamento da disforia de gênero com terapia hormonal ou cirurgia de mudança de sexo. Na verdade, os dados existentes mostram que mudanças drásticas como essas são prejudiciais. Mas esse documentário mostra a jornada dos quatro adolescentes como se fosse uma guerra, ainda que a batalha que eles travam desafie a ciência e a psicologia.
Imagine um documentário que mostre a bravura dos anoréxicos que continuam a se recusar a comer, que recebem cuidados médicos que reafirmam sua anorexia e que aprendem a perpetuar o transtorno mental.
Uma coisa é mostrar crianças que sofrem de disforia de gênero. Era de se esperar que essas crianças se submetessem a uma terapia, mas ironicamente essa parece ser o único tratamento médico que os adolescentes de “Transkids” não recebem.
Pior ainda é Medalia, uma adulta, produzir todo um documentário sobre adolescente que sofrem de disforia de gênero, tratando isso com métodos nada convencionais, como mastectomias ou a remoção do pênis, tratando-os como heróis do cotidiano.
Esse documentário serve para normalizar e perpetuar a ideia de que crianças transgêneros são comuns e que o tratamento para elas – hormônios e cirurgias de mudança de sexo – é óbvio.
Isso é uma irresponsabilidade por parte dos adultos envolvidos, sobretudo Medalia e toda a indústria cinematográfica israelense que celebra desavergonhadamente as crianças trans.
*Nicole Russell é colaboradora do Daily Signal.
Deixe sua opinião