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O ministro da Educação, Abraham Weintraub, fala na CPAC.
O ministro da Educação, Abraham Weintraub, fala na CPAC.| Foto: Reprodução/ Twitter

Neste último sábado, 12 de outubro, terminou em São Paulo a versão brasileira da maior conferência conservadora dos Estados Unidos. O CPAC Brasil congregou alguns dos principais nomes conservadores brasileiros e norte-americanos em diversas palestras que trataram de temas caros à direita e que tiveram como objetivo propagar ideias e dar maior unidade e força ao conservadorismo brasileiro.

O evento foi aberto pelo documentário “A Última Cruzada”, do grupo Brasil Paralelo, produzido com o objetivo de resgatar a história imperial do país. No trecho exibido, o filme mostrava a carta do patriarca da Independência, José Bonifácio de Andrada e Silva, ao então Príncipe Regente do Brasil, Dom Pedro I, na qual o conclamava a ficar no país e recusar o ultimato português para que voltasse a Portugal. O ápice do vídeo, com a famosa frase “Diga ao povo que fico”, foi celebrado pelo público com uma salva de palmas, mostrando a força que este resgate histórico ganhou entre a direita, em especial entre conservadores.

Como participação destacada no evento, o grupo Brasil Paralelo exibiu no período da tarde e no início da noite outros dois trechos de seu documentário "1964: O Brasil Entre Armas e Livros". Neles, mostrou em perspectiva incomum: a atuação, em território brasileiro, da inteligência tchecoslovaca, STB, ligada ao Partido Comunista, além dos movimentos da contracultura dos anos 1960 e 1970 que lutavam contra "Ccenças, valores e tradições que se acumularam durante os séculos" da história ocidental.

Crítica à ditadura da razão

Após a abertura do evento, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, foi chamado ao palco para proferir o primeiro discurso do dia. O ministro abordou temas como conservadorismo e sua afinidade com o cristianismo, falou do socialismo e seus coletivos e destacou, em crítica, o Iluminismo francês como início do “mundo de hoje”", sob a figura de Voltaire e seus descendentes iluministas que "elegeram o lema de Liberdade, Igualdade e Fraternidade; liberdade para obedecer ao poder, fraternidade para eu tomar o que é teu e igualdade de todos diante da guilhotina", segundo o ministro.

Araújo criticou ainda a filosofia por trás do movimento que preconizou "o Deus da Razão, que é justamente o máximo da arrogância do ser humano", destacando que a razão não é um problema em si, desde que se entenda que ela "não ensina tudo e não rege tudo”. Assim, em sua fala o ministro apresentou um tema considerado importante para o conservadorismo, que compreende a razão como parte do ser humano e não o seu todo, isto é, o homem não é regido apenas pela razão e não consegue, apenas por meio dela, mudar a sua própria natureza e realidade em que vive.

Os interesses por trás da crise ambiental

Outro destaque do CPAC foi a palestra do Príncipe Imperial Dom Bertrand de Orleans e Bragança, que abordou os "interesses por trás da crise da Amazônia". Colocada em evidência nos últimos meses em decorrência das queimadas ocorridas no meio do ano na região e pelas declarações polêmicas do presidente francês Emmanuel Macron, que tratou a floresta como "nossa casa", a soberania do país foi abraçada pela direita na defesa contra possíveis interesses externos. Dom Bertrand foi tachativo e firme em seu discurso, destacando que existem interesses "econômicos escusos que não suportam o progresso (do Brasil), bem como cobiçam as nossas riquezas". "Nós temos que defender a Amazônia, custe o que custar", declarou ele com contundência.

Um dos momentos mais marcantes da conferência foi o discurso da Ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos. Em sua fala, a ministra apresentou, em tom de desabafo, os trabalhos feitos por sua pasta na defesa dos direitos humanos, que, segundo ela, "nunca foram tão discutidos no Brasil", a partir do entendimento de que a vida começa na concepção.

A ministra criticou a legalização do aborto, afirmando que "a nossa luta (conservadora) não acabou; está apenas começando" e que o governo do presidente Jair Bolsonaro veio para interromper "um ciclo de dor e de sofrimento" que se instalou no país.

Lideranças estrangeiras

Diversas lideranças americanas também tiveram papel relevante no evento, como Matt e Mercedes Schlapp (presidente da American Conservative Union e sua mulher, que atualmente trabalha na campanha de reeleição do presidente Donald Trump), e o comentarista da Fox News para assuntos de política externa Walid Phares. Phares, junto com o deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL), discutiu a situação do Oriente Médio e da Venezuela, destacando ainda que situações migratórias devem ser combatidas na raiz do problema, ou seja, atuando para que os países melhorem suas condições políticas, sociais e econômicas de forma que seus habitantes não tenham que buscar refúgio em outras nações.

O senador republicano Mike Lee também discursou para os brasileiros, citando o CPAC como a "Disneylandia dos conservadores". Apresentando um dos grandes princípios que norteiam a conduta conservadora perante o governo, ele recitou a célebre colocação do quarto presidente americano e um dos Pais Fundadores dos EUA, James Madison: "Se os homens fossem anjos, nenhum governo seria necessário. Se anjos governassem os homens, nem controles internos nem externos sobre o governo seriam necessários". A conferência recebeu ainda a jovem ativista conservadora americana Kassy Dillon, criadora do movimento Lone Conservative, que busca dar suporte a estudantes de direita para que tenham voz dentro dos campi universitário.

Diversos outros painéis tomaram conta do dia, falando de temas como os problemas e perversões do feminismo, na voz da deputada estadual catarinense Ana Campagnolo, e os riscos da política de aceitação de atletas transgêneros no esporte, tema abordado pela ex-atleta e medalhista olímpica de voleibol Ana Paula Henkel, que definiu a questão como um debate "não sobre inclusão, mas sobre exclusão" de atletas femininas por homens que tomam os seus lugares após a mudança de gênero.

Sensível aos americanos e atualmente no centro do debate brasileiro, o tema das origens das políticas desarmamentistas, suas consequências e como isso é tratado nos EUA foi apresentado pelo especialista em segurança pública Bene Barbosa. Além de apresentar dados comparativos sobre a queda no número de assassinatos a cada cem mil habitantes nos EUA e o resultado contrário no Brasil, fenômeno que, segundo o palestrante, estaria ligados à flexibilização do porte no primeiro caso e à restrição no segundo, Barbosa criticou aqueles que acreditam que “a única forma de se combater criminosos é criando leis restritivas, que os criminosos não vão obedecer".

Contra os monopólios

Para encerrar a noite, a conferência recebeu o ministro da Educação, Abraham Weintraub. Ao falar sobre totalitarismo, o ministro fez uma longa explicação de como monopólios privados favorecem a dominação do poder e a importância da classe média em seu conjunto como base da democracia.

Ao longo de todo o dia, o clima foi de celebração entre conservadores que escutavam as palestras, aplaudiam os convidados e entoavam cantos com frequência. No espaço entre o palco principal e a sala interativa, que recebia palestrantes em conjunto, havia ainda estandes disponibilizados pela organização do evento para e venda de broches e bandeiras do Brasil Império, além de livros como "Psicose Ambientalista", de autoria do Principe Imperial Dom Bertrand de Orleans e Bragança, "O Que é Conservadorismo", do filósofo britânico Sir Roger Scruton, "A Política da Fé e a Política do Ceticismo", do teórico político Michael Oakeshott, "O Jardim das Aflições", do filósofo Olavo de Carvalho, entre muitas outras obras sobre temas clássicos e atuais.

Para o ano que vem, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL), ao lado do casal Schlapp e do senador republicano Mike Lee, anunciou a realização de uma segunda edição do CPAC Brasil, em data ainda a ser divulgada.

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