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O “desalinho” do corpo de uma pessoa e sua identidade de gênero é um dos dogmas principais da ideologia transgênero | Pixabay
O “desalinho” do corpo de uma pessoa e sua identidade de gênero é um dos dogmas principais da ideologia transgênero| Foto:

Dr. Paul McHugh está otimista que a ascendência da ideologia transgênero seja uma tendência passageira. Ainda assim, os danos que a ideologia transgênero pode causar em apenas dez ou quinze anos – os hormônios, a cirurgia, as decisões irreversíveis, os corpos mutilados – são consideráveis.

Se confiarmos na opinião pública, viver como uma pessoa do sexo oposto é apenas uma variável saudável em um espectro, em vez de uma doença mental que precisa de tratamento sério. O que as pessoas transgênero precisam, de acordo com esse pensamento, não é escutar que estão iludidos e precisam de psicoterapia; é que a sociedade aceite-os como eles são, e que profissionais da medicina e da psicologia os ajudem a fazer a “transição” para o seu “gênero real”.

Há pouca evidência para sustentar tal alegação. Ainda assim, parece haver uma campanha determinada, encabeçada por ativistas e profissionais da saúde politizados, para reprimir ou ignorar qualquer divergência nessa questão, até mesmo entre as áreas médica e psiquiátrica.

O “desalinho” do corpo de uma pessoa e sua identidade de gênero é um dos dogmas principais da ideologia transgênero. A maioria das (ou talvez todas) pessoas transgênero sentem a necessidade de alterar os seus corpos fisicamente saudáveis – com cirurgia genital, hormônios, implantes mamários ou mastectomias – para refletir as suas identidades “reais”.

O que leva tantos médicos, psiquiatras e terapeutas a afirmar a transgeneridade em vez de negá-la? Onde está a evidência para apoiar essa prática clínica bizarra?

Onde está a evidência?

Você talvez se surpreenda ao saber que a evidência é extremamente insuficiente. Fomos levados a acreditar que há um consenso científico nessa questão: que a afirmação de gênero e a “transição” foram provadas cientificamente como as abordagens corretas para lidar com a transgeneridade tanto em crianças quanto em adultos. Isso parece ser em grande parte falso.

Há alguns anos, a empresa de consulta médica Hayes, Inc. publicou diversos resumos de uma série de estudos médicos e científicos que foram feitos com populações transgênero. Hayes, que se divulga como promotora de “melhores decisões em saúde utilizando evidências imparciais”, é um agente discreto, mas duradouro na área de evidências médicas. Desde a sua fundação em 1989, a Hayes “se tornou líder na indústria oferecendo pesquisas e análises imparciais, relevantes, com foco clínico e baseadas em evidências para planos de saúde, seguradoras, hospitais, sistemas de saúde, organizações de assistência e agências governamentais”.

Os relatórios da Hayes são as acusações condenatórias da indústria transgênero que você nunca ouviu falar. Para conseguir acesso aos relatórios, tive algumas dificuldades; a Hayes, Inc. não respondeu aos meus pedidos, e na verdade não respondeu a nenhum dos meus questionamentos, me deixando apenas com a opção de procurá-los em outro lugar. Eventualmente, um médico compreensivo me ofereceu algumas cópias. O que eles revelaram foi, para dizer o mínimo, chocante.

Os relatórios, publicados entre 9 e 19 de maio de 2014, analisam os três tipos principais de tratamento médico mais procurados por pessoas transgênero: “cirurgia de ressignificação de sexo”, “terapia hormonal” e “serviços e procedimentos auxiliares”. Os relatórios se apoiam na literatura de publicações científicas ao longo de pelo menos uma década de estudos e se preocupam com resultados desde “bem estar psicológico” e “satisfação e função sexual” até “resultados de segurança” e “qualidade de vida”.

Apesar de as pesquisas apontarem algumas mudanças positivas pós-tratamento em grupos de pacientes – digamos, uma melhoria na qualidade de vida de alguns indivíduos que passaram por “cirurgia de ressignificação de sexo” e uma redução na ansiedade e depressão de alguns pacientes submetidos a “terapia hormonal” – a “qualidade de evidência” geral para todas as categorias de tratamento foi classificada como “muito baixa”.

As avaliações de baixa qualidade foram dadas por uma variedade de motivos: “limitações de estudos individuais”, “falta de randomização de pacientes para grupos de tratamento”, “falta de controle para fatores de confusão”, “intervalos de retorno curtos ou desconhecidos”, “duração de retorno variável”, “possível tendenciosidade na seleção e retorno”, “falta de mensurações objetivas e validadas dos resultados”, “falta de avaliações cegas dos resultados”, “falta de dados de base para mensurações de resultados autoavaliados” e muitos outros. Em outras palavras, parece haver pouca evidência para apoiar os planos de tratamento propostos pelo zeitgeist médico transgênero moderno.

Disforia de gênero em crianças

Essa escassez preocupante de evidências seria suficientemente alarmante se esse fenômeno fosse limitado apenas a adultos. Mas nos últimos anos, ativistas transgênero estabeleceram sua visão em incentivar as crianças a abraçarem as suas identidades transgênero.

A Endocrine Society, uma organização médica profissional com sede em Washington, DC, estipulou recentemente que crianças menores de dezesseis anos podem começar terapia de tratamento hormonal com segurança, apesar de sua própria pesquisa indicar que não há dados suficientes para apoiar essas recomendações. Em uma “Diretriz de Prática Clínica” recente que pesquisa o estado do “Tratamento Endócrino de Pessoas Gênero-Disfóricas/Gênero-Incongruentes”, a Endocrine Society apresentou um “Sumário de Recomendações” detalhando como os médicos e profissionais de saúde mental deveriam tratar pessoas que sofrem com disforia de gênero. A Society classifica cada uma das suas recomendações em uma escala de quatro pontos de qualidade de evidência: “muito baixa”, “baixa”, “moderada” ou “alta”.

Nenhuma das diretrizes é apoiada por evidência de “alta” qualidade. Das vinte e duas recomendações, apenas três tiveram pontuação “moderada”. O resto foi “baixa” ou “muito baixa”.

Entre as recomendações que tiveram pontuação “baixa” estão aquelas de que adolescentes sofrendo com disforia de gênero deveriam “passar por tratamento para suprimir o desenvolvimento puberal”; que pessoas de dezesseis anos deveriam ter permissão para passar por terapia hormonal “parcialmente irreversível”; e que crianças menores de dezesseis anos deveriam ter permissão para passar por terapia hormonal em alguns casos. Algumas dessas avaliações muito baixas incluem permitir que os indivíduos passem por “cirurgia genital” e “cirurgia mamária”.

As diretrizes também fazem diversas recomendações não avaliadas para as quais “evidência direta (...) estava indisponível ou não foi considerada e aprovada sistematicamente no escopo dessa diretriz”. Entre essas declarações não avaliadas: a sugestão de que os clínicos considerem se histerectomias (remoção do útero) e ooforectomias (remoção dos ovários) são “medicamente necessárias” como parte da “cirurgia de afirmação de gênero”. Ou seja, a Society não dá nem a nota mais baixa na sua escala evidenciária para a diretiva médica cirúrgica que torna as mulheres permanentemente e irreversivelmente estéreis.

Um junho do ano passado, o American College of Pediatricians publicou um estudo chamado “Gender Dysphoria in Children” (“Disforia de Gênero em Crianças”, em português) que afirma que há uma “uma discussão intensa, embora suprimida, entre médicos, terapeutas e acadêmicos em torno do que está rapidamente se tornando o novo tratamento padronizado da DG [disforia de gênero] em crianças”.

Contrariando a tendência cada vez maior de usar terapia hormonal para tratar crianças com disforia de gênero, o College afirma que:

“uma revisão da literatura atual sugere que esse protocolo se baseia em uma ideologia de gênero não científica, que ele carece de uma base de evidências e que viola o princípio ético duradouro de ‘em primeiro lugar, nunca causar dano ou mal’”. 

“Não existe um único estudo controlado grande e randomizado”, aponta o College. “Que documente os alegados benefícios e potenciais danos da supressão da puberdade e de décadas de tratamento hormonal dados a crianças e adolescentes com disforia de gênero. Tampouco existe um único estudo grande, randomizado, controlado e de longo prazo que compare os resultados de diversas intervenções psicoterapêuticas em casos de DG infantil com os resultados da supressão da puberdade seguida por décadas de ingestão de esteroides sintéticos tóxicos.”

Percebendo a proliferação de clínicas transgênero e médicos adeptos de afirmação transgênero no país nos últimos anos, o College aponta os níveis assombrosos de disforia de gênero persistente entre pacientes jovens submetidos a supressores de puberdade:

“Em um estudo de acompanhamento de seus primeiros candidatos pré-púberes a receber tratamento de supressão da puberdade, De Vries e colegas documentaram que todos os sujeitos acabaram por adotar identidade transgênero e a pedir hormônios do sexo oposto. É preocupante. Normalmente 80% a 95% das crianças pré-púberes com DG não continuam a apresentar DG. O fato de que 100% das crianças pré-púberes tenham escolhido tomar hormônios do sexo oposto sugere que o próprio protocolo conduz o indivíduo inevitavelmente a identificar-se como transgênero. Existe algo evidentemente autorrealizado quando incentivamos uma criança com DG a fazer-se passar socialmente por uma pessoa do sexo oposto e depois instituímos a supressão de sua puberdade. Em vista do fenômeno amplamente constatado da neuroplasticidade, o comportamento reiterado de fazer-se passar pelo sexo oposto vai alterar de alguma maneira a estrutura e função do cérebro da criança, potencialmente de uma maneira que reduza a probabilidade de sua identidade alinhar-se com seu sexo biológico.”

“O tratamento da DG infantil com hormônios”, declara o College. “Equivale, na prática, à realização de experimentos em massa e esterilização de crianças e adolescentes que são cognitivamente incapazes de dar seu consentimento informado.”

Reformulando heterodoxia como ódio

Dra. Michelle Cretella, presidente do American College of Pediatricians e autora principal do estudo sobre disforia de gênero em crianças citado acima, diz que as cartas estão contra os profissionais que querem contrariar o posicionamento atualmente na moda sobre transgeneridade.

“Não apenas há uma falta profunda de diversidade de visões filosóficas entre os docentes dos cursos de medicina e associações profissionais médicas”, disse. “Mas também ativistas transgênero convictos – alguns deles identificados como trans – conquistaram posições de autoridade permitindo a eles moldarem os padrões atuais de tratamento.” 

Nesse contexto, segundo Cretella, “ninguém tem liberdade para discordar sem punição”. Tais punições variam desde “ser passado para trás em promoções” e “perder posições de presidência” a sofrer “perda de verbas de pesquisa” e ser submetido a “assédio grave por colegas e ameaças de morte por ativistas”.

“E essa censura continua”, diz. “Até mesmo quando aqueles médicos ‘especialistas’ admitem que as suas recomendações não têm evidências científicas de longo prazo para sustentá-las.”

Consideremos o exemplo de Paul McHugh, médico renomado que foi atacado por sua posição em relação a disforia de gênero. Dr. McHugh, professor notável de psiquiatria na Johns Hopkins Medical School, foi por vinte anos o Psiquiatra Chefe no Johns Hopkins Hospital. De acordo com ele, tem vasta experiência observando e interagindo com pessoas que se identificam como transgênero. Em 1979, ele fechou a clínica de identidade de gênero no Johns Hopkins, alegando que os tratamentos oferecidos não eram eficazes para ajudar pessoas com disforia de gênero.

A heterodoxia contínua de McHugh sobre ideologia transgênero – ele falou publicamente sobre a sua crença de que seria profundamente falha e equivocada – provocou a ira implacável de ativistas progressistas em todo o país. A Human Rights Campaign dedica um site inteiro a “expor” McHugh, acusando-o de promover “pseudociência” para “ativistas anti-LGBT”.

O Daily Beast acusou diretamente McHugh de ser “anti-LGBT”. O ThinkProgress alegou que “os socialmente conservadores dependem de McHugh para justificar o seu ódio antitransgênero”. O Slate chamou-o de “um dinossauro” com “visões anti-LGBTQ ultrapassadas”. O Huffington Post acusou McHugh de “colocar em risco as vidas de jovens transgênero”.

“Eles tentam te impedir de qualquer jeito que puderem”, disse McHugh em entrevista por telefone quando eu perguntei sobre as críticas geralmente perversas contra ele. “Eles te classificam como uma pessoa odiosa. Eles tentam fazer com que a sua universidade seja demovida.” McHugh alega que há muitos outros profissionais que têm convicções como as dele sobre a questão da transgeneridade e que estão mantendo-se calados. “Há muitas pessoas que concordam comigo”, diz. “Mas que não querem vir a público. Eles temem que as dificuldades não valham a pena.”

Esse não é um medo irracional. Considere o caso de Dr. Kenneth Zucker. Por muitas décadas Zucker esteve à frente da Child Youth and Family Gender Identity Clinic (GIC) de Toronto. A clínica foi alvo de controvérsias devido à sua abordagem cuidadosa em identificar e tratar disforia de gênero: em vez de ir em frente com força total quando uma criança sofre com disforia de gênero, os psiquiatras e clínicos da GIC eram mais circunspectos, conscientes da possibilidade de que uma maioria esmagadora de crianças acabam “desistindo” ou abandonando a sua identidade transgênero.

De acordo com relatos confiáveis, a GIC sob o comando de Zucker era um ambiente aconchegante, acolhedor e terapêutico. Mas a abordagem cautelosa da clínica em relação a afirmação transgênero provocou a ira de ativistas; uma avaliação externa da clínica eventualmente levou à demissão de Zucker de seu cargo duradouro na organização, para a alegria dos partidários transgênero. Ainda assim, em um artigo fantástico publicado na New York Magazine no ano passado, Jesse Singal detalhou as acusações completamente falhas e frágeis que levaram a uma mancha na imagem de Zucker e sua demissão. A avaliação externa em si acabou sendo um documento descuidado e não verificado que tomou como verdade as acusações contra Zucker sem verificá-las.

Além de tais campanhas de descrédito e suas ramificações profissionais, há um esforço discreto, mas crítico para criminalizar a discordância profissional sobre a questão da identidade de gênero – não apenas como uma questão de debate público, mas como uma questão de prática privada.

O Therapeutic Fraud Prevention Act, colocado em discussão no Congresso para abril deste ano, proibiria expressamente que profissionais de saúde mental tentassem “mudar a identidade de gênero de outra pessoa”. Se o TFPA for aprovado, profissionais de saúde que tentarem oferecer tratamento psicológico para pacientes com disforia de gênero para ajudá-los a aceitar a sua identidade corporal serão tratados como criminosos pelo governo federal dos Estados Unidos.

Motivo para otimismo?

Ainda assim, Paul McHugh está otimista – mais otimista, na verdade, do que seria esperado de um homem que passou os últimos anos sendo atacado como um médico nazista maligno. “Isso já aconteceu antes”, disse. “Essa não é a única mania psiquiátrica que eu me envolvi. As ‘memórias recuperadas’ de abuso sexual infantil nos anos 90 tinham exatamente o mesmo tipo de pressão por trás delas. As pessoas insistiam que seria melhor não falar contra isso porque seriam considerados defensores de pedofilia.”

No passado, conforme McHugh destaca, ativistas “se apoiaram na psiquiatria para defender coisas que são indefensáveis”. A psiquiatria, segundo ele, “entra em uma mania a cada vinte ou vinte e cinco anos. Eles sempre fazem isso pelos mesmos motivos (...) Teve o negócio da eugenia com [o apoio a] Wendell Holmes, as lobotomias frontais que ganharam o Prêmio Nobel, a mania da psicanálise com o aumento de psicanalistas europeus (...) e agora essa.”

Essas manias não duram para sempre, segundo McHugh.

“Elas duram dez ou quinze anos. Eventualmente elas caem. E é isso que acontecerá aqui.” 

Ele provavelmente está certo. Mas os danos que a ideologia transgênero pode causar em dez ou quinze anos – os hormônios, a cirurgia, as decisões irreversíveis, os corpos mutilados – são consideráveis. Quando esse zeitgeist cair, seremos deixados com milhares e milhares de indivíduos cujas vidas terão sido alteradas para sempre por uma tendência passageira. O que diremos a eles então? E o que os promotores e incentivadores dessa tendência dirão para se defenderem?

Daniel Payne é editor assistente no The College Fix, site de notícias diárias sobre ensino superior que treina jovens estudantes repórteres no ofício do jornalismo. O seu trabalho apareceu em The Federalist, National Review Online, Reason, Front Porch Republic, entre outros. Ele mora na Virginia e é autor do blog Trial of the Century.

©2018 Public Discourse. Publicado com permissão. Original em inglês

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