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A Espreguiçadeira com Balanço, de Oscar Niemeyer, dos anos 1970 | Fotos: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
A Espreguiçadeira com Balanço, de Oscar Niemeyer, dos anos 1970| Foto: Fotos: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
  • Poltrona Chifruda, de Sérgio Rodrigues, de 1962: transmite o espírito brasileiro de despojamento
  • Armário de Partituras em madeira ebanizada, de Gregori Warchavchik, do fim dos anos 1920
  • Sofá Conversadeira, dos anos 1930, por Lasar Segall. O design da peça, de madeira ebanizada e couro, permite várias disposições
  • Poltrona Pelicano, de Michel Arnoult. Produzida no fim dos anos 1950, era desmontável e vendida em supermercados
  • Cama Infantil, de Gregori Warchavchik, projetada no fim dos anos 1920 para o filho
  • Geórgia Hauner com a cadeira feita pelo marido, Ernesto Hauner, nos anos de 1960. A peça retrata a simplicidade e funcionalidade buscadas por Ernesto

Móveis de linhas simples e modernas, sem enfeites desnecessários. "A procura pela simplicidade, pelo despojamento, a aproximação da beleza com a funcionalidade", diz Sergio Campos, sociólogo, pesquisador de arte e proprietário da Arte­mobilia Galeria, em São Paulo. Parece a descrição de peças de jovens designers, mas são características das criações dos precursores da identidade do mobiliário brasileiro, nascidos entre o final do século 19 e antes da metade do século 20.As peças projetadas por esses arquitetos, desenhistas e marceneiros, que transformaram a estética dos móveis brasileiros, poderão ser conferidas até o dia 28 de novembro na exposição Os Modernos Brasileiros +1, paralela à Bienal Brasileira de Design 2010 Curitiba, no Museu Oscar Niemeyer. São 58 obras, entre cadeiras, mesas, poltronas, aparadores, armários, cama e escrivaninhas, lado a lado, assinadas por Oscar Niemeyer, Gregori Warchavchik, Lasar Segall, John Graz, Flávio de Carvalho, Vilanova Artigas, Carlo Hauner, Geraldo de Barros, Giuseppe Scapinelli, Jean Gillon, Joaquim Tenreiro, Jorge Zalszupin, Lina Bo Bardi, Michel Arnoult, Sérgio Rodrigues, Zanine Caldas, Ernesto e Geórgia Hauner, Paulo Mendes da Rocha e Carlos Motta, este último referenciado com o "+1" no nome da exposição, porque deu continuidade ao mesmo estilo de trabalho, com materiais brasileiros, sempre atento a questões de sustentabilidade.

Os quesitos para escolher as peças que fariam parte da mostra foram o valor sentimental e o quanto representavam a mudança e a inovação propostas na época, explica Consuelo Cornelsen, que assina a curadoria com Ser­­­gio Campos. A pesquisa foi feita com alguns criadores e com familiares dos profissionais falecidos. "Por isso, digo que a curadoria foi feita a várias mãos, porque todos ajudaram, mostraram aquilo que sentem com a peça. Quis uma mostra que retratasse a emoção do objeto, todo o envolvimento de quem fez", diz Consuelo.

Exemplo da "emoção do objeto" é a Cama Infantil em formato de barco, feita de madeira e pintada de branco, criada pelo arquiteto ucraniano Gregori Warchavchik (1896 - 1972) para o filho, no final dos anos de 1920. Cedida pelo neto de Warchavchik, Carlos Warchavchik, a peça serviu a três gerações da família. "Esse é o valor da peça, estava na casa deles, quase ninguém viu", diz a curadora.

História

Sergio Campos afirma que o intuito básico da exposição é mostrar a ruptura com o modelo europeu de mobiliário, ocorrida, principalmente, a partir da década de 1930. Na época, as peças com ornamentações e tecidos pesados, que levavam o nome de reis e rainhas do continente, já não combinavam mais com a arquitetura limpa que ganhou força após a Semana de Arte Moderna, de 1922, em São Paulo. "Os arquitetos tiveram de criar seus próprios móveis, para que fizessem sentido com suas obras", diz Campos. Geór­­­­gia Hauner, designer de interiores e esposa de Ernesto Hau­­­ner (1931 - 2002), comenta que os móveis com o estilo rebuscado europeu, além de não condizerem com os projetos arquitetônicos que começaram a ser feitos, também não combinavam com o estilo de vida que se iniciava. "O móvel simples é mais apropriado para a vida social moderna. As reuniões são menos formais, assim como a maneira de sentar, de conversar."

Esse grupo de arquitetos, desenhistas e marceneiros, muitos vindos da Europa após a Segunda Guerra Mundial, seguiam as novas propostas do estilo Art Deco francês e do estilo Bauhaus alemão, em que o "menos é mais", e foram incorporando a cultura e a matéria-prima brasileiras em suas criações, modificando o que era considerado moderno pelos europeus. Como diz Ronaldo Duschenes, arquiteto, designer e presidente da Flexiv – empresa especializada em móveis para escritório –, "o móvel moderno europeu era muito racional, objetivo. O europeu senta reto. O brasileiro se relaxa. É outro móvel."

As peças

Quem visitar a mostra, será recepcionado na sala Miguel Bakun do museu por duas peças do arquiteto Oscar Niemeyer: o Banco Marquesa, de madeira laminada e ebanizada, com assento em palhinha – uma das estrelas brasileiras da época –, dos anos 1970, e a Espreguiçadeira com Balanço, do mesmo período, feita com madeira vergada e ebanizada, com o encosto em palhinha.

A Escrivaninha Infantil com Cadeira, do final dos anos 1920, que compunha, com a cama em formato de barco, o quarto do filho de Warchavchik, também está na mostra. O desenho é moderno, feito com madeira e metal e, de acordo com Ronaldo Duschenes, com cálculo perfeito dos pontos de apoio. "Ele [Gregori Warchavchik] teve o cuidado de deixar o ponto de apoio da cadeira ligeiramente para trás, com uma curva suave, para que a pessoa não tombasse facilmente", aponta, ao analisar o móvel. O Armário de Partituras em formato de leque, de madeira ebanizada, do final dos anos 1920, é outra peça do ucraniano que pode ser vista. Consuelo destaca o design, que permite que seja uma mesa lateral, que comporte livros, revistas, partituras, "uma infinidade de itens."

Mais adiante, a Escrivaninha da arquiteta italiana Lina Bo Bardi (1914 - 1992), dos anos 1940, chama a atenção. Feita de madeira com detalhes em metal, o móvel comporta três gavetas, mas com várias separações, como porta-copos e porta-canetas, proporcionando aproveitamento de espaços e funcionalidade. O Sofá Con­­­versa­­­­deira, de madeira ebanizada e couro, feito nos anos de 1930 por Lasar Segall (1891 - 1957), artista nascido na Lituânia, e a poltrona de compensado do arquiteto Vilanova Artigas (1915 - 1985), revestida com peroba e com assento feito com tiras de couro, de 1948, são outros destaques da mostra, para Consuelo. São ressaltadas também as poltronas Pelicano e Pag Lev, do final dos anos 1950 e de 1972, respectivamente, assinadas pelo arquiteto e designer francês Michel Arnoult (1922 - 2005). Ambas desmontáveis, podiam ser compradas em supermercados, afirma Consuelo.

No espaço dedicado ao arquiteto e designer carioca Sérgio Rodrigues, a Poltrona Chifruda representa o despojamento procurado na época. A peça foi criada em 1962, para uma exposição de móveis como objetos de arte que Rodrigues promovia em sua loja no Rio de Janeiro, a OCA. "Como dono da loja, precisava expor alguma coisa", brinca ele, que também é responsável por um dos símbolos da nova era de móveis brasileiros, a Poltrona Mole. "Sempre procurei a brasilidade em meus móveis. Claro que ser brasileiro e criar no Brasil já é meio caminho andado. Mas o uso de materiais brasileiros, da madeira brasileira, é de grande ajuda na hora de transmitir o espírito do país naquela época", diz Rodrigues.

Serviço:

Até 28 de novembro na sala Miguel Bakun do Museu Oscar Niemeyer, que fica na Rua Marechal Hermes, 999, Centro Cívico. De terça-feira a domingo, das 10 às 18 horas. Os ingressos custam R$ 4 (inteira) e R$ 2 (estudantes identificados), e podem ser comprados até 17h30. Informações: (41) 3350-4400.

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